Trilha deste capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=I-vbyIkkHiQ
Bia conseguiu um match no Tinder.
Estava na cozinha, e ouviu, lá da sala, a sonoplastia típica
do aplicativo quando duas pessoas se interessam. Quase não reconheceu o som da
notificação.
Fazia muito tempo. Que fase.
E para sua surpresa, o homem puxou assunto.
Ficou louca. Um loba na seca.
- Oi.
Disse ele, lacônico.
- Olá, moço. Reparei em muitas coisas sobre você, mas
primeiramente na camiseta dessa banda de folk que eu sempre gostei.
Bia até que se virava bem na internet, sempre passava a
imagem de ser segura, divertida, culta. E era. Mas era tímida, e ao vivo sempre
parecia outra pessoa.
- Você é mais falante pela internet.
Falavam seus pretendentes. Todos.
E por mais que se soltasse no decorrer do encontro, voltava
pra casa com a certeza de que não mais veria o homem.
- Porra Marcela, por que me julgam tanto? Por que não podem
levar em consideração que ao vivo é mais difícil? Que por mais inconsciente que
seja, num papo pela internet a gente sempre vai mostrar o que temos de melhor? E
que isso não é ruim, mas só uma forma de lidar com o meio que a gente tá
inserido?
Marcela não sabia o que responder. Ficou comendo um copo de
iogurte grego em pé na porta da cozinha.
Bia chorava. E no meio dessa súbita crise parou de responder
o novo contato e deletou o Tinder.
Mas iria reinstalar dias depois.
***
Naquele final de tarde Marcela resolveu enfrentar fantasmas
e entrar na cafeteria que frequentava com Romeu, o falecido.
Tudo estava do mesmo jeito.
As mesas com toalhinhas vermelhas.
Os vasos de barro com arranjos de alguma flor qualquer que
nunca eram iguais.
Os abajures na parede.
A iluminação difusa.
O cheiro de café e condimentos.
Podia ser um pesadelo entrar novamente ali. Voltar para o
fundo do poço e reencontrar Samara. Mas precisava, de uma vez por todas,
eliminar tudo o que lembrava o falso galã shakespeariano.
- Qual a senha do wifi?
Perguntou para a atendente, pois havia trocado de celular e
esqueceu.
- A senha é cupcake.
- Como escreve isso mesmo?
- Cupicaque, porém com pê mudo e k no lugar do queú.
Abriu o Foursquare para fazer check-in.
*O prefeito está na casa*
Era um cliente, chamado Márcio. Ele também havia escrito uma
dica. Era bonitinho.
Marcela olhou em volta para ver onde Márcio estava. Mas não
o reconheceu, a foto estava com muita sombra e filtro de Instagram.
A dica dizia:
“Um dos melhores cappuccinos da cidade. Peça também o
croissant com geleia de pimenta.”
Era o pedido favorito de Marcela. Ironias.
Outro atendente se aproximou ao seu sinal.
- Por favor, um cappuccino e um croissant com geleia de
pimenta.
- É o meu favorito.
Disse ele.
Só então Marcela reconheceu. O funcionário era Márcio, do
Foursquare. O prefeito. Com muitos amigos, muitos check-ins e muitas badges.
Ela riu.
Ele riu.
E Marcela, estúpida como toda pessoa fragilizada e carente,
cercada por tantas coisas que lembravam Romeu (esse sim merecia morrer
envenenado, pensou), entre elas as canecas, os aromas e os ruídos da máquina de
café, não conseguiu evitar lembrar-se da letra de uma música que dizia: “Esses
são fantasmas que partiram meu coração antes de eu te conhecer.”
"Quem és mero detalhe, perto da carência sem fim...
ResponderExcluir"Rolou uma identificação com a Marcela...
O foda é que essa turma estúpida costuma ser a primeira a se machucar.
Mas pelo menos possuem algo que nem todos tem.
A percepção aguçada para aqueles momentos. Eles conseguem enxergar a sensibilidade em várias coisas "entre elas as canecas, os aromas e os ruídos da máquina de café..." E lá se vai o coração de novo... hahaha
Hey, já te curto no face: https://www.facebook.com/denys.aguiar
E agora vi seu blog, estou amando! *----*
Vou fuçar seus textos, e desculpe a tietagem.
Abraços Dú
Hey Denys!!
ExcluirMuito obrigado pelo comentário, fico muito feliz que está curtindo :D
Fique a vontade e, qualquer comentário, é só chegar!
Ricardo
Amei, estou adorando o texto!!
ResponderExcluirJá estou triste por saber que vão ser só 5 capítulos!!
Quero mais!!
~Athene