O mundo é diferente a partir dos olhos de cada um. Por diferentes motivos. Mas para ela, aquela senhora tão minúscula que parecia peça perdida de algum jogo de tabuleiro, o mundo era gigante.
Ele a viu enquanto esperava o ônibus. Ela
percorreu a fila, um por um, esticando sua mãozinha de boneca antiga, pedindo
moedas. Fazia calor, e parecia que por dentro de um casaco peludo ela cozinhava
em fogo brando.
Ele não tinha moedas. Talvez tivesse, mas não
costumava entregar moedas. E sentiu-se um pouco mal. Nem tanto pela moeda não
entregue.
Mas sim por imaginar quem era aquela
minúscula.
Ele tinha essa mania. Imaginava a vida
secreta de quem, de alguma forma, cruzava o seu caminho.
Talvez aquela senhora de aparência tão
solitária fosse fugitiva de uma terra distante povoada por pessoas pequeninas.
Talvez quisesse conhecer o mundo das gentes grandes. E talvez tenha descoberto
que o mundo das gentes grandes era muitas vezes sem graça, difícil de entender.
Talvez ela tenha conhecido gentes grandes que não eram gentis como esperava.
Talvez ela tenha conhecido gentes grandes que não lhe estenderam a mão por
causa de sua aparência. Talvez ela tenha esbarrado em gentes grandes que não se
encaixavam no conceito de amor que, certamente, sua mãe pequena lia em livros
quando era jovem na terra das pessoas pequenas.
Só que agora ela não pode mais voltar pra lá.
Ele a observou enquanto se afastava, com sua
coluna de vovó arqueada, e pensou: "Como seria bom se você nunca tivesse ido
embora daquele lugar".
23/10/2014
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