Trilha do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=QkMJMNGWeRk
Sexta-feira.
Marcela colocou seu melhor vestido. Uma roupa de domingo,
praticamente. Se achou besta por estar tão entregue para alguém que mal
conhece, mas “foda-se”, pensou.
Tomou uns goles de café.
O perfume, suave.
Por um momento olhou sua figura no espelho. Estava bonita.
Lembrou da forma cretina que Romeu terminou o namoro.
Um namoro longo, não uma brincadeira da festinha da escola.
Quando o conheceu, através de uma sala de bate-papo, pensou
que seria apenas sexo casual. Mas Marcela caiu de amores por Romeu.
Tatuado, meio vida loka, o tipo de cara que não quer nenhum
compromisso dito de ~gente grande~. Traduzindo, Romeu era um vagabundo. Em um
mês estavam juntos. Foram anos bem felizes.
Mas hoje, diante daquele espelho, uma ficha pareceu cair: o
quanto carente estava pra topar embarcar em uma aventura com um desconhecido,
que para os seus padrões, tinha tudo pra ser um barco furado? Ou apenas
resolveu aproveitar o momento, de fato?
Foi interrompida.
*Aviso do whatsapp*
Márcio: cheguei
Márcio: Tô esperando no carro
Márcio: <3 p="">
Marcela: ok!
Marcela: Tô descendo
Se foi ela, meio que flutuando pelos degraus, de tão alegre.
Elevador estragado.
Márcio estava diferente sem o uniforme do café. O achou
ainda mais bonito. Charmoso, talvez.
Foram num restaurante árabe, o favorito de Márcio. Marcela
nunca havia ido em um, ficou com medo de gafes. Mas era tudo bem atraente no
cardápio. Só não pediu quibe cru.
Márcio era o tipo de homem que não deixava o
assunto morrer.
Sempre tinha um novo tópico.
Falaram de filmes bons, filmes que queriam assistir. Márcio
gostava de clássicos, tipo Laranja Mecânica, Pulp Fiction, e lia muitos livros
também. Até mesmo alguns filósofos. Pensou rapidamente que Márcio deveria estar
fora do balcão de um café, mas certamente estava lá pra bancar a faculdade.
Márcio falou, em seguida, sobre música, e mais da metade do
que citou Marcela nunca tinha sequer ouvido falar.
No geral, Marcela estava bem confortável, e certa de que
estava agradando. Marcela adorou os charutos de repolho que ele pediu para ela
experimentar.
“Não lembro quando tive um date tão agradável pela última
vez”, pensou, enquanto Márcio emendava o fim de um assunto com outro.
Marcela riu com os olhos, era sensual. Assim como Tyra Banks
ensinou em um programa de TV, o chamado Smize!!! Porque estava mesmo satisfeita
e querendo fidelizar a atração de Márcio.
Na saída do restaurante Márcio beijou Marcela. Beijou com
carinho, mas com pegada. E a levou de volta pra casa. Marcela achou fofo.
Quando entrou no apartamento mandou um Whatsapp.
Marcela: Adorei te ver.
Márcio: ✔✔
***
Bia estava sentindo-se péssima. Por um momento analisou sua
vida na internet. Era uma pessoa popular nas redes sociais. Tinha mais de dois
mil amigos no Facebook, três mil seguidores no Twitter, popular por seu gosto
musical no Lastfm (onde já havia arrumado alguns encontros, inclusive). Usava
um avatar tão bonito que era paquerada até pelo LinkedIn. No entanto, estava
sempre sozinha. Tantos amigos, likes, comentários e replys em nada supriam a
necessidade orgânica e afetiva que buscava.
A vida virtual é ingrata.
O faz popular, mas em um universo paralelo. Onde as pessoas
não fazem questão de conhecerem umas às outras e de se relacionarem de verdade.
É muita zona de conforto. Ou apenas maluquice.
Notificação no celular.
Era uma DM. Alguém elogiando a sua foto nova de avatar e
lamentando morar longe.
Bia não respondeu.
Naquela noite de sexta, enquanto Marcela jantava com Márcio,
Bia apagou seu perfil no Tinder. Definitivamente.
Bônus do capítulo: aprenda a sorrir com os olhos (Smize),
por Tyra Banks - https://www.youtube.com/watch?v=IolPTBw6M9M
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Tá cada vez mais difícil encontrar alguém disposto a sair da zona de conforto. Galera fica mais de cabeça baixa, de olho no celular, do que percebendo quem está ao lado, carente também, e louco para viver.
ResponderExcluirAh mas quem tá do lado também está de olho no celular... Oh Lord... ¬¬