Ela
sempre achou que terapia fosse coisa de gente desocupada. Um desses
preconceitos sem fundamento.
Porém
várias amigas estavam fazendo, e comentando, tanto que nas rodinhas de bares
esse era o assunto principal.
-
Ai troquei o terapeuta!
-
Meninas, eu estou tãããão melhor...
-
Ai me atrasei porque estava na terapia!
E
numa dessas, ela encontrou-se numa situação atípica. Depois de muito tempo
solteira, havia conhecido um homem.
Bonito,
falante, culturalmente avançado e o melhor de tudo: hétero.
Mas
ela não estava sabendo lidar com algo que, aparentemente, estava funcionando.
As
cadeias que se interligam e formam a química estavam ativadas. Ele a queria.
E
agora?
Ela
entrou em crise, porque achou que estava em uma pegadinha desses programas de
televisão. E depois de falar para suas amigas sobre o assunto, todas foram
unânimes:
-
Marque uma hora com o nosso terapeuta!
Lá
se foi.
No
dia marcado chegou meia hora antes. A saleta de espera estava adornada de forma
quase espírita; tudo branco. Havia dois sofás, um bebedouro e a mesinha da
secretária.
Uma
senhora simpática.
Na
parede, quadros que eram reproduções de pintores famosos. Esperou ver uma foto
de Freud. Mas nada. Ficou frustrada.
Era
estranho sentar-se diante de um estranho e admitir que tinha problemas, quando
na verdade não achava que tinha.
Talvez
tivesse.
Ele
já estava sentado em sua poltrona quando foi chamada para entrar. A sala era o
oposto da anterior: ambiente aconchegante, papel de parede com flores miúdas, uma
pequena luminária verde próximo da porta, adornando a saleta que mais parecia uma
sala de estar decorada por essas senhoras da década de 50.
Ele
tinha os cabelos um pouco revoltos, óculos de armação grossa e camisa xadrez.
Não
tinha divã, ficou triste. E frustrada de novo.
Ele
indicou a poltrona na sua frente.
Ela
se sentou. Usava uma blusa de manga princesa e cabelos soltos. Estava
desconcertada.
-
Conte-me seus problemas.
“What?”
Achou
meio invasivo, direto demais. Sentiu um tiro no peito.
Achou
que ele fosse falar um pouco sobre o seu método, e principalmente, fazê-la
pensar que não tinha de fato problemas. Apenas pontos para ajustar. Mas não.
E
ele foi ainda mais incisivo numa ferida que ela nem sabia estar aberta.
-
Você veio por duas razões: ou partiram seu coração ou ainda vão partir.
PAH.
P.S.: Obra ficcional. O objetivo não é proporcionar nenhum tipo de diagnóstico. Em casos de algum problema, procure um profissional habilitado
P.S.: Obra ficcional. O objetivo não é proporcionar nenhum tipo de diagnóstico. Em casos de algum problema, procure um profissional habilitado
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