A cidade parecia falar com ele.
Falava línguas estranhas. Talvez numa tentativa de enviar algum sinal.
E naquela manhã a cidade estava bem humorada. As árvores pareciam mais floridas, e tinha a impressão que os prédios elogiavam a sua roupa.
Falou sobre isso na consulta com o psiquiatra. E ele disse:
- Eu poderia lhe prescrever um medicamento. Mas não vou.
- O que eu tenho?
- Reflexo de uma mudança nas suas percepções. Você está mais aberto para o mundo. Saiu da sua própria toca. Abandonou os medos. Virou um homem de verdade. Provavelmente deixou de ver o choro como algo estúpido! Sabe desligar a TV na hora certa! Opina sobre o que lhe importa! Enfim! Você nasceu!
Falava o psiquiatra enquanto caminhava pela sala, formulando seu diagnóstico por meio de alguma música, como se estivesse na cena de algum musical da Disney.
- Mas me faça um favor, sim?
Falou ele.
- O quê?
- Não sai mais por aí falando que os prédios elogiam sua roupa, senão nem eu poderei te ajudar.
Ele, então, pegou sua pasta e seu agasalho, talvez chovesse no fim do dia.
29/9/2014
Nada como nascer...
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