No capítulo anterior...
Rosaura passou mal e foi levada à clínica onde o marido trabalha. Ao chegar conhece o jovem médico Leandro, e percebeu, naquele momento, que sua vida iria ruir, mas não esperava pelo fato que iria se suceder: o assassinato do esposo.
Capítulo 2
- E então, o que houve, o que houve?
E o Dr. Alberto, irritado:
- Depois, Abílio, agora vá para a sala de espera.
Contrariado Dr. Abílio foi, e os vinte minutos que durou o resto da consulta foram uma eternidade. Quando Dr. Alberto voltou, trazia consigo nada mais do que informações vagas.
- Nada? Como assim, nada?
E ele respondeu, já esperando aquela reação.
- Ora Abílio, deixa eu falar... Você muito bem sabe... Eu fiz diversos exames e, fisicamente, sua esposa não tem nada. Essas reações são típicas de problemas emocionais.
Dr. Abílio, ingenuamente, respondeu:
- Não, acredito que não. Minha esposa têm tudo: uma casa grande, carro com chofer, vestidos, jóias, sapatos, viagens para a Europa ao menos uma vez por ano, o que mais uma mulher pode querer? Me diga Alberto, o que mais?
Dr. Alberto não respondeu especificamente, mas disse:
- De qualquer forma, observe sua mulher, procure constatar se há alguma coisa que a esteja entristecendo, está bem? E deixe-a em repouso por uns dias.
- Tudo bem, tudo bem.
Nina Valdez, a secretária da clínica, aparecera de repente. Estivera na rua quase toda a tarde resolvendo problemas pessoais. Nina era uma jovem de vinte e três anos, noiva de um dentista, o Dr. Antônio Medeiros, porém, mantinha um caso com Rodolfo da Silva, o açougueiro. “Devo estar louca, devo estar louca, meu Deus”, repetia ela para si mesma, saindo da clínica no meio do expediente dizendo ir ao banco para encontrar o açougueiro, logo o açougueiro, um homem sem eira nem beira, um nada, mas que sabia muito bem tratar um pedaço de carne. Na tarde em que saiu mais cedo, chegou no açougue ofegante. Rodolfo estava lá, com o seu avental sujo de sangue e luxúria, e ela pensou consigo mesma: “Não sei resistir, não sei resistir!”. Então, Rodolfo deixou um moleque trabalhando no balcão e levou Nina para o quartinho que ficava em cima da loja, sujo, bagunçado e mal cheiroso, o qual era faxinado uma vez por mês por uma senhora viúva. Lá, fizeram de tudo, tudo o que uma mulher direita e honesta jamais deveria fazer, mesmo com o esposo. Rodolfo era assim, de um instinto animal, e mesmo pobre, vagabundo e desleixado, não tinha uma mulher que não se encantasse com sua figura máscula, totalmente diferente do estereótipo da maioria dos maridos – quase todos velhos demais para serem atraentes. Nina sabia que era traída pelo amante, o açougueiro não era homem de uma só mulher e, cada vez que terminavam de transar, ela repetia para si mesma:
- Ou eu acabo com isso, terminando com ele, ou dou um tiro nas amantes, ah, se dou...
Quando chegou na clínica encontrou aquela confusão com a mulher de um dos seus patrões.
- Onde esteve, senhorita Nina?
- Eu... eu... fui no banco, Dr. Abílio...
- A senhorita não tem noção do que foi isso aqui hoje, não tem. Mas depois conversamos. Ajuda o Leandro a colocar minha esposa no carro.
- Não precisa, eu levo-a sozinho – Antecipou-se Leandro.
Dr. Abílio ficou conversando com Dr. Alberto sobre as últimas recomendações. Ainda trêmula e fraca, Rosaura abriu os olhos e pôde ver, em toda a plenitude jovem, a beleza do estudante. Era alto, corpo bem torneado pela prática de esportes, traços fortes, e uns olhos grandes que para ela pareceram de anjo. “Meu Deus, meu Deus, estou perdida!”, pensou, constatando que aquele rapaz ainda iria destruir toda a sua vida. Na calçada, o chofer, que se distraíra lendo a revista O Cruzeiro, ergueu-se rapidamente e abriu a porta para a patroa. Leandro ajudou-a a levantar-se, porém, como estava fraca, foi necessário colocá-la entre seus braços até a poltrona do automóvel. Diante daquela cena, João, o chofer, um senhor de oitenta anos, teve a nítida certeza de que havia algo entre aqueles dois, pois era um homem vivido.
Mais tarde, já em casa, acomodada em sua cama com colcha de seda e cetim rosa e branco, com o rosto lívido, Rosaura teve mais uma vez certeza de que aquele dia, em toda a sua totalidade de acontecimentos, era o início do fim de sua existência.
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