sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Cobradora – Parte 1

Ele sempre pegava o mesmo ônibus. No mesmo horário. Dividia espaço com os inúmeros velhinhos que desembarcavam nos vários hospitais ao longo do caminho.

Passava o bilhete eletrônico.

A cobradora era a moça mais séria que já havia visto. Fones no ouvido. Contato visual jamais.

Observava ela de sua poltrona.

Quando lhe pediam informações sobre uma parada qualquer era preciso esforço pra ouvir a resposta. Às vezes ela nem respondia, só balançava a cabeça.

Tinha uma aura de mau humor incrível.

"Por que será?", pensou enquanto uma senhora sentava do seu lado e comentava sobre o tempo.

Imaginou que ela poderia ser triste, e não mau humorada. Talvez o cotidiano de dar troco e girar a catraca não favorecesse muito sua alegria. Talvez ela guardasse raiva e quisesse dar o troco.

Talvez tivesse sofrido uma decepção amorosa.

"Por que sempre tem que ser decepção amorosa?", pensou, censurando a si mesmo. E tentou imaginar como seria a vida daquela cobradora.

E de tanto imaginar a vida alheia não percebeu que a senhora que havia comentado sobre o clima tentou conversar a viagem toda e não deu a menor atenção.

Exatamente como a jovem cobradora fazia.

Talvez ela não fosse mau humorada, mas apenas ocupada imaginando e desvendando a vida de seus passageiros. Talvez até mesmo a sua.



19/9/2014

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