segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O Amor na Terapia - Sessão 1: Conte-me os seus problemas







Ela sempre achou que terapia fosse coisa de gente desocupada. Um desses preconceitos sem fundamento.

Porém várias amigas estavam fazendo, e comentando, tanto que nas rodinhas de bares esse era o assunto principal.

- Ai troquei o terapeuta!

- Meninas, eu estou tãããão melhor...

- Ai me atrasei porque estava na terapia!

E numa dessas, ela encontrou-se numa situação atípica. Depois de muito tempo solteira, havia conhecido um homem.

Bonito, falante, culturalmente avançado e o melhor de tudo: hétero.

Mas ela não estava sabendo lidar com algo que, aparentemente, estava funcionando.

As cadeias que se interligam e formam a química estavam ativadas. Ele a queria.

E agora?

Ela entrou em crise, porque achou que estava em uma pegadinha desses programas de televisão. E depois de falar para suas amigas sobre o assunto, todas foram unânimes:

- Marque uma hora com o nosso terapeuta!

Lá se foi.

No dia marcado chegou meia hora antes. A saleta de espera estava adornada de forma quase espírita; tudo branco. Havia dois sofás, um bebedouro e a mesinha da secretária.

Uma senhora simpática.

Na parede, quadros que eram reproduções de pintores famosos. Esperou ver uma foto de Freud. Mas nada. Ficou frustrada.

Era estranho sentar-se diante de um estranho e admitir que tinha problemas, quando na verdade não achava que tinha.

Talvez tivesse.

Ele já estava sentado em sua poltrona quando foi chamada para entrar. A sala era o oposto da anterior: ambiente aconchegante, papel de parede com flores miúdas, uma pequena luminária verde próximo da porta, adornando a saleta que mais parecia uma sala de estar decorada por essas senhoras da década de 50.  

Ele tinha os cabelos um pouco revoltos, óculos de armação grossa e camisa xadrez.

Não tinha divã, ficou triste. E frustrada de novo.

Ele indicou a poltrona na sua frente.

Ela se sentou. Usava uma blusa de manga princesa e cabelos soltos. Estava desconcertada.

- Conte-me seus problemas.

“What?”

Achou meio invasivo, direto demais. Sentiu um tiro no peito.

Achou que ele fosse falar um pouco sobre o seu método, e principalmente, fazê-la pensar que não tinha de fato problemas. Apenas pontos para ajustar. Mas não.

E ele foi ainda mais incisivo numa ferida que ela nem sabia estar aberta.

- Você veio por duas razões: ou partiram seu coração ou ainda vão partir.


PAH. 



P.S.: Obra ficcional. O objetivo não é proporcionar nenhum tipo de diagnóstico. Em casos de algum problema, procure um profissional habilitado 

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