terça-feira, 1 de julho de 2014

Amores WI-FI - Temporada 3 Episódio 7: Não Temos Passado, Mas Queremos Voltar No Tempo





Temporada 3
Episódio 7 – Não temos passado, mas queremos voltar no tempo  

Trilha inicial deste episódio: https://www.youtube.com/watch?v=ZONKoKIQ9RY

Rafael murchou mais do que balão de festa estourado.
Até estava preparado para uma recusa, mas não assim, à queima roupa. Nem ao menos Tina pediu um tempo para pensar.
Suas idealizações de romantismo corriam pelo ralo naquele momento.
- Não?
- Não, Rafael.
Tina pegou a bolsinha da mão de Rafael, catou sua chave e colocou na porta.
- Não, porque, pelo fato de nós não termos nenhum passado, precisamos ter alguma história em comum. Entende? O que eu quis dizer com “não” é que eu quero começar do zero com você, já que não dá pra voltar e fazer de novo. Quero deixar aqueles fantasmas pra trás. Passar a limpo, sem truques de corretivo líquido. Quero ficar com você sim, e se tudo der certo, num futuro, ser sua namorada.
Tina estava pasma com sua própria maturidade. Achou até que estivesse possuída por algum espírito que regia os relacionamentos.
Rafael compreendeu, e o balão murcho do seu romantismo até se inflou um pouco.
E assim, sem medo de ser julgada, Tina convidou Rafael para entrar.

***

No dia seguinte Bia preparava-se para o seu date.
Estava ansiosa para conhecer Gabriel, embora com medo de levar outro bolo.
Mas não levou.
Em um bar prestes a ser fechado para sempre, sentou-se para esperar o rapaz. Preferiu uma mesa na área externa. Caso levasse bolo, teria menos pessoas para ver sua cara de derrotada.
Gabriel chegou pouco depois, vestindo o mesmo moletom que usava na foto de seu perfil.
O achou super interessante ao vivo.
Bia estava consciente em não elaborar nenhum perfil para agradar. Se tivesse que criticar algo que ele gostasse, iria criticar. E elogiar também. 
Mas o que aconteceu foi que não encontrou nada que, num primeiro momento, pudesse discordar.

Gabriel era um rapaz de muito boa conversa. E para seu deleite, citou diversos filmes que adorava, por exemplo, e indicou outros que nunca tinha ouvido falar.
Beberam cerveja e trocaram olhares.
Bia adorava esse momento, em que o flerte era recíproco, e se instaurava um clima delicioso em que o beijo é certo no final. Ou no meio.
Aquele date estava sendo diferente em muitos aspectos. Nem pareciam os costumeiros dates marcados pela internet. Não havia aquela frieza percebida após cada um sair para longe de seu modem. Ao vivo, era tudo sempre diferente.
Com Gabriel, sentiu-se conversando com alguém que já conhecia há muito tempo.
“Só podia ser um ótimo sinal”, pensou.
Gabriel Estava trazendo um novo frescor no modo de Bia se relacionar. 
Bia ainda não sabia, mas a passagem de Gabriel por sua vida seria considerada um antes e depois no modo como via a si mesma.

- Bom, acho que está ficando tarde.
Disse Gabriel. Bia concordou apenas com um sorrisinho.
E ficou aquele silêncio, seguido por uma troca de olhares.
Era o momento pré-beijo.
Bia sabia que iam se beijar, mas não tomou nenhuma atitude.
Eles se levantaram para pagar o consumo da noite. Mas Gabriel se virou e a beijou ali mesmo, na porta, interrompendo o fluxo.
Bia ouviu comentários descontentes ao redor, mas não se importou.
Aquele momento era dela.

***

Marcela continuava no bate-papo com o barbudo, em vários momentos do dia.
Achava um tanto desconcertante aquele interesse todo, mas na verdade era porque não estava tão habituada (em função de suas últimas experiências e por saber que não estava num filme). Depois de Romeu e Márcio havia ficado um tanto endurecida, mas agora estava se deixando levar por uma conversa extremamente deliciosa.
Eram muitas as referências: gostos, manias, vontades.
O barbudo tinha uma sensualidade quase inocente, do tipo que existe sem talvez ele próprio saber. E isso a deixava meio boba. Encantada.
Marcela contou que estava solteira há um bom tempo.
Contou sobre Romeu, dos anos intensos de namoro, e da maneira como tudo terminou.
Marcela disse que, hoje, o que mais lamentava era a saudade da boa cafeteira que ele levou embora.
Falaram sobre os relacionamentos modernos, e inevitavelmente caíram no assunto internet.
E foi interessante, para Marcela, saber que o barbudo tinha ideias tão particulares e tão parecidas com as dela.
- Barbudo, um dia vou escrever uma novela sobre esse tema, porque existe por aí muitas histórias verdadeiras para contar.
O mais bacana daquelas conversas todas era que, de cada dois diálogos, um era:
- :3
- :3
Ou então:
- (coração)
- (coração)
Em outras circunstâncias Marcela estaria contida, mas por outro lado pensou que, às vezes, é bom cometer pequeninas loucuras.
E não estava arrependia.

***


Algumas horas antes, naquela manhã, ao se despedir de Rafael, Tina viveu um momento diferente.
Amanheceu verdadeiramente ao lado de um homem, mas dessa vez, sem a certeza de ter sido a única vez.
Rafael colocou algumas músicas country pra tocar no seu iPod, e preparou um café bem suave para Tina.
Ela fez algo que sempre quis: vestiu a camisa de Rafael para acompanhá-lo até a cozinha.
Vendo o moço ali, a tratando com carinho, teve certeza de fazer a coisa certa ao recusar o namoro.
E assim, como se fosse o trailer de um filme da Julia Roberts, desses em que tudo dá certo, Tina nunca mais entrou em nenhum flashback traumático. Fez questão de deixar o passado em seu devido lugar. Sua VHS não mais seria rebobinada, porque todas aquelas histórias tristes ficariam, a partir de agora, no trecho da fita mastigada pelo videocassete.

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Bônus deste capítulo:
Algumas faixas que estavam na playlist (em sua maioria romântica) do iPod de Rafael.

Robert Plant & Alison Krauss - Please Read The Letter

Deana Carter: Strawberry Wine

Shania Twain: You’ve Got a Way

Kacey Musgraves - Merry Go 'Round

Blake Shelton - Boys 'Round Here (feat. Pistol Annies & Friends)

Billy Currington - Don't

Chely Wright –She Went Out For Cigarettes

Faith Hill & Tim McGraw

Willie Nelson – The Scientist (porque Rafael tinha um “q” de consciência ecológica às vezes)

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