Temporada 5
Episódio 11 – A cafeteira
Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=0TUnm5tqcOc
Marcela e Bia estavam na cozinha preparando o café da manhã.
Como sempre, mas recordaram especialmente de um longínquo dia em que estavam bebendo
café e Marcela lembrou de quando descobriu a traição de Romeu.
A cafeteira travava, pois a nova havia sido levada por Romeu
na ~divisão de bens~.
Na época os fatos serviram para que ambas fizessem analogias
com sua vida amorosa. De fato esse aspecto das duas amigas continuava como
aquela cafeteira quebrada. De vez em quando funcionava, mas algumas vezes o
café chegava na xícara com um amargor que só coisa podre justifica.
- Acho que minha cafeteira não tem mais jeito.
- Acho que você não sabe operá-la.
Marcela se sentiu ofendida, mas era verdade. Tanto não sabia
usá-la que o café com mordedor passou a sair amargo. Sim, uma parte da culpa
era sua.
“Meu Deus, tanto tempo de vida amorosa e ainda não sei
operar minha própria máquina!”, pensou, enquanto pegava as torradinhas.
Nos últimos dias o mordedor mandou mensagem religiosamente
nos mesmos horários. Geralmente triviais, dando bom dia, contando alguma coisa
boba.
Marcela ficava irritada.
Nunca deixava de responder, mas não dava abertura para que
ele avançasse.
Desconversava quando percebia que um convite para sair se
aproximava. Mordedor devia entender, mas fingia que não. Pois nunca reclamava.
E era nesse ponto que se sentia uma idiota, uma imbecil sem
coração. No lugar dele deveria ter uma cafeteira quebrada.
Enquanto isso Bia recebia mensagem do menino das trufinhas
no chat do Facebook.
Ele disse: “oi, podemos conversar?”.
***
Trilha desta cena: https://www.youtube.com/watch?v=bVTYHncipR4
Tina estava passando café quando resolveu mandar uma
mensagem de carinho para Thiago. No player tocava mais uma das músicas de
Rafael. Mas não deu muita importância.
A cafeteira estava levemente falhando.
Não se sentia confortável para encaminhar mensagens a outro
homem ainda. Sim, já haviam transado, já tinham uma certa intimidade, mas ela
se sentia muito aberta demonstrando afeto. Emocionalmente.
E na falta do que dizer, abriu o whatsapp e mandou uma
figurinha bonitinha, representando um abraço:
Tina: (>'-')>
E fechou a janela, não queria ficar monitorando mensagem visualizada.
Porém, uma hora depois a mensagem não havia sequer chegado
no celular de Thiago.
“Será que...”, iniciou suas conclusões em pensamento, “será
que ele está com alguém e fez o mesmo quando está comigo, aquele bandido?
Thiago coloca o celular no modo avião sempre que está comigo, será que está
fazendo o mesmo? Dou na cara”, falou para si mesma.
E no momento de raiva, resolveu descontar em um pedaço
imenso de pão coberto com doce de leite uruguaio.
Enquanto isso a cafeteira avariada roncava na cozinha,
sozinha e esquecida.
***
Trilha final: https://www.youtube.com/watch?v=vNT1ZZz2GPw
Bia foi para o quarto ler a
mensagem do menino das trufinhas.
Era uma mensagem curta, mas iria perceber que bem escrita, contundente e
triste.
Sentou na beirada da cama, em um
daqueles momentos que tudo ao redor se apagava. Era como se um holofote
cinematográfico iluminasse apenas o seu corpo. O resto era tudo escuro.
Abriu a mensagem, enfim:
Ele: Oi Bia, tudo bem?
Ele: Nossa última conversa não deu
muito certo, queria pedir desculpas. Reli tudo o que falamos e percebi que nós
lidamos de forma diferente com relação a algumas coisas, que eu considero muito
importantes.
Ele: Fico triste por não poder
lidar de forma parecida com a sua nesse momento.
Ele: Te acho uma mulher muito
legal, e desejo todo o sucesso para você.
Ele: Sempre que precisar, estarei
aqui. Mais uma vez, desculpa.
Bia sentiu vontade de chorar, mas
não chorou, como se alguém pudesse vê-la. Respirou e começou a digitar:
Bia: Oi, eu estou bem, e você?
Bia: Estava mesmo pensando em te
escrever.
Bia: Sim, a última conversa foi um
pouco difícil para nós dois, acredito eu.
Bia: Realmente acho uma pena que a
forma de vermos as coisa seja tão diferente, pois você é muito querido e sempre
gostei muito de estar com você.
Bia: Talvez você precise ficar um
pouco só antes de se envolver com alguém de novo. Talvez seja bom.
Bia: Mas enfim, gosto muito de
você, e da mesma forma só desejo coisas boas.
Ele: Obrigado por se preocupar. A gente se fala.
E o ponto final daquela frase foi o ponto final mais difícil
que Bia havia lido.
Muitas vezes os homens simplesmente sumiram, muitas vezes apenas
diziam que não queriam mais. Mas nunca o fizeram com tanta sinceridade.
O menino realmente tinha uma forma diferente de desejar, de
demonstrar, de se envolver, e o motivo por ela ter ficado mais triste foi em
não poder corresponder.
Bia então chorou, não tanto por ter recebido um fora, mas
por não ser capaz de fazer as cosas darem certo.
Como a cafeteira velha de Marcela.
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Relembre o episódio da cafeteira aqui: http://bit.ly/1F2WL21
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