terça-feira, 10 de junho de 2014

Amores WI-FI - Temporada 2 Capítulo 7: De Volta pra Casa




Temporada 2
Capítulo 7 – De volta pra casa





Marcela avistou Márcio.
E nada sentiu.
Ficou olhando por alguns instantes através do vidro. A fumacinha do café lhe deu saudades também, porém Márcio nem uma fisgadinha sequer no peito lhe provocou.
Mas bastou ele olhar para a sua direção que a sensação de chão desaparecendo chegou.
Correu da frente do café. Não sabia dizer se Márcio percebeu que ela estava ali, mas o fato é que não estava tão imune assim quanto pensava.
Agora tinha novos fantasmas para exterminar.
Chegou em casa sob um sentimento de derrota.
O que fazer nessa situação? Sim, comer um pote de sorvete.
Foi até a geladeira e pegou um pote de chocolate.
Mas era feijão.
“Bia, sua desgraçada!”.
Nem engordar em paz podia.
Ficou remoendo o fato por um bom pedaço da noite, mas aí lembrou que havia Arthur.
Arthur estava interessado, querendo bons momentos com ela, sem cobranças, sem forçar a barra.
E assim, feito um controle remoto, mudou o canal da sua programação. De um estado de O Diário de Bridget Jones, passou para Duro de Matar.
Mas, por dentro, bem no fundo, ainda estava sem saber para onde ir.

***

Eduardo e Bia saíram do restaurante.
Estava mais frio, por isso Bia falava e saía fumacinha de sua boca. Sentiu-se ridícula por achar aquilo engraçado, mas não comentou, apenas pensou.
Eduardo morava perto do restaurante, por isso foram caminhando até seu apartamento. Bia estava temerosa, já havia sido assaltada algumas vezes, mas desencanou.
Durante o trajeto pouco falaram. Bia não achou bom sinal.
Em poucos minutos estavam diante do prédio.
Bia achou que já seria agarrada no elevador, mas pelo distanciamento, começou a acreditar que Eduardo realmente quisesse apenas ver novela.
Quando entraram no apartamento, que era bem pequeno, Eduardo desculpou-se pela bagunça. Bia não estava nem aí para a bagunça.
Sentaram-se no sofá e ainda estava passando a novela. Assistiram quase todo o tempo em silêncio.
Bia ficou com sede.
E com vontade de fazer xixi.
E com dor de estômago.
Pediu para ir ao banheiro. Chegou lá, jogou um pouco de água na cara, sacudiu os cabelos.
Voltou para a sala, e não demorou muito para Eduardo pegar na sua mão.
“Puta que pariu, que mão enorme.”
Nem olhou para sua cara. Continuou olhando para a TV, rindo da novela.
A novela acabou.
“Que merda, por que estou tensa?”
Olhou para o lado.
“É agora que a gente vai se beijar, senhor!”
E enfim, estava beijando Eduardo. Notou que Eduardo também tinha um rosto enorme. Um rosto lindo. E beijava bem. O pior medo que Bia tinha era de homem que beijava mal. Sua teoria era de que, se o homem beija mal, também trepa mal.
- Vamos ficar um pouco no quarto?
Bia sentiu vontade de rir. Vamos ficar um pouco no quarto is the new quero trepar com você.
Mas foi, claro. Tirou seus sapatinhos de plástico com borracha e deitou na cama. Eduardo veio, todo se querendo, todo macho alfa.
Mas por algum motivo, Bia não estava mais tão encantada.
Ele estava querendo sexo, e enquanto se preparava para tirar a roupa, Bia falou.
- Eduardo, desculpa, mas... Tenho que ir, não posso perder o último metrô.
E se levantou da cama, calçando os sapatinhos de volta. Desculpou-se e deu mais um beijo em Eduardo. Antes de sair da cama, ele disse:
- Da próxima vez seria legal usar um pouco menos de maquiagem, me dá um pouco de alergia na pele do rosto.
Bia olhou para Eduardo, séria, e foi embora. Mas não com o sentimento de que era pra sempre. Ainda iria querer vê-lo. Mas naquela ocasião, algo lhe desligou o interruptor do prazer.
Ou apenas maquiou o nervosismo; a insegurança de fazer algo errado com um homem que quis estar junto durante tanto tempo, o qual quis reparar a má impressão do primeiro encontro.
Maquiagem.
Que homem tem alergia de maquiagem?
Bia chamou um taxi, mesmo tendo tempo para pegar o último metrô.
Se deu ao luxo, iria pagar caro pela corrida.
E pelo vidro da janela, idealizou a sua cena dramática. As luzes da cidade passando, a música tocando no rádio, e seu peito inundado por uma mistura de vergonha, arrependimento e tristeza.

***

Quando chegou em casa, Marcela estava dormindo no sofá.
Toda torta, desgrenhada.
Sentou-se ao seu lado.
Na TV, passava O Casamento do Meu Melhor Amigo.
“Obrigado pelo tapa na cara, TV a cabo. Tudo o que eu queria era um filme sobre mulher arrependida.”
E resolveu ir até a geladeira pegar o sorvete de chocolate.

Mas lembrou que era feijão. 

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