Temporada 5
Episódio 7 – A realidade chega de táxi
Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=wE4lnC25fnU
Bia acordou cedo demais. Como de costume abriu o Twitter
para ver o povo reclamar e poder reclamar também. E para ver os primeiros memes
do dia.
*rolando a timeline*
Um olho aberto e o outro meio colado.
E viu que o garoto das trufinhas havia tuitado pouco antes.
"A palavra do ano é demonstrar. Carinho, ou apenas
corresponder"
Sentiu um cheiro ácido de indireta. E pra ela.
Triste quando a carapuça servia. Pior look do dia ever. Seu
olho colado até abriu.
Bia detestava indireta (embora já tenha lançado algumas nas
labaredas da timeline), por isso resolveu tirar a história a limpo.
Chamou o garoto no whatsapp.
Bia: oi, ta tudo bem?
Ele: tá sim, bom dia.
Respondeu, seco.
Bia: vi um tuíte seu e me pareceu uma indireta.
Ele: Não não, impressão sua. Foi um tuíte bem geral mesmo.
Bia: Ah bom. Então tá.
Mas a sensação de ser alvo ainda queimava sua tranquilidade.
Ele continuou tuitando coisas do tipo e retuitando perfis de frases, e tudo
servia. Já podia abrir uma lojinha. Eram muitos looks do dia, carapuças de
todas as formas.
Porém achou melhor não perguntar mais nada. Não queria
perder um dia inteiro se consumindo com aquilo.
Vinha pensando muito no menino, se realmente deveria
continuar. Talvez fosse a hora de outra mulher ganhar aquelas trufas.
***
Trilha desta cena: https://www.youtube.com/watch?v=fd02pGJx0s0
Um pouco antes disso, quando a noite ainda ocupava o lugar
do sol, Marcela acordava com o despertador do mordedor.
Ele acordava cedíssimo, portanto acordaria também.
Rapidamente se olhou no espelhinho colado na porta do guarda-roupas para ver o
seu estado lastimável.
"Até que tô bem gata", pensou, ajeitando umas
mechas revoltas do cabelo.
O mordedor levantou apressado e foi até a cozinha. Marcela
pediu uma toalha empresada para tomar banho.
Na bancada da pia do banheiro abriu sua bolsa e espalhou
seus frascos de xampu e creme e condicionador e óleo e desodorante e perfume.
Tudo com maestria e rapidez, para não demorar o século que costumava demorar em
casa.
Dessa vez nada de mordida ou hematoma no pescoço, mas um
arranhão na teta. Sim, um arranhão na teta.
Riu diante do inusitado.
Porém, mais inusitada foi a cena que viveu quando saiu do
banheiro. Mordedor havia posto a mesa para o café da manhã.
Ele tinha comprado queijo, presunto, croissant de goiaba, pão e muffin
de chocolate. Como ele estava atrasado deixou-a na mesa e foi tomar banho.
Marcela estava boba com aquilo. Não estava acostumada. E
sentiu-se mal, porque não comia doce no café da manhã, portanto, aquilo seria
desperdiçado.
Quando ele voltou percebeu que ela não havia comido os
doces.
- Desculpa mordedor, não consigo comer doce pela manhã.
Ele, então, foi até a cozinha e embalou os croissants e muffins em potinhos para Marcela levar e comer no trabalho.
Marcela no fundo achou uma atitude estranha, talvez íntima
demais para quem ainda não a conhecia direito. Mas fofo, acima de tudo.
Trilha desta cena: https://www.youtube.com/watch?v=0_LNkrlm7T0
Saíram de casa ainda bem cedinho e pegaram um taxi até o
centro da cidade. Marcela tentava acomodar os potinhos com os muffins e os croissants na bolsa. E deu-se por conta o quão estava criando
barreiras quando o menino acariciou os seus cabelos, e a única coisa que fez
foi abraçar a própria bolsa e observar o movimento da rua através da janela.
Era uma bipolaride afetiva repentina.
Por mais satisfeita que tenha ficado com a noite anterior,
aquela intimidade estava sendo um pouco excessiva.
Sentiu vontade de chorar.
Porque percebeu estar ceifando uma possibilidade
interessante. Talvez não estivesse pronta. Talvez estivesse, mas não quisesse.
E mordedor continuou acariciando seus cabelos, num gesto de
fofura que não esperava, porque às vezes ela era super ríspida com ele nas
conversas por whatsapp.
"Meu Deus o que eu faço o que eu falo?",
questionou a si mesma, mas os céus não poderiam lhe ajudar.
O táxi chegou, eles iriam para lados opostos. Marcela lhe
deu um beijo rápido, quase um selinho de quem nunca havia beijado antes.
Ele iria trabalhar, e Marcela iria percorrer aquele campo
que bem já conhecia: a plantação de dúvidas e arrependimentos.
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