quinta-feira, 29 de maio de 2014

Amores WI-FI - CAPÍTULO 4






Sexta-feira.
Marcela colocou seu melhor vestido. Uma roupa de domingo, praticamente. Se achou besta por estar tão entregue para alguém que mal conhece, mas “foda-se”, pensou.
Tomou uns goles de café.
O perfume, suave.
Por um momento olhou sua figura no espelho. Estava bonita. Lembrou da forma cretina que Romeu terminou o namoro.
Um namoro longo, não uma brincadeira da festinha da escola.
Quando o conheceu, através de uma sala de bate-papo, pensou que seria apenas sexo casual. Mas Marcela caiu de amores por Romeu.
Tatuado, meio vida loka, o tipo de cara que não quer nenhum compromisso dito de ~gente grande~. Traduzindo, Romeu era um vagabundo. Em um mês estavam juntos. Foram anos bem felizes.
Mas hoje, diante daquele espelho, uma ficha pareceu cair: o quanto carente estava pra topar embarcar em uma aventura com um desconhecido, que para os seus padrões, tinha tudo pra ser um barco furado? Ou apenas resolveu aproveitar o momento, de fato?
Foi interrompida.
*Aviso do whatsapp*
Márcio: cheguei
Márcio: Tô esperando no carro
Márcio: <3 p="">
Marcela: ok!
Marcela: Tô descendo
Se foi ela, meio que flutuando pelos degraus, de tão alegre.
Elevador estragado.
Márcio estava diferente sem o uniforme do café. O achou ainda mais bonito. Charmoso, talvez.
Foram num restaurante árabe, o favorito de Márcio. Marcela nunca havia ido em um, ficou com medo de gafes. Mas era tudo bem atraente no cardápio. Só não pediu quibe cru.
Márcio era o tipo de homem que não deixava o assunto morrer.
Sempre tinha um novo tópico.
Falaram de filmes bons, filmes que queriam assistir. Márcio gostava de clássicos, tipo Laranja Mecânica, Pulp Fiction, e lia muitos livros também. Até mesmo alguns filósofos. Pensou rapidamente que Márcio deveria estar fora do balcão de um café, mas certamente estava lá pra bancar a faculdade.
Márcio falou, em seguida, sobre música, e mais da metade do que citou Marcela nunca tinha sequer ouvido falar.
No geral, Marcela estava bem confortável, e certa de que estava agradando. Marcela adorou os charutos de repolho que ele pediu para ela experimentar.
“Não lembro quando tive um date tão agradável pela última vez”, pensou, enquanto Márcio emendava o fim de um assunto com outro.
Marcela riu com os olhos, era sensual. Assim como Tyra Banks ensinou em um programa de TV, o chamado Smize!!! Porque estava mesmo satisfeita e querendo fidelizar a atração de Márcio.
Na saída do restaurante Márcio beijou Marcela. Beijou com carinho, mas com pegada. E a levou de volta pra casa. Marcela achou fofo. Quando entrou no apartamento mandou um Whatsapp.
Marcela: Adorei te ver.
Márcio: ✔✔

***

Bia estava sentindo-se péssima. Por um momento analisou sua vida na internet. Era uma pessoa popular nas redes sociais. Tinha mais de dois mil amigos no Facebook, três mil seguidores no Twitter, popular por seu gosto musical no Lastfm (onde já havia arrumado alguns encontros, inclusive). Usava um avatar tão bonito que era paquerada até pelo LinkedIn. No entanto, estava sempre sozinha. Tantos amigos, likes, comentários e replys em nada supriam a necessidade orgânica e afetiva que buscava.  
A vida virtual é ingrata.
O faz popular, mas em um universo paralelo. Onde as pessoas não fazem questão de conhecerem umas às outras e de se relacionarem de verdade. É muita zona de conforto. Ou apenas maluquice.
Notificação no celular.
Era uma DM. Alguém elogiando a sua foto nova de avatar e lamentando morar longe.
Bia não respondeu.
Naquela noite de sexta, enquanto Marcela jantava com Márcio, Bia apagou seu perfil no Tinder. Definitivamente.



Bônus do capítulo: aprenda a sorrir com os olhos (Smize), por Tyra Banks - https://www.youtube.com/watch?v=IolPTBw6M9M

Um comentário:

  1. Tá cada vez mais difícil encontrar alguém disposto a sair da zona de conforto. Galera fica mais de cabeça baixa, de olho no celular, do que percebendo quem está ao lado, carente também, e louco para viver.
    Ah mas quem tá do lado também está de olho no celular... Oh Lord... ¬¬

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