Temporada 3
Episódio 7 – Não
temos passado, mas queremos voltar no tempo
Trilha inicial deste episódio: https://www.youtube.com/watch?v=ZONKoKIQ9RY
Rafael murchou mais do que balão de festa estourado.
Até estava preparado para uma recusa, mas não assim, à
queima roupa. Nem ao menos Tina pediu um tempo para pensar.
Suas idealizações de romantismo corriam pelo ralo naquele
momento.
- Não?
- Não, Rafael.
Tina pegou a bolsinha da mão de Rafael, catou sua chave e colocou
na porta.
- Não, porque, pelo fato de nós não termos nenhum passado,
precisamos ter alguma história em comum. Entende? O que eu quis dizer com “não”
é que eu quero começar do zero com você, já que não dá pra voltar e fazer de
novo. Quero deixar aqueles fantasmas pra trás. Passar a limpo, sem truques de
corretivo líquido. Quero ficar com você sim, e se tudo der certo, num futuro,
ser sua namorada.
Tina estava pasma com sua própria maturidade. Achou até que
estivesse possuída por algum espírito que regia os relacionamentos.
Rafael compreendeu, e o balão murcho do seu romantismo até
se inflou um pouco.
E assim, sem medo de ser julgada, Tina convidou Rafael para
entrar.
***
No dia seguinte Bia preparava-se para o seu date.
Estava ansiosa para conhecer Gabriel, embora com medo de
levar outro bolo.
Mas não levou.
Em um bar prestes a ser fechado para sempre, sentou-se para
esperar o rapaz. Preferiu uma mesa na área externa. Caso levasse bolo, teria
menos pessoas para ver sua cara de derrotada.
Gabriel chegou pouco depois, vestindo o mesmo moletom que
usava na foto de seu perfil.
O achou super interessante ao vivo.
Bia estava consciente em não elaborar nenhum perfil para
agradar. Se tivesse que criticar algo que ele gostasse, iria criticar. E
elogiar também.
Mas o que aconteceu foi que não encontrou nada que, num primeiro momento,
pudesse discordar.
Gabriel era um rapaz de muito boa conversa. E para seu
deleite, citou diversos filmes que adorava, por exemplo, e indicou outros que
nunca tinha ouvido falar.
Beberam cerveja e trocaram olhares.
Bia adorava esse momento, em que o flerte era recíproco, e
se instaurava um clima delicioso em que o beijo é certo no final. Ou no meio.
Aquele date estava sendo diferente em muitos aspectos. Nem
pareciam os costumeiros dates marcados pela internet. Não havia aquela frieza
percebida após cada um sair para longe de seu modem. Ao vivo, era tudo sempre
diferente.
Com Gabriel, sentiu-se conversando com alguém que já
conhecia há muito tempo.
“Só podia ser um ótimo sinal”, pensou.
Gabriel Estava trazendo um novo frescor no modo de Bia se
relacionar.
Bia ainda não sabia, mas a passagem de Gabriel por sua vida seria considerada
um antes e depois no modo como via a si mesma.
- Bom, acho que está ficando tarde.
Disse Gabriel. Bia concordou apenas com um sorrisinho.
E ficou aquele silêncio, seguido por uma troca de olhares.
Era o momento pré-beijo.
Bia sabia que iam se beijar, mas não tomou nenhuma atitude.
Eles se levantaram para pagar o consumo da noite. Mas
Gabriel se virou e a beijou ali mesmo, na porta, interrompendo o fluxo.
Bia ouviu comentários descontentes ao redor, mas não se
importou.
Aquele momento era dela.
***
Marcela continuava no bate-papo com o barbudo, em vários
momentos do dia.
Achava um tanto desconcertante aquele interesse todo, mas na
verdade era porque não estava tão habituada (em função de suas últimas
experiências e por saber que não estava num filme). Depois de Romeu e Márcio
havia ficado um tanto endurecida, mas agora estava se deixando levar por uma
conversa extremamente deliciosa.
Eram muitas as referências: gostos, manias, vontades.
O barbudo tinha uma sensualidade quase inocente, do tipo que
existe sem talvez ele próprio saber. E isso a deixava meio boba. Encantada.
Marcela contou que estava solteira há um bom tempo.
Contou sobre Romeu, dos anos intensos de namoro, e da
maneira como tudo terminou.
Marcela disse que, hoje, o que mais lamentava era a saudade
da boa cafeteira que ele levou embora.
Falaram sobre os relacionamentos modernos, e inevitavelmente
caíram no assunto internet.
E foi interessante, para Marcela, saber que o barbudo tinha
ideias tão particulares e tão parecidas com as dela.
- Barbudo, um dia vou escrever uma novela sobre esse tema,
porque existe por aí muitas histórias verdadeiras para contar.
O mais bacana daquelas conversas todas era que, de cada dois
diálogos, um era:
- :3
- :3
Ou então:
- (coração)
- (coração)
Em outras circunstâncias Marcela estaria contida, mas por
outro lado pensou que, às vezes, é bom cometer pequeninas loucuras.
E não estava arrependia.
***
Trilha final: https://www.youtube.com/watch?v=LFtxgXvkhvQ
Algumas horas antes, naquela manhã, ao se despedir de
Rafael, Tina viveu um momento diferente.
Amanheceu verdadeiramente ao lado de um homem, mas dessa
vez, sem a certeza de ter sido a única vez.
Rafael colocou algumas músicas country pra tocar no seu
iPod, e preparou um café bem suave para Tina.
Ela fez algo que sempre quis: vestiu a camisa de Rafael para
acompanhá-lo até a cozinha.
Vendo o moço ali, a tratando com carinho, teve certeza de
fazer a coisa certa ao recusar o namoro.
E assim, como se fosse o trailer de um filme da Julia
Roberts, desses em que tudo dá certo, Tina nunca mais entrou em nenhum
flashback traumático. Fez questão de deixar o passado em seu devido lugar. Sua
VHS não mais seria rebobinada, porque todas aquelas histórias tristes ficariam,
a partir de agora, no trecho da fita mastigada pelo videocassete.
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Bônus deste capítulo:
Algumas faixas que estavam na playlist (em sua maioria
romântica) do iPod de Rafael.
Robert
Plant & Alison Krauss - Please Read The Letter
Deana Carter:
Strawberry Wine
Shania
Twain: You’ve Got a Way
Kacey
Musgraves - Merry Go 'Round
Blake
Shelton - Boys 'Round Here (feat. Pistol Annies & Friends)
Billy
Currington - Don't
Chely
Wright –She Went Out For Cigarettes
Faith Hill
& Tim McGraw
Willie Nelson – The Scientist (porque Rafael tinha um “q” de
consciência ecológica às vezes)
Sempre achei aquele momento do flerte a melhor parte!
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