sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Amores WI-FI - Temporada 4 Episódio 10: Feliz ilusão nova (SEASON FINALE)






“Houve um tempo em que eu achava não ser boa o suficiente pra merecer algo ou alguém. Hoje, eu vejo que muitas pessoas é que não me merecem”.

Pensou Marcela, enquanto rasgava a sua listinha de resoluções para 2015. Estava resolvida a não esperar nada nem ninguém. Iria trabalhar mais, investir em suas próprias coisas. Mas em seguida, sentiu-se apenas uma recalcada pensando assim.

Iria sim ter novos momentos de tristeza, principalmente afetiva, mas também no trabalho. Ia se sentir frustrada, com certeza. Porque sim.

Mas estava mais resolvida com isso. Afinal, aceitar que os problemas existem e continuarão existindo faz parte do processo.

Estava até ~feliz~. Era final de tarde do dia 31, e vizinhos já ensaiavam a odiosa queima de fogos que só servia para assustar os cachorros. A casa era só sua.

Bia estava na casa dos pais, voltaria pela manhã. Tina viajou para ver a mãe, não escapou, assim como conseguiu fugir no Natal. Restava somente ela, o silêncio, um ventilador e algumas garrafas de cerveja.


E uma infinidade de pensamentos.


Talvez assistisse o show da virada na TV, como muitas vezes fez por não ter opção. Mas era muito deprimente. Muito mais que o natal da Xuxa. Não queria chorar, não ia.

De repente recebeu uma SMS e ficou assustada. “Quem envia essas porcarias hoje em dia?”, esbravejou. Mas era SMS da operadora, desejando feliz ano novo. “Que bom que ao menos a operadora lembra”.

Deletou.

E por um reflexo de curiosidade, foi descendo a tela nas SMS que nunca apagou. Tinha mensagem de Bia, de colegas de trabalho, mais da operadora, e uma SMS não identificada. Número desconhecido.

Com data de 2012.

Ficou mexida com o conteúdo da mensagem.

Estava escrito, apenas:

“Saudades de ti”.

Quem será que um dia sentiu saudades a ponto de enviar uma SMS?

Marcela sentiu-se mal, pois aquela mensagem jamais foi respondida.

Até hoje o dono daquela saudade talvez recorde com rancor do seu descaso. Logo ela, que tantas vezes sentiu-se desprovida de atenção, de carinho. “Meu deus por que eu nunca respondi? Quem será?”, tentava descobrir. E nada.

Talvez fosse uma amiga, uma colega de empresa. Mas não. Algo lhe dizia que era um homem. Um homem que queria lhe ver de novo. Porém nunca mais a veria.


***



Nesse momento Tina estava no ônibus, atrasado por conta de um congestionamento. Chegaria quase na hora do jantar. Desistiu de abrir o Whatsapp para não se chatear em saber que Rafael continua entrando no aplicativo e ignorando a sua mensagem.

Queria dizer muitas coisas, mas principalmente que o achava um idiota.

Queria também pedir para o motorista voltar e ir atrás dele. Mas não estava num filme, e ainda lhe sobrava um pouco de bom senso. “Te preserva mulher”, dizia sua voz interior.

A paisagem lá fora parecia enquadramento cinematográfico. As casinhas na estrada passando aceleradas, quando o ônibus conseguiu avançar. Algumas com famílias sentadas nas varandas, esperando o ano novo, e com ele coisas melhores.

Ao menos era essa a sensação que todo mundo tinha. Mas o dia seguinte era só azia e ressaca.

Cochilou, ainda demoraria um pouco para chegar.


***


Bia estava sentada no sofá enquanto familiares chegavam para as comemorações. Sentia-se extremamente entediada.

Um Whatsapp do menino lhe retirou momentaneamente do seu estado quase vegetativo. Sorriu e respondeu suas felicitações de ano novo, e disse que se veriam no dia seguinte.

Desejou uma trufa.

O clima de ano novo era realmente estranho. “Por que diabos todo mundo acredita que a simples virada do calendário vai trazer algum benefício? Por que acham que o misticismo vai resolver problemas?”, pensou, quando uma tia trouxe pra ela patuás e outras simpatias para carregar na bolsa.

“Esse aqui é pra espantar a zica que virou a sua vida, e esse é pra você finalmente arrumar um macho”.

Ouviu aquilo calada, com os olhos em fogo. Iria xingar sua mãe mais tarde, pelo fato de sempre ter que relatar seus problemas para toda a família.

Mas por via das dúvidas colocou as simpatias na bolsa, não podia dar chance ao azar.


***




Marcela já havia bebido duas garrafas de cerveja, e como era um pouco fraca, já sentia-se bêbada. Músicas agitadas na playlist de stream tentavam colocá-la para cima.

Se tivesse um pouco de sorte passaria reprise de A Noviça Rebelde na madrugada. Não estava com a menor vontade de sair para alguma festa e interagir com gente mais bêbada do que ela.

Por sorte, pensou, é que na virada do ano temos a impressão de que há mais tempo pra fazermos as coisas deixadas pra trás. “Mas é só sensação mesmo, temos é cada vez menos tempo”.

No auge de sua solidão, uma mensagem no Whatsapp:

Tina: Oieeeeee amiga!
Tina: Cheguei não faz muito na casa da mãe, mas a vontade é de voltar.
Tina: Queria estar aí para te dar um abraço.
Tina: Não sou a pessoa mais indicada pra falar, mas acho que há esperança para o ano ser melhor.
Tina: Receba meu abraço.
Tina: Um feliz ano novo, sua linda <3 o:p="">

Marcela sentiu-se mesmo abraçada. Ou era efeito da bebida.

Pouco depois, Bia entrou no apartamento.

- Você não achou que fosse te deixar sozinha, né? Escapei da casa dos meus pais. Eles entenderam.

Ela lhe deu um abraço apertado, desses de mãe. Sim, o ano não havia sido fácil pra nenhuma delas. O sinal de internet que conectou cada relacionamento que tiveram por vezes caiu, ou ficou fraco, ou se perdeu para sempre. Nada que não fosse possível reiniciar.

- Fiz uma única promessa para 2015, Bia. Vou enterrar cada boy lixo num aterro sanitário, de onde eles nunca mais vão sair.

- Só não vale fazer a Mãe Lucinda e ir lá catar eles de novo nos momentos de desespero.

As duas riram.


2015 Não vai ter boy lixo. Não vai ter baixa autoestima. Não vai ter desespero. Na verdade não sabiam o que ia ter, mas teriam aquela velha e boa amizade.

Lá fora os fogos estouravam, anunciando a virada do ano.

- Feliz ilusão nova.

Falou Marcela.

- Não – Disse Bia – feliz ano novo. Feliz match novo. Feliz cutucada nova. Feliz DM nova. Porque algumas coisas não mudam. 


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