quinta-feira, 7 de maio de 2015

Amores WI-FI - Temporada 5 Episódio 14: Primaveras





Temporada 5
Episódio 14 – Primaveras




Bia continuou conversando com Frank nos dias seguintes. Algumas vezes seu inglês era insuficiente, e precisava recorrer ao app de tradução para dar conta da conversa. Mas foi conseguindo manter um bom diálogo.

Frank era um querido, e estava encantada com aqueles olhos azuis.

“Mais um crush virtual, que logo vai passar”, pensou, mas estava sendo uma delícia se sentir desejada.

Às vezes a diferença de horário inibia conversas mais longas. Algumas respostas vinham com demora, mas compreendia.

Ele dizia que Bia deveria conhecer Berlim, e ela ficava com vergonha de dizer que não tinha dinheiro nem pra viajar para o litoral mequetrefe do estado onde morava, então falava que estava pensando em uma temporada de férias pela Europa sim.

“Como sou boba haha”, falou, enquanto recebia mais um whatsapp. Sim, eles já haviam trocado whatsapp.

Sem querer parecer forçada o apelidou carinhosamente de baby boy. Lembrou da música da Beyoncé. Ele adorou, e a chamou de ursinha. Bia achou divertido, embora não fosse toda peluda. Mas era fofa, quando queria, e por isso aceitou o apelido.

Pensou que se Frank morasse perto seria alguém que valeria a pena conhecer um dia. Ele tinha uma conversa incrível, além de ser lindo.

Não que tivesse parado de pensar no menino das trufas, mas as circunstâncias eram outras, e já não tinha mais volta.

E com relação ao garoto de Berlim, questionou a si mesma:

“Será que as pessoas mais legais moram longe, ou elas só são legais por morarem longe?”.

Não soube dizer.



***




Tina estava faxinando o seu quarto, jogando papéis fora, objetos que não mais usava, tudo o que lhe incomodava. E como num lampejo, achou mais do que justo livrar-se das playlists de Rafael do seu player.

Já estava na hora de usar o shuffle sem esperar tocar suas músicas favoritas.

Realmente havia muita música, e percebeu que nos últimos meses vinha escutando praticamente apenas as músicas do seu ex.

“Realmente assim fica difícil me ver livrar desse encosto sem luz”, falou.

Disse aquilo olhando para o seu espelho, o seu maior confidente, amigo, aquele que via tudo sem falar nada. Que não julgava sua aparência, seu peso, a roupa que escolhia. Nem os homens por quem se apaixonava.

Recentemente ele viu Rafael e Thiago. Ficou pensando se o espelho teria preferência por um dos dois. E foi nesse momento que apertou o play sem querer numa das músicas de Rafael que ainda não tinha apagado.


Pareceu que a música era cantada por Rafael. Olhou para o espelho, e se ele falasse, ele diria: “preste atenção. Se oriente, mulher”.

Mas não queria. Não era justo.

E a próxima música soou como uma resposta.


E Tina chorou de novo, mas esse seria o seu último choro.

Dizem que as represas do sofrimento precisam secar para a vida seguir em frente. Era o que Tina vinha fazendo. Naquele dia, o sofrimento causado por Rafael estava mais baixo que a reserva da Cantareira.

E deletou a última música. Que era essa:



***


Marcela chegou em casa no final do domingo. Era seu aniversário. Mais uma primavera, diria uma tia sua que já havia falecido.  

Olhou o Facebook pelo celular e viu as inúmeras notificações de parabéns dos amigos, os conhecidos e aqueles que não fazia a menor ideia de onde tinham saído. E percebeu que algumas pessoas ainda não havia mandado.

Ficava ferida com essas pessoas. Mas ainda tinham tempo.

Queria ter ficado em casa o dia todo, sem socializar, sem ficar exposta aos parabéns. Não estava em uma fase muito boa, devia ser os resquícios do inferno astral. Ou apenas TPM.

Percebeu que não receberia votos de felicidade de mordedor, pois nunca o adicionou no Facebook. Pensou se devia falar ou não, achou melhor não. Só queria chegar em casa e deitar na cama com as janelas fechadas e ouvir algum álbum depressivo.

Mas Bia não deixou.

Quando chegou, a amiga estava preparando um jantar especial para a amiga: um prato com nozes e gorgonzola e brigadeiro para a sobremesa. Apenas as duas.


- Quero que sente-se aqui e espere ficar pronto.


Falou Bia.

E deu-lhe um pacotinho. Eram pulseiras.

- Eu mesma que fiz, estou meio sem grana, final de mês etc. Espero que goste.

Marcela ficou comovida. Ou era porque estava apenas fragilizada mesmo. Mas Bia sempre sabia fazer a coisa certa.

- Se quiser podemos fazer mais depois!

Bia conhecia bem a amiga, e sabia que chegaria em casa na fossa. Nada melhor do que curar fossa com boa comida.

- Sabe o que podemos fazer depois? Deitar na cama e assistir Will and Grace até pegar no sono!

Marcela adorou a ideia e até se animou um pouco mais. Épocas como aniversário, Natal e Ano Novo serviam, inevitavelmente, para repensar as coisas. Mas no fim ninguém resolvia coisa nenhuma.

Enquanto terminavam de comer e preparar os DVDs para assistir, Marcela falou:

- Já sei o que farei com relação ao mordedor. 

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