quinta-feira, 26 de junho de 2014

Amores WI-FI - Temporada 3 Episódio 4: Amarguras e Doçuras





Temporada 3
Episódio 4 – Amarguras e doçuras



Apesar da torta Marta Rocha que levou – porque foi grande demais pra ser chamado de bolo – Bia não deixou que o caso abalasse suas estruturas virtuais. E já estava respondendo um novo match no Tinder.
- Mas Bia, você não tem limites, não?
Questionou Marcela.
- Eu não, quem tem limites é município.
Bia não havia percebido, mas estava entrando num daqueles estados de carência em que os requisitos diminuem e o bom senso vai encolhendo que nem roupa que não podia ser colocada na secadora.
Talvez estivesse na TPM.
Independente de qualquer estado emocional, temporário ou não, começou a conversar com Gabriel.
Gabriel era do tipo galanteador, e resumia algumas características que foram o suficiente para Bia aceitar um date: alto, jovem e com bom papo.
Sim, características um tanto diferentes entre si. Mas considerou por isso.
Apesar da foto de Gabriel esconder um pouco seu rosto nas fotos resolveu correr o risco, afinal, no seu estado atual, como disse para Marcela:
- Não tenho gosto, tenho pressa.
- Que horror!
Respondeu para a amiga, horrorizada.
- Ué, não vou mentir. É verdade. E logo mais será você.
- Não sou dessas. Mesmo na seca ou bêbada, mantenho meus critérios.
- Aham. Vamos ver, então.
Bia estava amarga. Nem todo açúcar do mundo poderia mudar seu jeito, por isso Marcela desconsiderou seus comentários, mais venenosos que aquele pó que sai do anel de vilãs de novela mexicana.

***

Tina estava eufórica.
Não apenas por estar marcando date com Rafael, mas por estar envolvida com algo que nem lembrava mais como lidar.
Ultimamente, sua vida social se resumia a baladas, homens de uma noite só, envolvimento zero.
Sem expectativas, o que por um lado era bom.
Mas por outro, havia perdido a prática em apreciar todas as etapas que um cara legal proporcionava.
Ok, os idiotas também proporcionavam essas coisas quando tinham algum objetivo, mas dessa vez estava sendo diferente.
O resultado estava na sua apreensão.
E não queria estragar tudo.
Pensou em procurar alguma palavra de consolo no grupinho do Whatsapp, mas havia percebido que Bia não estava num bom momento para falar sobre o assunto, quando mandou outra mensagem e ela respondeu azedíssima, na noite de domingo.
Isso que não sabia da missa a metade.
Mas voltou a se concentrar no seu problema.
Não era exatamente um problema, mas estava cheia de dúvidas, estava sem saber como agir.
Rafael já havia demonstrado interesse, porém não era do tipo que dava bom dia, boa tarde, boa noite, ou ficava mandando mensagens aleatórias apenas para puxar assunto. 
“Porque Rafael não é mulher. E nem carente.”
Falou para si mesma, e logo recriminou o seu próprio machismo.
Existiam homens carentes por aí. E mesmo não sendo carentes, existiam aqueles que tinham um jeito de ser diferente.
“Esses são viados.”
Novamente sendo sexista.
A verdade era que Tina sempre detestou quem ficava correndo atrás, e quando não corriam, se sentia menos desejada, rejeitada e desaplaudida.
Sentia-se o forninho de Giovana caindo. E sem ninguém pra juntar.
Nessas situações se sentia feia, e queria ter a autoestima como a de muitas mulheres: maior que o Everest, mesmo elas não tendo elementos o suficiente para um morrinho de areia.
Enfim, Tina estava em mais uma de suas crises. E estava na TPM.
*Notificação do Whatsapp*
Rafael: Oi Tina, tudo bem?
Rafael: Só queria dizer oi.
Rafael: É que arrumando umas pastas antigas achei fotos da escola, e te vi numa.
Rafael. Enfim. Oi.
E Tina, assim como Roberta Miranda disse no Twitter certa vez, não sabia o que escrever, apenas sentir.
Um sentimento de “ :3 “

***

Trilha final deste episódio: https://www.youtube.com/watch?v=WXpW9D5-ZvE

Mais tarde, antes de dormir, Marcela ainda pensava nas coisas que Bia havia dito, e questionou a si mesma se era verdade.
Já havia passado por inúmeros períodos de seca antes e depois do seu longo namoro com Romeu; sexual, afetiva, etc. Tinha épocas que queria apenas um beijo, um abraço. Tinha épocas que queria fazer sexo feito bichos de documentário da National Geographic.
Mas rebuscando seu (pequeno) histórico de parceiros eventuais, jamais foi movida por impulso. Cada um tinha algo que estava naquilo que lhe atraía. Portanto, não podia ser chamada de desesperada.
E constatando isso, ficou um pouco chateada com a amiga.
Depois iria ter uma conversa com ela.
Abriu o Facebook para verificar algumas notificações e ficou de bobeira pelo feed de notícias.
Muitos compartilhamentos, gente ainda fazendo piada com a Copa que já havia acabado, os discursos políticos de sempre, as piadas do Chapolim Sincero e (pasme) Gina Indelicada.
“Preciso cancelar algumas assinaturas”, pensou.
Foi quando começou a ler o post de um amigo que morava em outro estado e reparou, nos comentários, em uma figura particularmente interessante.
Sim, era um homem.
Sim, ele, esteticamente, se enquadrava naquilo que lhe chamava atenção no sexo oposto.
Sim, ele era barbudo.
Sim, ele era bonito, e pelos comentários, muito bem humorado.
Sim, Marcela o stalkeou naquela noite, enquanto pôde.
Mas nada fez.
Apenas salvou, nos favoritos do seu navegador, o perfil daquele homem.

E foi dormir, com a certeza de que o amanhã seria um bom dia. 

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