domingo, 23 de dezembro de 2012

O menino que não suava


Elias era um menino de nove anos, e ele era diferente de todas as pessoas da sua cidade. Na verdade, de todo o planeta. Ele não suava. Elias tinha um problema glandular grave e raro que não lhe permitia transpirar. Por isso, não podia correr, se exercitar, morrer de rir, brincar demais e, muito menos, sair em dias de calor. Vivia sempre com um ventilador sobre sua cabeça, caso o ar-condicionado falhasse, grudado em suas costas por um cabo de vassoura, apontado para baixo. Se ele sentisse calor, a pressão interna de seu corpo não poderia ser controlada, e Elias podia até explodir. 

Por isso, quando as pilhas de seu ventiladorzinho acabavam, sua mãe se desesperava e ficava a abaná-lo até trocar as pilhas. Elias não ia para a escola e seus passeios, nunca vira o mar, não podia sair na rua para comer sorvete. E nem podia beijar, pois o amor dá calor. 

Um dia, da janela de sua casa gelada, viu Isadora, sua vizinha, passando pela rua, e amou-a na hora. Sua mãe, em um lampejo de clarividência, viu todo o futuro do seu filho. Viu-o desmontando o seu ventilador, abrindo a porta daquele ambiente resfriado, pegando o calor do verão e entregando seus lábios para Isadora, na ânsia que estava de amar e tal, e de tanto calor de amor acabou explodindo nos braços da menina, mas não explodiu sangue, e sim penas de pássaro, talvez o que ajudava a sufocar seus poros. Em um ato desesperado, colocou o menino em uma caixa, pôs comida para o seu menino e o despachou para a Antártida, onde estaria a salvo para todo o sempre. 

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