Temporada 5
Episódio 9 – Inferno astral
Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=BOFeDcpR4vQ
Marcela estava mais insuportável do que nunca.
Apesar de não acreditar, justificava para si mesma que era
culpa dos últimos dias do seu inferno astral.
Em poucos dias teria que fingir simpatia com todos que
viessem lhe cumprimentar e responder as inúmeras mensagens no Facebook,
Twitter, Lastfm, Linkdin, Tinder, etc.
Marcela não era assim tão amarga, até gostava de
aniversário, só não tinha o hábito (e vontade) de comemorar. Uma vez até
comemorou. Escolheu lugar, um bar super descolado, escolheu roupa nova,
convidou um monte de gente e foi meia dúzia de gato pingado.
Pelo menos foram os gatos pingados que estavam sempre por
perto <3 p="">
Mas o fato é que Marcela andava irritadíssima, e não tinha a
ver com hormônios. Ao menos achava que não. Andava até descontando no mordedor,
que tinha o péssimo hábito de fazer brincadeiras implicantes, o que Marcela não
curtia quando estava interessada em alguém.
Ele implicava, ela ficava puta elevada ao cubo.
Sentia-se mal em xingar o mordedor. Mas ela se deu conta
que, na maior parte das vezes, ele achava que ela estava brincando.
Menos mal.
Naquela tarde, enquanto navegava pela internet sem propósito,
Marcela pensou no seu aniversário. Um amigo perguntou por DM no Twitter:
- Como você se sente em época de aniversário?
E ela não soube responder de imediato. Mas disse, depois,
que muitas vezes sentia tristeza, um pouco de solidão.
Era estranho sentir tristeza, ela bem sabia, porque fazer
aniversário significa estar vivo, não é? Mas era como no Natal. Marcela sempre
chorava quando ouvia Estrela Guia nos especiais da Xuxa.
Aniversário pra ela tinha um pouco disso.
E significava, também, que o tempo havia passado e nem
metade das resoluções da infância se tornado realidade.
Claro que muita coisa era proveniente da cultura em que
estava inserida, tipo estar casada aos 30, com filhos, ou então ser uma mulher
extremamente bem sucedida, para os mais modernos.
Mas nem uma coisa nem outra no seu caso.
Estava feliz, trabalhava com o que gostava. Mas queria dar
uma reviravolta nas coisas, queria criar uma cena de filme na vida real. Não
podia.
E disse isso tudo para o amigo, que apenas falou:
- Tente ficar feliz com seus amigos.
E ela ficou feliz, de verdade.
Olhou para Bia sentada no sofá, que estava teclando no
whatsapp com o menino das trufas. Ela parou de digitar e sorriu para Marcela.
Estavam sempre em sintonia uma com a outra, e essa cumplicidade bastou para se
sentir melhor.
De qualquer forma rezou para que o inferno astral acabasse,
estava começando a ficar irritada demais com tantas mensagens diárias do
mordedor.
- Eu só to com saudades.
Disse ele. Como num tiro de flores, dessas pistolinhas de
circo.
E sentiu-se mal, extremamente mal em ser tão ríspida.
Enquanto isso, Bia abriu o app do Facebook e tinha uma
mensagem do menino.
Ele, ao mesmo tempo em que falava com educação, lhe atirava
coisas na cara, cobrava atitudes que Bia não achava ser obrigada a ter.
Ele disse:
- Precisamos conversar
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