Trilha deste episódio: https://www.youtube.com/watch?v=AoOP9IOYsXo
Bia tinha uma proteção dura
contra o afeto. E consequentemente contra o amor.
Sempre foi um tanto
endurecida, o que se intensificou após o episódio de Gabriel.
Ainda era cedo para pensar em
qualquer coisa. Estava com o terceiro encontro marcado com aquele jovem
rapaz, mas já pensava no que aquilo iria se transformar – e nas consequências
que teria.
Tentava ser racional, afirmar
para si mesma que precisava manter os pés no chão, mas por outro lado, que não
faria mal nenhum abrir um pouco mais suas defesas. Por isso parou de pensar no
que aquela sucessão de dates iria ocasionar. Apenas aproveitaria o que fosse.
Enquanto isso, Marcela vivia
em um período de escassez. Depois do encontro relâmpago com o italiano, não fez
contato com mais ninguém. Deixou o Tinder um pouco de lado.
Deixou a “caça” um pouco de
lado.
Deixou.
Tinha épocas que Marcela
precisava de um tempo para pensar em outras coisas: mas acabava sempre usando
esse tempo para pensar nas razões divinas para sua vida afetiva ser tão
devagar.
Bia e Marcela resolveram sair
para almoçar naquele domingo.
As duas estavam alheias do
mundo. Quase nem conversaram no caminho. Marcela porque não estava afim de
rever seus falecidos. Bia porque estava com medo.
Entrou num flashback de
filme.
Mas o filme era a sua vida
sentimental.
Viu todos os seus erros e
acertos. Mais erros do que acertos.
Viu que era, no fundo, algo
diferente do que aparentava ser. Era só uma mulher comum que queria aprofundar
seus relacionamentos. Era uma mulher que ainda não tinha aprendido a lidar com
as diferenças, a ceder quando preciso. Mas por outro lado, era uma mulher que lidava
bem com a solidão.
Enquanto caminhavam, passou
por todos os clichês: casal de velhos namorando, jovens se conhecendo, famílias
aparentemente felizes levando crianças e cachorros para passear.
Tudo como se fosse uma conspiração
para desajustar suas linhas de pensamento.
Bia e Marcela se olharam, e
concluíram que estavam famintas demais pra ficar pensando na vida.
“Porque, às vezes, uma boa
refeição pode ajustar a cabeça na hora da dúvida”, dizia a avó de Marcela.
Bia não iria resolver seu
problema comendo, mas ao menos o vazio do estômago seria suprido.
Queria mesmo era preencher o
vazio do peito, às vezes. Mas se sentia um pouco ridícula pensando essas
coisas, como se estivesse dentro de um romance feito para donas de casa
insatisfeitas com suas rotinas.
Podia ver o livro de sua vida
pendurado na banca.
“Coleção Sabrina – A dama do
coração de ferro”.
Sim, havia ainda muitas paredes
blindadas, mas estava decidida a encontrar uma forma de derrubá-las.
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