domingo, 29 de novembro de 2015

Amores Wi-Fi - Temporada 6 Episódio 3: Um Pouquinho Stalker






Marcela chegou em casa alterada pela bebida e, portanto, fragilizada emocionalmente.

Bia ainda não havia chegado.

É nessas situações que todo mundo comete a cagada de pegar o celular e mandar mensagem pra algum ex, ou cobrar o crush por uma mensagem não respondida e já esquecida, entre outras idiotices. Mas nem crush Marcela tinha, e Romeu já era uma carta rasgada e fora do baralho.

Mas, como se o universo conspirasse a seu favor (ou contra, porque o universo só trola as pessoas), recebeu uma notificação no Twitter. Era um antigo crush, um menino que morava em outra cidade.

Marcela sempre esbarrava com alguém de longe, afinal, o que parece impossível é sempre a melhor opção pra quem tem receio de se envolver. Afinal, o que não acontece, não pode machucar. Ao menos era assim que pensava, mas estava trabalhando para ser uma nova mulher.

Abriu a DM:

@Henrique: Olá, tudo bem? Quanto tempo! Já que você não me visita, eu vou te visitar. Passarei uns dias na sua cidade, então, se quiser me mostrar as coisas, eu vou adorar :D

Marcela riu do ~mostrar as coisas~, e sentiu-se ridícula. Mais pela embriaguez do que por sensatez sentiu um calorzinho no peito. Podia ser até menopausa precoce, mas era apenas ela mesma sendo trouxa. Era um calorzinho de paixão, fora de contexto.

Era carência.

No entanto gostou de receber a mensagem. Se rolasse interesse entre os dois, seria mais um encantamento passageiro em seu currículo. Se não rolasse, teria um bom amigo.

“Foda-se o amigo, quero alguém que me queira”, disse, tropeçando na poltrona. Deitou no sofá, adormecendo lentamente, enquanto o teto girava e seus problemas amorosos ficavam, ao menos por um tempo, esquecidos.

***


Bia ainda estava na emergência. Apesar do flerte com o tal homem estar rolando fortemente, já estava sem paciência pra esperar o atendimento da amiga. Até que ela foi chamada.

Enquanto ela era atendida viu o médico, ou suposto médico, passar na recepção com sua maletinha para ir embora. Fim do plantão. Fim da possibilidade de achar um homem que prestasse. “Como vou falar com ele?”, se perguntou.


Ele sorriu de canto de boca, e Bia pensou: “Ah seu malandrão! Eu te acho!”.

Pouco depois a amiga voltou, era apenas um descontrole de pressão, já estava medicada e ficaria um tempo no soro.

- Pode ir embora Bia, meu noivo está vindo me buscar.

Disse ela, e assim correu pra casa, pois tinha uma missão: descobrir quem era aquele homem que lhe devorou em pensamentos a noite toda.

Quando chegou no apartamento deu de cara com Marcela esturricada no sofá, parecendo estar morta. Verificou a respiração. “Tudo bem, tá viva”, e correu para o PC.

Não tinha a menor ideia do nome do homem, pois estava sem identificação, e nem se era realmente médico.

Google > funcionários do Hospital Emergência > pesquisar

Dos vários resultados que apareceram chegou em um link com um pdf contendo a lista completa de profissionais, entre enfermeiros, médicos, psicólogos, assistentes sociais...

Determinadíssima, Bia separou o nome de todos os homens e começou a busca incansável. Digitou um a um no Facebook, sem nem ao menos saber se ele usava a rede social.

Depois de um bom tempo, PAH, encontrou. Ele se chamava Leon, e era psicólogo. O dedo de clicar em adicionar chegou a tremer. Mas não adicionou.

“Não é que nem Orkut que mostra as visitas, mas acho que o simples fato de eu entrar no perfil dele vai me mostrar como amizade sugerida, vou ficar quietinha”, pensou. Um minuto depois Bia o adicionou.

“Não sou maluca, nem stalker, apenas luto pelo que quero!”, pensou, justificando o ato para si mesma, e ficou ali, paradinha na frente da tela, esperando alguma resposta. Mesmo que fosse a recusa do pedido de amizade.


Enquanto isso Marcela sonhava que vivia num mundo onde a história com um crush tinha início e meio definido. Porém não um fim. Se ~apaixonava, era correspondida, marcava um date, era tudo maravilhoso, ele responderia suas mensagens no whatsapp e iriam começar a namorar.

Ao acordar teria não apenas o gosto amargo da bebida na boca, como o sabor azedo de saber que a vida real era como se fosse um grande pote de queijo gorgonzola estragado.


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