segunda-feira, 30 de junho de 2014

Amores WI-FI - Temporada 3 Episódio 6: Run Tina, Run




Temporada 3
Episódio 6 – Run Tina, Run


Tina ficou tensa com a seriedade de Rafael.
O que será que ele ia dizer?
Ainda tinha a nítida sensação de que iria ser alvo de alguma piada colegial digna de filmes.
Chegou a olhar discretamente para os lados procurando movimentos estranhos ou câmeras de vídeo.
Porque sua vida parecia uma eterna pegadinha.
- Então, você se lembra da Roberta?
Quando ouviu aquele nome, novamente Tina sobrevoou o deserto de sua vida até chegar na época do colegial.
Era final de ano letivo, Tina havia trabalhado duro para manter-se longe de Rafael, porque, por algum motivo, ele continuava tentando falar com ela a sós.
Estava acontecendo uma festinha de despedida da turma, e alguém levou discos da época para tocar.
Rafael bebia refrigerante com os amigos em um canto. No outro, as meninas falavam sobre os meninos.
E Roberta, a menina que tantas vezes havia lhe dito “você não pode sentar com a gente”, viu que olhava fixamente para Rafael. Aproximou-se de Tina.
- Tina. Eu sei o que você está pensando. Mas te digo uma coisa: na vida, às vezes, a gente precisa entender que tem coisas que não foram feitas para darem certo. No caso você é a coisa. Portanto, esqueça Rafael. 
Tina ouvia aquilo com vontade de arrancar os cabelos ondulados de Roberta, mas na verdade mesmo iria chorar.
- A gente vai oficializar namoro.
E saiu, ao encontro de suas amigas.
A música pareceu silenciar.
Nisso, um dos amigos de Rafael falou:
- Rafael quer falar com você lá fora.
E Tina saiu correndo pela última vez naquela escola.
Não queria ser piada eterna da época do colegial.
Desistiu de ir na formatura, e deu graças a Deus quando seus pais se mudaram.

Voltou do flashback.
- Tina, você tá me ouvindo?
Mas Tina não ouviu, levantou da cadeira e saiu correndo pela rua feito uma maloqueira.
Era impressionante como tudo, TUDO na vida de Tina lembrava um filme bobo de Sessão da Tarde. Todos os elementos estavam lá: os traumas da época de escola, os desamores, o fato de não ser bem sucedida, a insegurança, e a trilha dramática enquanto corria pela rua.
Correu por muito tempo, mas ainda estava longe de casa. Pegou um táxi.
Quando chegou, percebeu que havia deixado a bolsinha no restaurante.
“Jesus tô ferrada, o taxista vai querer meu corpo! Vou ter que fazer a Geyse Arruda!”
Pensou.
Quando o taxista percebeu o motivo de seu nervosismo se preparou para iniciar uma discussão. Foi nesse momento que Rafael colocou a cara na janela.
- Posso ajudar?
Ele, que chegou poucos minutos antes, gentilmente pagou a corrida.
Olhou pra Tina, toda escangalhada, suada, miserável mesmo, e perguntou:
- Mas que diabos foi isso?

***


Marcela ficou nervosa em constatar que o barbudo havia deixado uma mensagem.
“Meu Deus, o que será????”
Perguntava-se, enquanto esperava a porcaria do seu computador processar a simples solicitação de abrir a mensagem.
“Merda de computador, dois minutos processando e ainda não abriu.”
Demorou, mas abriu.
E lá estava a mensagem dele:
- Claro que mora longe. CLARO.
Marcela riu de boba que era. Não esperava algum comentário do barbudo em sua inbox, nem esperava agradar. “Bom, pelo menos a tática funcionou”, pensou.
- Sim, moro longe. Aliás, pensei a mesma coisa quando cliquei no seu perfil.
- :~
- As leis do universo são Estranhas.
- Ou do Facebook, né? - Respondeu ele.
E assim iniciaram uma conversa despretensiosa.
Falaram sobre as coincidências de terem o mesmo signo, e por consequência dos pontos positivos e negativos que isso implicava.
Falaram sobre distância, porque, conforme falou Marcela, se morassem perto nada impediria de se conhecerem no dia seguinte.
Não, Marcela não estava sendo desesperada. Estava demonstrando interesse por um cara legal, educado, e que, até onde pôde perceber, tinha muitas coisas em comum com ela.
“A vida é uma bosta”, pensou, enquanto ele digitava outra mensagem. Afinal, tudo para ela era mais difícil e complicado. Inclusive marcar um simples drink com alguém que lhe despertava interesse.
Marcela procurou não pensar de fato no elemento distância, afinal, era apenas a primeira vez que conversavam.
Mas o fato é que Marcela andava com o coração mais derretido, menos resistente, apesar dos coices que a vida lhe deu de presente.
E sendo assim, sabia que a conversa com o barbudo iria render mais do que poderia supor, e sabia que corria diversos riscos. Entre eles, da conversa esfriar repentinamente, do barbudo encontrar uma mulher mais próxima e interessante do que ela, entre outros tantos exemplos.
“Caralho, Marcela!”, pensou, dando um tapa na própria cara.
Afinal, era só uma primeira conversa. Bastava deixar o tempo seguir e ver até onde chegava.
E no meio da longa conversa que tiveram naquela noite, lembrou de um fato que lhe ocorreu anos e anos antes. Um dia, andando pelo centro da cidade, foi parada por uma cigana. Marcela foi reticente, mas acabou estendendo a mão para a velha.
Ela olhou as suas linhas e disse, como um tiro: “você nunca vai ser feliz com nenhum homem.”
E ali, diante do computador, tanto tempo depois, falou, em voz alta:
- Você pode ter acertado até o momento, mas de hoje em diante quem manda nessa porra sou eu, ouviu?
Disse, como se a cigana pudesse lhe ouvir de onde estivesse. Talvez pudesse mesmo.
“Só espero que ela não esteja surda.”

***


- E então Tina, porque saiu correndo de lá feito uma maluca?
- Sim Rafael, eu devo estar louca. Mas fui transportada para aquele dia da festinha da escola, e me disseram que você queria falar comigo na rua...
- Sim, eu queria. Eu lembro disso.
- Eu sabia que você e mais alguém iria aprontar algo pra mim, eu sabia, Rafa.
- Eu vi você correndo pra fora da escola, a última vez que te vi. Mas nunca entendi. Por que achou que eu ia te fazer mal?
- Isso era óbvio. Além do mais, Roberta me falou que vocês iriam oficializar o namoro.
- Oi??? Eu nunca peguei a Roberta!
- Nã-não?
- NÃO!!!! Eu ia dizer, lá no restaurante, que soube da história que Roberta contou pra você. E o que eu queria dizer naquele dia, eu continuo querendo dizer agora.
Tina sentiu-se toda cagada. “Eu to no chão, rapariga!”, pensou ela.
- Tina... você quer ser minha namorada?
E Tina, após alguns instantes de um silêncio reparador, falou, sem titubear:

- Não.

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