segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A Cobradora – Parte 2

E lá estava novamente a cobradora.

Ele entrou no ônibus e a viu, com sua cara fechada e seus fones de ouvido. 

Tentou não imaginar a vida da moça, porque talvez ela estivesse imaginando a sua. 

E isso poderia não ser muito agradável. 

Então entrou uma senhora no ônibus.

Boca escancarada num sorriso que não fechava nunca e meia dúzia de dentes. 

E ela perguntou pra cobradora:

- Mas porque tão séria? 

A cobradora tentou sorrir, sem sucesso.

- Mas porque tão triste?

A cobradora falou algo, embora sem emitir nenhum som. Mas pela leitura labial ele deduziu que fosse algo como “não tô”. 

Mas podia ser “xô”. 

E entendeu que, muitas vezes, a cobradora representa o ser humano em geral e a vida é a senhora da boca desdentada: sempre vai haver um momento em que você quer apenas ficar na sua, e será cobrado/questionado por isso.  



22/9/2014

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