sexta-feira, 8 de maio de 2015

Amores WI-FI Temporada 5 Episódio 15: De Você Me Lembro Mais (SEASON FINALE)




Temporada 5
Episódio 15 (SEASON FINALE) – De você me lembro mais



A manhã estava animada na casa de Tina. Nada como uma faxina para organizar a casa e deixar tudo com um ar mais leve.

Sua faxina interna, nesse caso. O feng shui afetivo havia sido muito proveitoso.

Ligou o player e rolaram músicas suas. Músicas que não escutava há tempo, e que não estavam atreladas com lembranças de ninguém.

Pra comemorar a boa fase, Tina fez o que fazia de melhor nos seus momentos de reflexão: dançar pelada. Havia saído do banho, e a sensação de estar sem roupa era libertadora.

Dias gloriosos, era o que Tina queria ter. Não importava se fosse sozinha, num convento, rodeada de gatos num sábado à noite usando roupão, queria ser feliz.

Nesse momento a campainha tocou. Estava tão absorvida pela ocasião que nem se lembrou de vestir uma roupa. Abriu a porta, era Thiago.

Quando percebeu que estava sem roupa sentiu o mundo ruir, árvore por árvore, queria mergulhar no oceano e nunca mais voltar.

- Tina? Você está com alguém? Desculpa.

Não, Tina não estava com ninguém. Estava só, e estava bem assim.

- Não! Saí do banho, estava dançando e a campainha tocou e vim abrir...

Thiago olhou por alguns segundos. Realmente aquela explicação não fazia o menor sentido, mas já conhecia Tina o suficiente para saber que ela não era uma mulher que seguia a linha como qualquer outra seguiria.

Pediu para entrar, enquanto Tina vestia um camisetão que usava para dormir.

Tina se apressou em dizer:

- Eu sei que fiz merda, não queria ter gritado com a sua mãe. Nem sabia que era sua mãe. Mas também não deveria gritar com qualquer outra pessoa que fosse. Na verdade não deveria nem ter ido lá, juro que visualizo a Tati Quebra-Barraco falando “você não tinha nem que tá aqui linda”, mas eu fui Thiago, porque sou assim, impulsiva. Melhor do que ficar com assunto pendente, e além do mais...

- Tina, será que você pode calar essa boca?

Tina enfim sentou na poltroninha. Estava morta. Só conseguia lembrar de um tweet da Vera Fischer:


- Olha Tina, realmente foi uma série de equívocos. Não sei por que você ficou tão possuída, nós nem somos namorados ou coisa parecida para esse comportamento. E mesmo que a gente fosse, sabe? Minha mãe provavelmente nunca vai esquecer dos desaforos que você falou. E eu nem a culpo. Minha mãe não é quenga.

Tina já havia aceitado que não veria mais Thiago desde o momento em que saiu do prédio dele, mas ouvir aquilo tudo lhe deixou anestesiada. Ficou imóvel. Mas sua vontade era de chorar.

Thiago, que ainda estava com uma aparência cansada, sentou-se na poltroninha do lado e falou:

- Mas mesmo com tudo isso, eu queria continuar saindo com você. Sei lá, você é maluca, mas eu gosto assim. Não estou te pedindo em namoro, só queria sair de novo com você.

E a playlist de Tina tocou uma de suas músicas favoritas.


Tina resolveu então que seria bom dar uma chance para Thiago e ver no que ia dar. Não estava mesmo apostando em namoro, mas ter alguém que colocasse um sopro primaveril em sua vida seria muito bom.

- Quer tomar um café comigo, agora?

- Sim! Vou só colocar uma roupa decente, não sai daí!

Tina correu para o quarto, abriu o armário e pegou a primeira roupa que viu. Estava eufórica. Sentou na frente do espelho para passar uma maquiagem rápida e se olhou bem. “Parece que o mundo dá voltas né?”. Mas o espelho nada disse.

E enquanto tentava controlar a alegria e se maquiar ao mesmo tempo recebeu uma notificação no celular.

Era do Tinder.

Quando abriu ficou dura que nem sua mãe dizia que seu estômago ficaria se bebesse leite com manga. Era de Rafael. O balãozinho da mensagem dizia:
- Oi, Tina.


