Capítulo 1
Prefácio à Rubilar
Rubilar não era um homem propriamente feliz, mas também não era infeliz. Era casado com Diva, uma mulher obesa, e na maior parte do tempo extremamente irritante e inoportuna. Nem lembrava mais por que casara-se com aquela mulher. Sim, ele se lembrava muito bem. Sua adolescência fora pontuada por uma grande ausência de amores, flertes e afins, e mesmo que não admitisse, temia ficar sozinho, sem nunca ter mulher. Era inteligente, mas pouco carismático. Podia ser a ausência desse último elemento, mas o que acabava prevalecendo, também, era a sua paupérrima conta bancária e a sua aparência física sem nenhum atrativo.
- Rubilar, você é feio...
- Rubilar, eu não fico com garotos pobres...
- Ai Rubilar, detesto caras magrelos...
Frases como essas ecoaram em seus ouvidos por muitos anos, até Diva aparecer em sua vida feito um meteoro. Sem trocadilho. Já naquela idade Diva era gorda, e ela, assim como Rubilar, sabia muito bem o que significava ser excluída e o que implicava ser popular. Pessoas excluídas são carentes ao extremo, e talvez essa seja a explicação para um namoro totalmente fora dos padrões da escola ter iniciado. Era o feio e a gorda. O pobre e a gorda. O CDF e a gorda. Tudo o que é apelido e a gorda. Nisso Diva tinha um ponto a favor, tinha um só apelido.
Anos mais tarde, quando resolveram se casar, as duas famílias reuniram-se em uma comemoração que parecia sem sentido. Uma família neurótica e uma família gorda. Não podia existir coisa mais bizarra do que aquele dia em que precisou vestir fraque, por insistência de Diva, apesar de um calor de quarenta graus, e ouvir uma tia gorda da esposa, muito mais do que desafinada, cantando Ave Maria. Ficou pensando em todas as meninas que ousou cortejar na época da escola e, meu Deus, como elas eram diferentes! Não acreditou quando se virou no altar e viu Diva dentro de um vestido tomara-que-caia fazendo suas gorduras amontoarem-se desesperadas por oxigênio pelos cantos de seu corpo rumo ao decote, que, em determinado momento, caiu.
“Eu mato essa tia cantora”, repetia para si mesmo, suando em bicas, e desejou desmaiar, só para adiar aquele espetáculo de horrores...
Muito bom o começo ... Parte II Now!!!! xxxx
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