segunda-feira, 20 de abril de 2015

Amores WI-FI - SEASON PREMIERE Temporada 5 Episódio 1: A Mordida




Previously, on Amores WI-FI:

A história com Gabriel ainda era (e provavelmente seria por muito tempo) aquele tipo de machucado que, de vez em quando, a gente arranca a casquinha mesmo sabendo que vai sangrar. Mas o pior já havia passado. 

Marcela de repente sentia-se como num típico filme de Sessão da Tarde. Um filme dentro do sonho. Não havia melhor sensação do que perceber que os olhares se cruzavam, e se entendiam. Não era feito do vinho. Ao menos achou que não. Marcela adormeceu na frente do barbudo. Despediram-se. Marcela percebeu que não o veria mais

Bia se despediu do garoto das trufas. Fora uma longa conversa, que revelou muitas coisas em comum. Ele a acompanhou até o ponto de táxi, cheio de gentilezas. Ficaram se olhando, mas ela queria mesmo era beijar o garoto.

Tina estava com problemas em lidar com a indiferença de Rafael. Depois do alarme falso da gravidez Rafael criou uma barreira. Não a culpava, mas também não expressava o que sentia, e nem se preocupava em saber se precisava de apoio.

Lá fora os fogos estouravam, anunciando a virada do ano.
- Feliz ilusão nova.
Falou Marcela.
- Não – Disse Bia – feliz ano novo. Feliz match novo. Feliz cutucada nova. Feliz DM nova. Porque algumas coisas não mudam.
- Não – Disse Bia – feliz ano novo. Feliz match novo. Feliz cutucada nova. Feliz DM nova. Porque algumas coisas não mudam.


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Temporada 5
Episódio 1 – A Mordida
(Capítulo especial)


Marcela estava voltando pra casa naquele final de tarde de segunda-feira.

O dia campeão de reclamações nas redes sociais. Mas na verdade era igual a todos os outros.

A temperatura já estava amena, aquele clima que favorecia a ambientação para os seus videoclipes imaginários. Marcela adorava imaginar vídeos com as músicas que escutava pelo celular.

Fazia isso em todos os lugares. Até na esteira da academia.

Pois é, entre as mudanças que o ano novo trouxe, estava o novo momento ~fitness de Marcela. Finalmente aceitou que a idade avança e que, por conta disso, precisava exercitar o corpo.

“Queria poder exercitar o músculo do coração”, pensou, num momento dramático apenas seu. “Se pudesse, talvez ele não se ferisse tão facilmente”.

Mas por outro lado, quem mais machucava era a auto sabotagem.

Isso a fez lembrar um episódio ocorrido duas semanas antes.


***

Marcela não havia desistido da vida de encontros por meios online, mas por incrível que pareça havia conhecido um homem em uma festa. Num dia sem qualquer expectativa. Dizem que no carnaval as coisas acontecem (ok não era carnaval, era carnaval fora de época já), e talvez isso tenha contribuído.


Ela e Bia combinaram de ir com umas amigas em um bailinho super original.

O suor se misturava com a caipirinha naquele emaranhado de purpurina, máscaras, confetes e fantasias improvisadas.

Marcela não estava fantasiada. Mais ou menos. Achou uma camiseta branca em casa e colocou um chapéu de marinheiro. Ficou meio lésbica, talvez, mas não deu importância. Estava com preguiça de algo mais produzido.

Bia apostou em alguns adereços na cabeça, umas penas coloridas e cílios de drag queen. Mal conseguia piscar os olhos, mas manteve o charme com dignidade durante toda a noite.

Chegaram e estava tocando Requebra. Marcela adorava Requebra num grau, que se requebrou toda, de verdade, esquecendo que seus joelhos não tinham mais o mesmo viço da época em que a música foi lançada.

Apesar das canções havia um clima de outrora naquele lugar. A banda ao vivo, as pessoas, os confetes. Sentiu-se transportada para um mundo que poderia ter vivido de forma plena. Um tempo em que os amores não dependiam de um clique de coração no Tinder ou uma cutucada no Facebook.

Certamente não era mais fácil, mas também não havia tantas implicações, tantas disparidades. E foi deixando os problemas no lado de fora, enquanto se contorcia toda até o chão, feito uma cobra faminta.

Enquanto isso Bia pensava no garoto com quem estava saindo. O menininho gentil, que sempre lhe dava uma trufinha de chocolate quando se encontravam.

As coisas não andavam tão bem. Estavam saindo há pouco tempo, e pela forma que ele se comportava, os dois pareciam um casal formado há anos. Bia não tinha certeza se queria aquilo. Talvez não com ele. Talvez quisesse, mas não naquele momento. Mas achou que era melhor seguir em frente, precisava abrir mais suas barreiras afetivas.

E foi entre fuga do mundo e resoluções afetivas que as duas amigas iniciaram aquela noite. Uma parte dela chegou ao fim em pouco tempo, quando a banda parou de tocar e soou a última nota do trompete, deixando os confetes adormecidos no piso. Em instantes o pequeno salão esvaziou, restando meia dúzia de foliões desorientados.

Entre ir para casa e aproveitar o resto da noite resolveram ir para uma festa muito famosa na cidade, chamada Cadê Rosane. Nela tocava apenas música brasileira. Marcela sempre teve receio em não curtir, mas acabou cedendo aos apelos de Bia. E se foram, na companhia de mais uma amiga. O resto foi embora.

