Capítulo 4 - Final
Os extremos da mente masculina
Às dez e quarenta entrou no banco onde era cliente. Arrumou o cabelo para trás, precisava ser bem reconhecido. Engoliu uns goles de saliva que pareciam dois pedaços de carne dura arranhando sua garganta e obstruindo seu esôfago. Iria fazer o que precisava ser feito. Parou no meio do banco, colocou a mão direita sob a camisa, em forma de pistola, e gritou:
- Isso é um assalto!!! Mãos para ci-cima, porra!!
Os seguranças, bem como as moças do caixa, começaram a rir. “Como o Rubilar é engraçado!”. Conheciam bem Rubilar, um homem divertido, de bem com todos. Mas Rubilar estava sério. Ficaram todos tão estupefatos que o dinheiro foi colocado em um envelope sem que os seguranças fizessem qualquer coisa. Na saída, agarrou uma velha e uma moça como reféns. Empurrou as choronas para dentro do carro e pisou fundo. Cinco quadras depois a polícia já o perseguia. “O que é isso?”, pensou, “desde quando a polícia é tão eficiente?”. Mas era ótimo, pensou ele.
Ultrapassou sinais fechados, bateu em bicicletas estacionadas na calçada, atropelou pedestres. Vinte minutos depois parou na frente de um prédio comercial, e antes de entrar no elevador ele mesmo telefonou para o canal de televisão, avisando que havia um homem maluco e assaltante com duas reféns entrando no tal prédio do centro da cidade. Arrastou a velha quase desfalecida e a moça para o heliporto, e um helicóptero da polícia chegou. Ameaçou atirar as duas lá embaixo. A moça vomitou de nervosa.
De dentro do helicóptero um dos policiais gritou:
- Solte a arma!!
Mas Rubilar não tirou a mão de baixo da camisa. Olhou lá para baixo e viu o carro da emissora chegando, misturando-se à multidão de curiosos.
Estampido.
Um tiro foi disparado de dentro do helicóptero, que pegou de raspão no braço de Rubilar.
- Isso, é isso que eu queria... – pensava, quase em transe, rindo feito um personagem inexistente de Tim Burton.
E atirou-se de cima do prédio. Se essa história fosse um filme, seu corpo iria cair em câmera lenta, e percorrer os trinta andares do alto até a calçada com tempo o suficiente para mostrar cenas de sua vida. Que fora extremamente sem graça. Talvez o melhor tenha sido sua infância, pois, ao menos nessa época, não se tem noção exata da desgraça e as suas consequências. Um corpo que cai. Não, já tinha um filme com esse título. Quando se aproximou do parapeito para saltar se sentia como um vilão dos filmes de super-herói, e vilões não costumam ganhar filmes só para eles. Não havia filme para Rubilar.
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Nesse momento, já era conhecido por todos que assistiam ao plantão do noticiário como um assaltante louco suicida, e ninguém que o conhecia iria lembrar-se de comentar que havia broxado diante de uma prostituta. Seu plano seria concretizado.
Mais tarde, no noticiário noturno, passaram uma reportagem sobre o caso. Eliza Brazil, a repórter de corte Chanel e blazer rosa, voltou ao banco para buscar informações de testemunhas, e encontraram Vanda, a puta, que estava no local retirando dinheiro do caixa eletrônico quando tudo aconteceu.
- Esse homem estava fazendo um programa comigo pouco antes. Ele broxou sabe, e acho que enlouqueceu. Alguns homens enlouquecem com isso.
Na manhã seguinte, os jornais estampariam uma fotografia sua com a manchete: “O HOMEM QUE ENLOUQUECEU PORQUE BROXOU”.
- Essa foi a história de Rubilar. Voltamos a qualquer momento com novas informações direto aqui de Porto Alegre. Eliza Brazil para o Jornal Nacional. Patricia.
Fim
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