segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Ele e a Cidade


A cidade parecia falar com ele.

Falava línguas estranhas. Talvez numa tentativa de enviar algum sinal. 

E naquela manhã a cidade estava bem humorada. As árvores pareciam mais floridas, e tinha a impressão que os prédios elogiavam a sua roupa. 

Falou sobre isso na consulta com o psiquiatra. E ele disse:

- Eu poderia lhe prescrever um medicamento. Mas não vou. 

- O que eu tenho?

- Reflexo de uma mudança nas suas percepções. Você está mais aberto para o mundo. Saiu da sua própria toca. Abandonou os medos. Virou um homem de verdade. Provavelmente deixou de ver o choro como algo estúpido! Sabe desligar a TV na hora certa! Opina sobre o que lhe importa! Enfim! Você nasceu!

Falava o psiquiatra enquanto caminhava pela sala, formulando seu diagnóstico por meio de alguma música, como se estivesse na cena de algum musical da Disney.

- Mas me faça um favor, sim?

Falou ele.

- O quê?

- Não sai mais por aí falando que os prédios elogiam sua roupa, senão nem eu poderei te ajudar. 

Ele, então, pegou sua pasta e seu agasalho, talvez chovesse no fim do dia. 



29/9/2014

Um comentário: