Temporada 2
Capítulo 8 – Roubaram minha alegria
Capítulo 8 – Roubaram minha alegria
Trilha deste capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=H8tS5UQmNQM
A quarta-feira amanheceu em polvorosa.
Na verdade a semana toda estava sendo atípica para Bia e
Marcela, e para todas as pessoas também. Sem contar uma possível conjunção dos
astros para dar tudo errado, havia a Copa do Mundo.
Começando bem no Dia dos Namorados.
Era muita informação.
E havia a festa logo mais, em que Marcela iria acompanhada
de Arthur.
Mas estava estressada mesmo era por outro motivo. Logo cedo, Tina postou novas
fotos marcadas.
Resolveu dar um basta e ligou para a amiga.
- Ô Tina, não quero ser indelicada, mas CHE-GA de postar
essas fotos em que aparecemos ridículas. Porque você está bem linda em todas.
Acha justo? Acha?
Marcela estava descarregando sua raiva.
Estava quase descontrolada.
- De-desculpe Marcela, vou apagar, e não vou postar mais.
Até porque acabaram.
- Ótimo. Aliás, vai na festa hoje? Sem a máquina, espero.
- Vou sim.
Tina estava num momento delicadíssimo de sua vida.
Além de estar desempregada, estava insatisfeita
afetivamente.
E quem não estava.
Iria desabafar com Bia mais tarde sobre o fato de não ser o
tipo de mulher que os homens querem namorar. Ao menos ela achava que eles
pensavam isso.
Porque todos os caras interessantes que conhecia só queriam
uma noite apenas. Tina nem sempre fazia sexo no primeiro encontro, mas não se
policiava com isso, se estivesse com vontade, fazia. Mas não importava as
circunstâncias, sempre acabava sozinha.
Ou, talvez, Tina sabotava a si mesma ao perceber que se
tratava de um cara legal, e criava todas as barreiras, as quais acha serem
culpa dos astros. Mas Tina tinha muito potencial, só precisava aprender a não
procurar nada.
***
Bia estava em dúvida se escrevia ou não para Eduardo.
Por que era sempre tão complicado saber o momento certo de
fazer contato com alguém? E como saber se a pessoa é ocupada, ou apenas não
quer mais nada?
São essas pequenas nuances de interpretação que podiam
arruinar qualquer possibilidade. Mas faz parte do pacote que a vida moderna
traz.
Resolveu não escrever. Ainda estava com a sensação de que
tudo havia desandado quando falou que precisava pegar o último metrô.
“Mas sabe, se ele tiver afim, acho que ele pode me
procurar.”
Porém, era fato que ainda iria procurá-lo. Bia detestava
ficar com assuntos afetivos mal resolvidos.
***
Marcela já estava em casa quando Bia chegou. Secava o cabelo
apressada, queria se dedicar mais à maquiagem. Apesar de Arthur nunca tê-la
visto muito maquiada. Mas “sei lá”, pensou, queria se sentir mais bonita.
Bia, por outro lado, estava desanimada. Mas iria porque
prometeu.
Conferiu seu celular num vício antigo de verificar novas
notificações do Tinder, mas não havia mais Tinder.
Lembrou que uma vez, querendo de toda maneira um date que
prestasse, resgatou uma mensagem não respondida de um homem mais velho,
interessantíssimo. Não respondeu na época por algo que não se lembrava.
Resolveu mandar um oi.
*Sua mensagem não pôde ser enviada*
A vida deveria vir com esses alertas também. Se não era pra
ela sair com aquele cara e a vida lhe mandava uma dica em forma de erro de
rede, porque não funcionava assim com outros pretendentes ruins?
Tomou um banho e colocou um vestido qualquer, não estava
muito inserida no espírito de festa.
***
Tina já as esperava na fila, eufórica como sempre.
Certamente Tina gastava boa parte do seu tempo fingindo
estar feliz, e fingia tão bem que acabava convencendo a si mesma que estava
tudo bem.
Tina levou um rápido esporro pela história das fotos e fez
questão de apagar o álbum ali mesmo.
- Agora não adianta, Tina.
Falou Marcela.
- Uma vez na internet, a informação é eternizada.
Mas estava tudo bem. Marcela estava tão empolgada que não se
incomodou por tão pouco.
Quando entraram, Bia tratou de pegar logo um combo duplo.
Queria esquecer um pouco o seu fracasso do dia anterior.
Marcela já foi logo procurando Arthur, que não havia chegado
ainda.
Tina estava na frente do espelho fazendo selfies. E pediu
pra fazer uma com as meninas também.
- Melhor agora, que ainda não estamos bêbadas e com a cara
amassada!
Disse ela. E fizeram a foto.
Não demorou muito para a boate ficar lotado, e estava
difícil circular e se manter em um lugar de fácil acesso. Marcela queria ser
encontrada assim que Arthur chegasse.
Quando voltavam do banheiro deu de cara com ele.
- Vou dar oi para uns amigos e já volto.
Marcela ficou parada feito uma adolescente, mas não estava
nem aí.
Ele voltou.
Enquanto isso, Bia pensava: “Senhor, já é dia dos namorados,
nos defenda!”
Naturalmente, Marcela e Arthur ficaram juntos a festa
inteira. Num momento enorme de sintonia, como não sentiu nem com Márcio.
Bia estava dançando com Tina quando, por volta das quatro
horas, Arthur falou:
- Vamos sair pra comer alguma coisa?
Marcela fez que sim e avisou Bia.
Tina já estava se pegando com um cara no outro lado da
pista.
Os dois saíram juntos pela avenida, de mãos dadas, a pé. Trocado
beijos no meio da rua sem carros. Feito um casal do tipo apaixonadíssimo.
Poderiam ter pego um táxi, mas pelo estado de embriaguez de
ambos, nem perceberam que iriam caminhar muito.
Ao passar em frente à uma praça, Marcela olhou para trás e
percebeu que iriam ser assaltados.
Arthur largou sua mão.
Bateu aquela sensação de que a morte toca a campainha e não
existe vontade de abrir a porta.
E numa jogada rápida de cena, Arthur começou a trocar socos
com um dos três homens.
Os outros dois tentaram passar uma rasteira em Marcela, que
resistiu e não caiu no chão.
Um deles pegou o celular que estava no bolsinho da sua saia.
Marcela, mesmo com a tela do aparelho toda fodida, tentou
argumentar, no auge da bebedeira:
- Moço, pelo amor de Deus, está quebrado!!
Mas não houve tempo para mais nada.
Assim que eles se distanciaram, foi verificar se Arthur
estava bem.
Apenas um soco de raspão no rosto.
A seguir ficou um clima estranho no ar. Marcela sentiu que
algo mais estava sendo furtado.
Além dos documentos e de seu celular com a tela trincada,
Marcela teve certeza absoluta que, de alguma forma, aqueles meliantes levaram
junto a oportunidade de sair novamente com Arthur. Quando eles correram, se
embrenhando na escuridão da cidade vazia, ia com eles sua alegria. Teve
certeza.
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