terça-feira, 28 de abril de 2015

Amores WI-FI - Temporada 5 Episódio 7: A Realidade Chega de Táxi




Temporada 5
Episódio 7 – A realidade chega de táxi



Bia acordou cedo demais. Como de costume abriu o Twitter para ver o povo reclamar e poder reclamar também. E para ver os primeiros memes do dia.

*rolando a timeline*

Um olho aberto e o outro meio colado.

E viu que o garoto das trufinhas havia tuitado pouco antes.

"A palavra do ano é demonstrar. Carinho, ou apenas corresponder"

Sentiu um cheiro ácido de indireta. E pra ela.

Triste quando a carapuça servia. Pior look do dia ever. Seu olho colado até abriu.

Bia detestava indireta (embora já tenha lançado algumas nas labaredas da timeline), por isso resolveu tirar a história a limpo.

Chamou o garoto no whatsapp.

Bia: oi, ta tudo bem?
Ele: tá sim, bom dia.

Respondeu, seco.

Bia: vi um tuíte seu e me pareceu uma indireta.
Ele: Não não, impressão sua. Foi um tuíte bem geral mesmo.
Bia: Ah bom. Então tá.

Mas a sensação de ser alvo ainda queimava sua tranquilidade. Ele continuou tuitando coisas do tipo e retuitando perfis de frases, e tudo servia. Já podia abrir uma lojinha. Eram muitos looks do dia, carapuças de todas as formas.

Porém achou melhor não perguntar mais nada. Não queria perder um dia inteiro se consumindo com aquilo.

Vinha pensando muito no menino, se realmente deveria continuar. Talvez fosse a hora de outra mulher ganhar aquelas trufas.


***



Um pouco antes disso, quando a noite ainda ocupava o lugar do sol, Marcela acordava com o despertador do mordedor.

Ele acordava cedíssimo, portanto acordaria também. Rapidamente se olhou no espelhinho colado na porta do guarda-roupas para ver o seu estado lastimável.

"Até que tô bem gata", pensou, ajeitando umas mechas revoltas do cabelo.

O mordedor levantou apressado e foi até a cozinha. Marcela pediu uma toalha empresada para tomar banho.

Na bancada da pia do banheiro abriu sua bolsa e espalhou seus frascos de xampu e creme e condicionador e óleo e desodorante e perfume. Tudo com maestria e rapidez, para não demorar o século que costumava demorar em casa.

Dessa vez nada de mordida ou hematoma no pescoço, mas um arranhão na teta. Sim, um arranhão na teta.

Riu diante do inusitado.

Porém, mais inusitada foi a cena que viveu quando saiu do banheiro. Mordedor havia posto a mesa para o café da manhã.

Ele tinha comprado queijo, presunto, croissant de goiaba, pão e muffin de chocolate. Como ele estava atrasado deixou-a na mesa e foi tomar banho.

Marcela estava boba com aquilo. Não estava acostumada. E sentiu-se mal, porque não comia doce no café da manhã, portanto, aquilo seria desperdiçado.

Quando ele voltou percebeu que ela não havia comido os doces.

- Desculpa mordedor, não consigo comer doce pela manhã.

Ele, então, foi até a cozinha e embalou os croissants e muffins em potinhos para Marcela levar e comer no trabalho.

Marcela no fundo achou uma atitude estranha, talvez íntima demais para quem ainda não a conhecia direito. Mas fofo, acima de tudo.


Saíram de casa ainda bem cedinho e pegaram um taxi até o centro da cidade. Marcela tentava acomodar os potinhos com os muffins e os croissants na bolsa. E deu-se por conta o quão estava criando barreiras quando o menino acariciou os seus cabelos, e a única coisa que fez foi abraçar a própria bolsa e observar o movimento da rua através da janela.

Era uma bipolaride afetiva repentina.

Por mais satisfeita que tenha ficado com a noite anterior, aquela intimidade estava sendo um pouco excessiva.

Sentiu vontade de chorar.

Porque percebeu estar ceifando uma possibilidade interessante. Talvez não estivesse pronta. Talvez estivesse, mas não quisesse.

E mordedor continuou acariciando seus cabelos, num gesto de fofura que não esperava, porque às vezes ela era super ríspida com ele nas conversas por whatsapp.

"Meu Deus o que eu faço o que eu falo?", questionou a si mesma, mas os céus não poderiam lhe ajudar.

O táxi chegou, eles iriam para lados opostos. Marcela lhe deu um beijo rápido, quase um selinho de quem nunca havia beijado antes.


Ele iria trabalhar, e Marcela iria percorrer aquele campo que bem já conhecia: a plantação de dúvidas e arrependimentos.

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