quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O Médico e a Mulher Infeliz: Capítulo 3




No capítulo anterior...

D. Rosaura foi levada para a clínica. Após uma série de exames, foi constatado problemas de provável fundo emocional. Na saída reparou no jovem e belo médico Leandro, e percebeu que ele ainda ira arruinar sua vida.


Capítulo 3


A vida voltou ao normal na casa dos Albuquerque ao longo de quatro semanas. Rosaura já estava recuperada de sua crise emocional, porém, sua alma queimava toda vez que se lembrava de Leandro.

- Mas que está havendo comigo...

Dizia ela, numa manhã fresca, sentada em frente ao espelho, penteando os cabelos. Surpreendia-se pensando em Leandro em diversos momentos; almoçando, fazendo compras ou passeando. No começo achou que se tratava de uma simples admiração, mas após um mês, desesperada e consumida, tinha certeza de que era amor, sim, era um grande e inesperado amor. Não podia mais olhar para a cara do esposo que tinha nojo, e até agradeceu a Deus por ele não lhe procurar mais na cama.

- Aquele nojento...

Seu descontentamento diante daquele amor por Leandro transformara-se em uma profunda e incontrolável raiva. Deixara de sentir-se humilhada e passou a ter mais amor próprio, porém, tinha raiva domarido, e o culpava por seu casamento fracassado.

- Ah, se um casamento pudesse ser desfeito...

Lamentou ela, terminando de pentear-se.

Nesse momento, a criada, Júlia, uma mulata de dezessete anos, bateu na porta:

- Entre – disse Rosaura.

- Senhora, telefone. É do consultório do Dr. Abílio.

Ao ouvir aquela palavra Rosaura quase desmaiou, e deve ter ficado pálida feito uma vela, pois a criada demonstrou surpresa em seu rostinho moreno. Gelou com a possibilidade de ser Leandro, ainda que aquilo fosse completamente descabido. Virou-se para a menina e disse:

- Quem é?

- Sei não senhora.

E falou, trêmula:

- Diga que já estou indo.

Olhou-se no espelho na tentativa ridícula de ver se estava bonita, quando ia apenas falar ao telefone. Ajeitou os cabelos e desceu as escadas. O telefone estava lá, na mesinha, e do outro lado podia estar o motivo de sua desgraça. Desejou que não fosse ele, que realmente não fosse, mas ao mesmo tempo desejava ouvir sua voz. Apanhou o telefone entre suas mãos suadas e disse, balbuciando:

- A-alô?

- Senhora Albuquerque?

Era voz de mulher, obviamente a secretária. Respirou aliviada e decepcionada.

- Senhorita Nina, aconteceu alguma coisa?

- Nada de grave, pode ficar tranqüila. É que o Dr. Abílio precisa de uma pasta de documentos que ficou...

- Sobre a escrivaninha, já ia ligar avisando-o... Aliás, sabe se ele passa bem? Ontem ele chegou em casa com essa pasta, todo estranho, nem conversou direito comigo antes de meu mal estar...

 
- Pois é, é essa pasta mesmo. Mas não sei nada não senhora, ele estava perfeitamente normal. Ele só quer que a senhora traga aqui na clínica para ele, pois é muito importante.

Novamente, a palidez e a sensação de gelo. Como ir até lá e sem ver Leandro? O que iria fazer? Como disfarçar sua admiração e amor por um homem que nem conhecia e, pior, tinha idade para ser seu filho? Não, não iria mesmo.

E falou, de maneira rude:

- Mas não tem ninguém para pegar aqui?

Nina falou, com receio:

- Senhora Albuquerque, a senhora sabe como é o Dr. Abílio, com essas coisas não confia em ninguém, só na senhora.

Por um momento Rosaura achou graça naquela confiança exacerbada. Como podia um homem que lhe considerava tão indiferente possuir tanta confiança?

Respondeu:

- Mas menina, eu não posso, e-eu... eu tenho coisas para fazer e... – Imediatamente achou-se ridícula, obviamente a secretária sabia que ela não fazia nada e passava o dia se penteando e fazendo compras – Eu tenho que...

- Desculpe a insistência, D. Rosaura, mas o Dr. Abílio tem muita pressa, e se a senhora não trouxer, posso perder o meu emprego.

Contrariada, mas com remorso por causar algum mal para aquela moça, enfim consentiu:

- Tá, eu levo... vou já, avise para o Dr. Abílio.

E desligou o aparelho. Sentiu uma necessidade automática de ficar mais bonita, atraente e feminina, e logo censurou-se por pensar assim. Mas não pôde evitar. Fez um novo penteado, vestiu-se com extrema elegância e perfumou os braços com Chanel n.º 5, apenas duas gotas. Era assim que usava, desde que viu a declaração de uma certa atriz, afirmando que, para dormir, usava nada mais que duas gotas da fragrância. E saiu, linda e amedrontada.

João já estava com o carro pronto. Pelo retrovisor, pôde ver a patroa retocando o batom, o cabelo, abanando o rosto, nervosa. Não dissera nada, mas sabia que estava indo à clínica, e quem iria ver.



Leia os capítulos anteriores:



Capítulo 1
Capítulo 2

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