segunda-feira, 2 de junho de 2014

Amores WI-FI - SEASON PREMIERE




Previously, on Amores WI-FI:

Naquele final de tarde Marcela resolveu enfrentar fantasmas e entrar na cafeteria que frequentava com Romeu, o falecido.
*O prefeito está na casa*
O prefeito era Márcio, funcionário do café.
- Por favor, um cappuccino e um croissant com geleia de pimenta.
- É o meu favorito.
Ela riu.
Ele riu.

***

Bia queria dizer muitas coisas para Eduardo. Que tudo o que fez e falou durante a noite inteira não era sobre a verdadeira Bia. Queria dizer que estava estrategicamente montada sobre um personagem, que mostrou o seu melhor lado, milimetricamente pensado, porque estava se esforçando para agradar. Mas nada disse.

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Temporada 2
Episódio 1 – O amor está vivo!
(Capitulo especial estendido)




Sexta-feira, e Bia acordou muito mais cedo que o comum.
Totalmente improvável sequer acordar, mas acordava.
Programou o despertador para tocar com uma música que falava: o amor está vivo.
Pulou da cama dançando. E mesmo com a temperatura ainda amena, saiu pelo apartamento usando apenas uma bermuda velha e uma camiseta de dormir.
Marcela, em seu quarto, abriu os olhos, mas não deu importância. Estava amarga demais pra qualquer coisa logo cedo.
Bia estava num raro momento de exaltação, de uma felicidade não contida, sem nenhuma razão.
Ergueu os braços pra cima, igual àquelas pessoas consumidas pelo efeito de “balas” na pista de uma balada gritando: É MINHA MÚSICA!
Com os braços pra cima lembrou-se que os últimos meses a colocaram em uma rotina fora do comum.
A música acabou.
Bia caiu sentada no chão.
Foram meses de insatisfação pessoal, de azar nos relacionamentos. Isso já tinha, mas quando as coisas se acumulam, ganham outra dimensão. Estava vazia por dentro.
E achou que podia ser esse o motivo da felicidade. Estava vazia, pronta para preencher com alguma coisa que lhe fizesse bem.
Homens? Eles não seriam o ingrediente principal. Mas com certeza um condimento secundário, afinal, toda receita deve ser divertida de executar.
“Sim, o amor está vivo.”

***

*Notificação do Whatsapp*
Marcela havia dormindo novamente. Era cedo ainda. E acordou outra vez no susto, porque tinha sono leve.
Era Tina, ex-colega de trabalho. Por que escrever tão cedo? Talvez estivesse chegando de alguma festa.
Tina estava solteira e desempregada, numa dessas épocas da vida que os acontecimentos ruins esperam um momento único para trollar a pessoa.
Tina: oiiiiiii
Tina: Tudo bem?
Marcela: Tudo bem, e vc?
Tina: Tudo bem. Olha só, hoje é sexta, tem aquela festa legal que te falei.
Marcela: Que festa?
Tina: -_-
Tina: Te mandei o evento no Facebook! Vai ser de world music!
Marcela sentiu o desânimo corroer seu corpo.
E pensou também que não era possível Tina sair todo final de semana sem emprego.
Marcela: Ai não sei, vou ver.
Tina: Aff
Tina: Vamos, chama a Bia
Tina: minha mãe me emprestou uma grana e consegui uns frees, não vou pedir nada emprestado
Marcela: Vou pensar, te falo depois do almoço
Tina: Tá, bjo
Antes de fechar o Whatsapp, Marcela viu aquela mensagem não lida.
A mensagem de Márcio, há meses marcada inconvenientemente como não lida.
Poderia ter apagado sem ler, mas preferiu deixar ali. Não tinha coragem para apagar, e nem coragem para desvendar o seu conteúdo. Coisa inexplicável pra qualquer pessoa, mais ainda em se tratando de uma mulher querendo responder dúvidas sentimentais dela própria.
E nunca mais pisou no café.
No início sentia saudades e vontade de ir até lá rever Márcio, mesmo que fosse apenas passando pela calçada, mas hoje a saudade do croissant com geleia de pimenta é muito maior. E apenas por isso, incluindo o desgaste, achou que seria melhor não.


***


Algumas horas depois, na hora do almoço, Bia estava de bobeira no Facebook confirmando presença em eventos fakes quando uma janelinha de chat subiu de repente, quase de forma violenta.
Era Eduardo.
Depois de meses, um sinal de vida.
Na verdade, depois do first date desastroso, Bia voltou a falar com o pretendente. O chamou pra jantar algumas vezes. Eduardo confirmava. Mas na hora de combinar ficava semanas sem responder. Então resolveu deixar a história de lado e seguir com a vida.
Mas hoje ele puxou assunto.
- Oi Bia, tudo bom?
Bia sentiu aquele frio no corpo que só o nervosismo dá. Não estava preparada. Ajeitou o cabelo, num reflexo estúpido, como se ele pudesse vê-la sem nenhuma câmera estar ligada.
- Oi, Tudo bem sim.
Escreveu, rapidamente. Se estivesse numa conversa ao vivo, ficaria muda.
- Quanto tempo. Ainda tá de pé aquele convite para jantar?
- Claro que está.
Respondeu, com raiva por nem ao menos criar um pouco de dificuldade. Mas estava cansada desses jogos de charme, cada vez mais frequentes entre quem se conhece por aplicativos de namoro, etc.
- Vamos combinar semana que vem então.
Disse ele.
- Certo, combinamos.
E Eduardo ficou off.
Ficou um tempo parada na frente do computador. Numa mistura de alegria, ansiedade e raiva.
Por que tantos meses depois?
“Devia estar com outra, foi dispensado e ficou tentando com várias até chegar no meu nome na agenda de contatos”, pensou.
Bia preferia pensar sempre no pior.
“Mas podia ser apenas vontade de me ver de novo”.
Afinal, B de Bia vem logo depois do A. Por outro lado, ele podia conhecer um monte de Amandas, Anas, Adrianas...
Apesar das dúvidas, ficou com uma sensação forte de que o amor poderia, sim, estar vivo. Como sentiu logo cedo.


***

Marcela estava nos últimos 15 minutos do horário de almoço quando pegou o celular para responder se ia ou não na festa com Tina. 
Criou um grupinho rápido entre ela, Tina e Bia para falar sobre o assunto.
*Renomear conversa: festinha com a Tina*
Marcela: Oi meninas, sobre a festa de hoje, eu topo
Marcela: Tina já me convidou várias vezes e nunca fui, não custa conhecer né
Tina, que já estava online:
Tina: EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
Tina: <3 p="">
Bia: Vamos sim! Não tinha programado nada hoje.
Marcela: Certo!
Marcela: Falamos depois então, tenho que voltar para o trabalho.
Marcela: Bjos
Tina: Bjos lindaaaaaaas!
Odiava quem escrevia alguma palavra de forma muito prolongada.
Bia: Até depois!
Voltou para as mensagens.
E deu de cara com a mensagem não lida.
Num lampejo de astúcia, Marcela clicou, enfim, na mensagem.

E se deparou com uma longa mistura de palavras, emojis e caracteres desenhados com letras, números e acentos. 

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