segunda-feira, 23 de junho de 2014

Amores WI-FI SEASON PREMIERE - Temporada 3 Episódio 1: O Príncipe Passageiro




Previously, on Amores WI-FI:

- A minha vida amorosa é um eterno aguardar do match no Tinder.
Disse Bia, enquanto remexia no aplicativo de celular.
***
Sozinha de novo, Marcela. Naturalmente.
Enquanto voltava pra casa, uma música tocava na sua cabeça. As pessoas eram estranhas, de fato. Caminhava pela rua sentindo-se nos end credits de algum seriado melodramático, pois esses eram piores do que o dos filmes. Os filmes se resolvem logo, para o bem e par ao mal, e os seriados continuam. Se estivesse mesmo em um, nessa hora subiriam os letreiros, até a imagem entrar em fade out. Márcio era mais um homem que ficava pra trás.
***
Bia já estava alterada, e mesmo nervosa começou a dançar, naquele rito animal em que a fêmea está pronta para a cópula. Mas Bia não tava pensando em copular, exatamente.
Ela se aproximou e pegou na mão de Bebezinho. Bia estava ocupando o papel do macho predador.
“Meu deus, meu Deus...”
Foi tudo o que conseguiu pensar.
***
Uma coisa era verdade: No amor, a gente nunca tem certeza de nada, apenas deve-se esperar que dê certo. Afinal, a conexão entre duas pessoas nunca vai ser perfeita. O importante é recuperar o sinal quando cair, sempre que possível. Porque ele sempre cai.


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Temporada 3
Episódio 1 – O príncipe passageiro



Independente do meio, as relações afetivas sempre serão costuradas por períodos de dureza. Às vezes, mais dureza do que doçura. Mas as partes suaves estão aí para compensar o lado ruim.
Porque não importa se um relacionamento nasce por meio da internet ou fora dela, as pessoas só precisam se desvencilhar da ideia de que vão viver pra sempre dentro de uma comédia romântica.
Marcela vinha pensando nisso ultimamente. Mas ao mesmo tempo, achava que todo mundo tinha o direito de viver, mesmo que por pouquíssimo tempo, esse romantismo cinematográfico.

***

Marcela acordou bem disposta, e nem havia feito sexo.
Estava com uma sensação de alegria. Com um pouco de esforço, podia ouvir passarinhos cantando ao seu redor. Arrumando o quarto para ela e tudo.
Sentia-se em um comercial de margarina. Mas sem a parte da família e tal.
O motivo estava na noite de quinta para sexta. A noite anterior.

Algumas horas antes.

Estava saindo do trabalho com suas chefes para um happy hour e chamou Bia. Todos foram para um final de tarde regado a pizza e cerveja barata. Bia, por sua vez, chamou uns amigos que estavam visitando a cidade. Primeiramente chegaram duas meninas. Simpáticas, educadas e contando as maravilhosas impressões do lugar que estavam visitando.
O tempo seguiu, as cervejas secaram nos copos, e a risada era solta.
Foi quando chegou o terceiro amigo de Bia.
Marcela nunca soube precisar o que pensou, mas ficou encantada com a visão de Ícaro.
Ícaro, como na mitologia grega.
Não ficava encantada por um homem que tenha visto fora da internet desde Márcio. Os níveis de encantamento variavam, mas aquele conjunto de reações descrito em filmes açucarados era a mais absoluta verdade.
Marcela ficou um tanto nervosa com a presença de Ícaro.
Existem pessoas que possuem essa capacidade, de encantar os outros com sutilezas. Com sorrisos. Com diferentes formas de olhar.
Foi assim com Marcela.  
Naquele início de noite, Marcela sentiu-se uma adolescente. Não sabia que assunto conversar, e nem se devia, pois achou que Ícaro fosse um flerte de Bia.
Mas não era. Mais tarde descobriria que Bia estava marcando date com uma nova combinação do Tinder.
Sim, Bia ainda usava o Tinder. Às vezes sem trocar uma palavra com nenhuma de suas combinações, era o eterno sentimento de “vai que”.
*Notificação do Tinder - Congratulations you have a new match! *
- Bia, você não para?
- Ok, ok vou desligar o celular.
As pessoas começaram a ir embora.
Restaram na mesa Marcela, Bia e Ícaro.
- Quer ir em uma festa conosco?
Perguntou Bia.
E ele aceitou. Lá se foram os três.

***

Enquanto isso, em casa, Tina conversava com Rafael pelo Facebook.
Depois do reencontro, no dia dos namorados, ainda não tinham conseguido marcar um date oficial.
Já fazia quase um mês.
Tina: E então Rafa, acho que nosso date vai virar lenda
Rafael: Não!
Rafael: Estamos apenas com um problema de agenda
Rafael: Como falei, espero por isso desde o ensino médio
Rafael: :D
E Tina se derreteu toda com aquelas palavras.
Não estava acostumada a ser bem tratada, a essas sutilezas que fugiam totalmente do costumeiro “quero trepar com você” ou “tem foto pelada?”, que tanto já tinha visto em casos surgidos na web.
Rafael não era como os outros, ao menos em parte. E era assim desde adolescente, pelo que se lembrava.
De diferente, ele só tinha atualmente uma barba clarinha que adornava seu rosto.
Tina estava em um momento bastante atípico.
Porém ainda desempregada.
Não se pode ter tudo.

***

Bia, Marcela e Ícaro iam caminhando pelas ladeiras da cidade totalmente envolvidos em conversas aparentemente desconexas, mas sempre ligadas umas às outras por algum elemento.
Ícaro falava da cidade onde nasceu, da cidade onde atualmente morava.
Das diferenças de costumes, do local que dividia moradia, de repente falava sobre estudos, sobre as muitas viagens que havia feito, da saudade das origens.
Ícaro era muito mais novo do que Marcela, mas naquela pouca interação, percebeu que ele guardava uma carga de vivências muito intensa.
E isso despertou ainda mais o seu interesse.
Mas até o momento não havia notado nenhum indício de que poderia ser correspondida. Inclusive porque ainda achava ser um casinho de Bia.
Chegaram na boate e não havia fila. A música não estava das melhores, mas a expectativa de não saber o que iria acontecer deixou-a empolgada.
Marcela parecia invisível para os outros homens, e isso nem a incomodou.
E tocou M.I.A., uma de suas artistas favoritas.
E uma das favoritas de Ícaro.
A música não tinha absolutamente nada a ver com a ocasião, mas por algum motivo agilizou as engrenagens da atração.
Marcela olhou para Ícaro, pegou na sua mão e trocaram um beijo demorado.
Nem se recorda quanto tempo durou aquele primeiro beijo, de tão intenso.
Enquanto beijava Ícaro, fez questão de permanecer com os olhos abertos, para se certificar que realmente era ele que estava ali, colado na sua cara, e não um qualquer, resultado de sua bebedeira.
Mas era ele, em toda a sua totalidade de homem encantador.



E assim, Marcela teve certeza de que histórias bacanas podiam acontecer quando não se espera muito delas.

***

Quando acordou, ouviu os passarinhos da Disney cantarolando na sua janela.
Entretanto, estava sempre no limite entre a realidade e a fantasia, porque julgava ser necessário.
Para não cair.
E enquanto ouvia os passarinhos encantados, preparava um café pra espantar a ressaca e acessava as redes sociais no celular.
E-mais de trabalho.
Notificações de Facebook.
Whatsapp de Tina. 

E o número de Ícaro gravado. 

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