Ninguém tinha muito dinheiro nas bolsinhas, precisaram pegar um táxi e parar no primeiro posto de gasolina para usar o caixa 24 horas. Mas ao chegar lá não estava funcionando.

Foram no seguinte, e no seguinte, até que conseguiram.  Não tinham dinheiro nem pra uma caipirinha barata.

Quando chegaram no lugar da festa a fila estava imensa, mas Bia, às vezes truculenta, encontrou uma conhecida e conseguiram furar.

Por fim Marcela estava animada. Ao menos iria se divertir.


Assim que entrou começou a tocar uma de suas músicas favoritas: Princesa. E deu de cara com um flerte atual de mãos dadas com outra mulher. Marcela havia ficado com ele anos antes, mas ultimamente parecia que um revival iria acontecer.

Ele ficou sem jeito. Marcela o abraçou, simpática, e jamais tocou no assunto com ele.

As três foram se embrenhando na multidão, e em apenas meia volta, Marcela encontrou ex-affair, ex-peguete, pretendente... sentiu-se quenga. “Foda-se”, pensou. Parecia que todo o seu Tinder estava ali. Pensou que em alguns até clicaria em coração de novo.

Um deles, estudante universitário, havia sido seu date semanas antes.

Um pretendente do Tinder, óbvio. Menino novíssimo. Mas Marcela não se incomodou com o fato, ao menos não naquele encontro que tiveram.

Foram num café e sentaram num sofá tipo Friends. Marcela estava se sentindo gatíssima, achou que sentindo-se assim surtiria mais efeito. E parece que surtiu. Não demorou muito ganhou um beijo.

O menino era doce, falante, bonito. Mas sem querer ser preconceituosa a idade pesou, quando os assuntos por whatsapp nos dias seguintes se resumiram em festas e falta de dinheiro para ir nelas.

“Mas ele é tão gatinho”, pensou, quando passou por ele. Porém seguiu reto. Talvez não fosse um bom momento. Ou talvez fosse. Mas como muitas coisas em sua vida, Marcela permaneceu com a dúvida.

Continuou o giro pelo lugar, esbarrando em pessoas e tomando semi-banhos de cerveja, quando alguém puxou a sua mão. Olhou para trás, era um barbudo super bonito. Sem avisar as amigas seguiu para onde ele e uns amigos estavam indo. Puxada por uma mão, segurando cerveja com a outra.

Caminharam por metade do espaço até que enfim pararam. Marcela estava se sentindo palhaça, e ainda carregando uma latinha de cerveja, foi beijada.

Beijada por horas. Ao menos foi a sensação que teve, e ainda equilibrando a latinha de cerveja praticamente cheia. Largou a latinha no chão e abraçou o moço como devia.

Não avistou mais Bia e a outra amiga.

O moço beijava bem, Marcela dava muita importância para isso. Ele segurava seu rosto, com a firmeza necessária, e com carinho. E aos poucos a música ficava fraca. Não, Marcela não estava ficando louca ou se apaixonando por um desconhecido. Mas sensações não podem ser impedidas.

Em determinado momento o tal homem mordeu a boca de Marcela. Uma mordida selvagem, que para alguns seria excitante, mas para ela apenas dolorida.

Ela pediu que parasse, sentaram-se em um sofá e ele dormiu. No seu ombro.

“Puta que pariu, não é a primeira vez que um homem dorme no meu ombro, será que sou tão entediante assim?”.

Nisso Bia e a outra amiga chegaram afoitas, procuraram Marcela por muito tempo, queriam ir pra casa. Marcela espiou na direção da rua e a noite já havia se despedido há tempo.

Acordou o rapaz.

- Vou pra casa.

- Vamos pra casa comigo.

Disse ele.

Disse com um olhar tão fofo que Marcela quase concordou. Mas não era um olhar de fofura, era de bêbado mesmo.

O que pesou para recusar foi a mordida. Sua boca estava machucada, inchada. Sentia-se uma gorila.

Anotou o telefone do barbudo e saiu correndo, antes que perdesse o sapatinho de cristal, feito uma Cinderela urbana. Mas no seu caso seria um all star velho.

As três se enfiaram em um taxi e voltaram pra casa. Marcela ainda tinha as músicas da festa na cabeça, e ali mesmo, no carro, se imaginou em um vídeo clipe, de música nacional, protagonizado por um estranho que lhe deixou com a boca trucidada.


***


Marcela desceu do ônibus.

“Meu Deus, como odeio segunda-feira”, pensou. O dia que ficava mais cansada.

Nesse momento tocou uma nova música no modo aleatório do player.


Sua música favorita, sua música tema para 2015.

Ainda não havia encontrado o mordedor novamente, pois passou as últimas duas semanas tratando sua boca ferida.

Entrou em casa e olhou a foto do mordedor no whatsapp.

“Tão bonitinho...”

Talvez o mordedor pudesse ser uma passagem leve do seu ano, aquilo que é colorido, divertido. Quem sabe.

Entrou no apartamento. Bia lhe esperava com arroz de forno e vinho, e na vitrola que comprou um LP antigo tocava, emoldurando o cenário ideal.


Algumas coisas simples podem salvar um dia chato. 

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