quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

HONRA - Capítulo 3



Capítulo 3
O aniversário de Rubilar

Para Rubilar tudo era novidade. O toque das mãos, por si só, lhe causou um grande e sísmico orgasmo. Tentou disfarçar sua explosão precoce em uma incursão de mãos e línguas preliminares, procurando tempo para reanimar o desanimado, mas foi em vão. Vanda não era mulher de esperar. Ia direto ao ponto. Por mais que se esforçasse seu estado continuava o mesmo – como um cão se fingindo de morto. Nunca antes estivera com uma garota de programa. Vanda não respeitava os clientes.

- Broxa!!! – gritou ela, destruindo o seu orgulho como se fosse um bolo esmagado entre os dedos.

Pensou em seus colegas de trabalho, o Juan e o Balduíno, que lhe compraram Vanda como presente de aniversário. “Que decepção, meu amigo”. Em pouco tempo a empresa toda estaria sabendo, desde a recepção, passando pelas secretárias, pelo planejamento, pala produção, pelos motoboys e o almoxarife, até a diretoria. Seu fracasso com uma puta iria circular em um memorando. No mesmo dia, todas as putas da cidade iriam saber, e iriam cochichar gracinhas cheias de despropósitos quando circulasse em seu Mille Fire pela Avenida Farrapos.

Pensou no que diria Diva, sua recatada e gorda esposa, ao saber que o marido quase lhe traiu com uma garota de programa barata. Iria ser rejeitado por toda a família de Diva, aquele bando de obesos medíocres que nunca olhavam para o próprio rabo. O cunhado iria fazer piadinhas, a cunhada solteira iria falar “Bem que avisei”, os sogros iriam querer batê-lo, e os vizinhos dos obesos iriam espalhar a notícia pelos cantos onde a notícia não podia chegar.

Quando voltou a si ainda teve tempo de ver Vanda cobrindo suas tetas caídas como dois coadores de café usados. Atordoado, pegou a carteira.

- Não – disse ela – seus amigos me pagaram. Foi o dinheiro mais fácil de toda a minha vida – disse, rindo gargalhadas de meretriz aposentada.

Vanda também estava com o orgulho em frangalhos. Nunca ficou com trepada pendente. Depois que ela saiu arrastando suas sandálias de tiras cor vermelho sangue com plataforma de drag queen Rubilar sentiu um vazio, e toda a sua masculinidade se foi com os últimos ruídos dos saltos de Vanda sumindo pelas escadas do moquifo onde uma trepada não foi realizada. Não podia deixar que ficasse conhecido como O Broxa. Iriam fazer trocadilhos: “Você acredita em bruxas? E em broxas?”.

- Droga.

Foi tudo o que Rubilar pôde dizer. Olhou seu corpo no espelho, era pateticamente branco e magro. Vestiu-se e deixou aquele quarto cheio de pulgas quase correndo. Eram dez e vinte e dois, não havia sol, mas estava extremamente abafado, principalmente dentro do seu carro. Pegou um lenço do bolso e secou o suor da testa. Olhou uma placa de brechó e leu broxou. Deu uns tapas no próprio rosto.

- Aquela puta não vai me difamar, nem o Juan nem o Balduíno, nem a família obesa da minha mulher obesa...

E ali mesmo, dentro do seu carro de segunda mão, selou a sua sorte...

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