Ele sempre pegava o mesmo ônibus. No mesmo horário.
Dividia espaço com os inúmeros velhinhos que desembarcavam nos vários hospitais
ao longo do caminho.
Passava o bilhete eletrônico.
A cobradora era a moça mais séria que já havia
visto. Fones no ouvido. Contato visual jamais.
Observava ela de sua poltrona.
Quando lhe pediam informações sobre uma parada
qualquer era preciso esforço pra ouvir a resposta. Às vezes ela nem respondia,
só balançava a cabeça.
Tinha uma aura de mau humor incrível.
"Por que será?", pensou enquanto uma
senhora sentava do seu lado e comentava sobre o tempo.
Imaginou que ela poderia ser triste, e não mau
humorada. Talvez o cotidiano de dar troco e girar a catraca não favorecesse
muito sua alegria. Talvez ela guardasse raiva e quisesse dar o troco.
Talvez tivesse sofrido uma decepção amorosa.
"Por que sempre tem que ser decepção
amorosa?", pensou, censurando a si mesmo. E tentou imaginar como seria a
vida daquela cobradora.
E de tanto imaginar a vida alheia não percebeu que
a senhora que havia comentado sobre o clima tentou conversar a viagem toda e
não deu a menor atenção.
Exatamente como a jovem cobradora fazia.
Talvez ela não fosse mau humorada, mas apenas
ocupada imaginando e desvendando a vida de seus passageiros. Talvez até mesmo a
sua.
19/9/2014
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