quinta-feira, 23 de abril de 2015

Amores WI-FI - Temporada 5 Episódio 4: "Como faz pra voltar?"



Temporada 5

Episódio 4 – “Como faz pra voltar?”



Marcela não costumava acordar muito cedo, e ultimamente, ao despertar, já tinha whatsapp do mordedor para responder.

É que o rapaz madrugava para trabalhar em uma cidade do interior, por isso sempre tinha mensagem cedíssimo.

Não que se incomodasse com o fato, mas era, realmente, muito cedo.

“Me incomodo sim”, pensou.

Acordava sempre de péssimo humor, e ter que responder mensagens fofas não estava nos seus planos matinais. Mas nunca reclamou. Pensava consigo mesma que não adiantava reivindicar aos céus que não dava certo com nenhum homem se ficasse sempre reclamando de coisas como essa.

Eram, afinal, mensagens de carinho.

E assim, mesmo incomodada, respondia com algum emoji, um bom dia não muito seco. Mas sempre algumas horas depois, precisava acordar de verdade.

No caminho do trabalho, naquele dia, respondeu com mais calma, já um pouco liberta do seu azedume. Até porque já esteve no outro lado.

Quando namorava Romeu era sempre ela que mandava a primeira mensagem do dia, era sempre ela que puxava assunto. E sentiu-se culpada por ficar com raiva das mensagens do mordedor. “É sempre duro ser aquele que demonstra mais afeto que o outro, pensou.

Ninguém queria estar na posição de gostar mais, procurar mais, querer mais. Para o outro deveria ser confortável saber que não havia com o que se preocupar, que seu relacionamento (ou algo que se assemelhe a ele) estava seguro. Era duro ter que ~correr atrás~.

Marcela: Olá, bom dia! :D

Ele prontamente respondeu. Achava engraçado o fato de usar um emoji no lugar do nome.

:P: Oi, tudo bem?
Marcela: Tudo ótimo, e você?
:P: Tudo bem também. Acabei de chegar, só queria saber como você estava e desejar bom dia J

Marcela achou realmente fofo, de verdade. E lembrou-se do último encontro. E de tão bom que foi, pensou:

“Como faz para voltar?”


***



Enquanto isso Bia estava em casa, de folga do trabalho. Iria faxinar a casa, era o seu dia de tarefas.

Devia fazer uma faxina interior também. “Quem faz faxina sempre espera visita”, pensou, sobre sua vida afetiva.

Mas não podia reclamar muito. Estava saindo com o menino das trufinhas, ou seja, sua casa estava sendo visitada. Mas estava com medo dele se tornar aquela visita que as tias, antigamente, afastavam colocando uma vassoura atrás da porta.

Não queria afastar o menino. E se quisesse, não seria com uma vassoura.

*notificação do whatsapp*

Era o menino.

“Não morre tão cedo!”, riu pra si mesma.

Mas a mensagem não dizia nada, era apena sum emoji sorrindo.

Uma mensagem que poderia ser como “oi estou aqui, não esquece de mim”.

Isso a incomodou um pouco, Bia tinha pavor de ser cobrada, seja da forma que fosse. Mas não criou caso. Respondeu com um emoji igual. E voltou para a faxina.

Enquanto sua playlist do Spotify tocava lembrou do primeiro encontro que tiveram.

O café, o sofá, a conversa inspirada, o primeiro beijo.

“Como faz para voltar?”


***



Tina estava obstinada a encontrar alguém no Tinder.

Teve vários matches, mas ficava puta da cara que nenhum homem puxava assunto. “Tenho o meu orgulho, caralho!”, dizia pra si mesma. E os contatos ficavam lá, se acumulando, como se fosse um álbum de figurinhas esperando ser completado.

Estava tão raivosa que começou a apertar coração pra todo mundo, sem avaliar ninguém, sem levar em consideração amigos em comum, interesses e até mesmo demais fotos do álbum.

Porém sentiu um arrepio pelo corpo, um frio que só o momento que antecede uma morte trágica deve proporcionar. Ou um inverno muito rigoroso.

Reconheceu o último contato que clicou em coração. Reconheceria em mil anos. Não tinha como não reconhecer aquela fotografia, porque ela mesma havia tirado.

Era Rafael.

E, num misto de pavor e tristeza, se viu mergulhada em dois problemas: 1) apertou no coração para Rafael, agora oficialmente seu ex e 2) ele estava, também, caçando outra pessoa.

Sentiu-se magoada, e ainda que a possibilidade dele clicar em coração fosse tão grande quanto aparecer um dinossauro vivo no meio da rua, sentiu pânico, e só conseguia pensar:


“Como faz para voltar?”

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