***



Bia estava almoçando no centro da cidade, e enquanto comia, falava com Marcela pelo whatsapp.

Bia: Tá melhor, mulher?
Marcela: Tô sim. Estava aqui falando com o mordedor
Marcela: Sabe Bia, ele me fez pensar muitas coisas
Marcela: Me fez avaliar coisas que já fiz, meu modo de agir...
Marcela: E por isso acho que preciso definir essa história com ele.

Nesse momento Bia recebeu uma mensagem de Frank.

Como sempre gentil, ele perguntou sobre seu dia e elogiou a fotografia de umas flores que Bia havia postado no Instagram.

Ela viu no Facebook que era aniversário dele e se apressou em felicitá-lo.

Bia: HAPPY B-DAY BABY BOY!!!!!

Ele agradeceu muitas vezes, e desejou que ela estivesse perto para comemorarem juntos.

Bia sabia que aquele papo era antiquíssimo. Todo novo crush de internet fala as coisas mais amorosas. Envia fotos bonitas, mostra os lugares, faz planos. Mas isso tudo um dia acaba. E a pessoa para de falar, de mandar as saudações de bom dia, de elogiar a roupa nova, de dizer o quanto gostaria de poder dar um abraço.

Na internet os amores eram fugazes demais. Um dia o crush simplesmente se torna mais longe do que a distância geográfica. Sem nenhuma explicação. Sem nenhum aviso. Muitas vezes se apaixonam por alguém da mesma cidade.

Isso não era errado, Bia pensava, mas era justo ao menos que recebesse uma mensagem contando o acontecido. Não queria satisfação, queria sinceridade.

Um dia o crush de internet simplesmente entra na estatística de pessoas que gostaria muito de ter conhecido, mas que nunca teria a oportunidade. Um dia o crush de internet se torna um seguidor/amigo que não mais conhece. Até que ele clica em unfollow/desfazer amizade, e se perde nas ondas virtuais pra sempre.

Bia podia estar antecipando demais as coisas, mas era como sempre acontecia. Mesmo assim, mais uma vez, resolveu dar espaço para que Frank jogasse a sua isca. A isca que adorava morder, porque não havia nada mais glorioso do que a troca mútua de afeto em tão pouco tempo.

“Sim, pareço estar me contentando com pouco”, falou para si mesma. “Mas enquanto o que eu mereço não chegar, é assim que vai ser”.

E respondeu para ele, dizendo que seria maravilhoso acompanhá-lo em um pub ou restaurante que conhecesse para comemorarem o seu aniversário de 26 anos. Ele mandou uma selfie na sequência, com aqueles lindos olhos claros, e Bia, mesmo se considerando idiota, se encheu de uma alegria idiota e inesperada.

Porque na carência generalizada que a modernidade trouxe, um mínimo gesto de carinho, sendo virtual ou não, passageiro ou não, era mais eficiente do que sopa bem quente no inverno.

Bia voltou a falar com marcela e perguntou o que ela tinha resolvido, mas Marcela disse que explicaria melhor em casa.


***




Marcela estava voltando para casa naquela segunda-feira.

O dia campeão de reclamações nas redes sociais. Mas na verdade era igual a todos os outros.

Entrou no ônibus habitualmente escutando música, e recebeu uma mensagem do mordedor, dizendo que precisava estudar, mas que gostaria de estar com ela.

Marcela: Você precisa estudar homem, senão perde o foco.

Disse ela, tentando despistá-lo. Sim, estava resolvida a não mais vê-lo.

Apesar de ter consciência de todos os seus problemas internos, outras coisas ajudavam na decisão de que seria melhor não se verem mais.

Ele então respondeu:

:P: Pouxa, você sempre me corta.
:P: Eu dizendo que queria te ver e você nem dá bola.

Marcela se sentiu ferida, porque muitas vezes estivera na posição do mordedor, na posição de quem recebe um retorno negativo, o popular toco.

Marcela: Não é isso, mordedor.
:P: Vem pra k, me dá uns beijos que vai me ajudar a estudar :P
Marcela: Ai mordedor, é que sendo sincera, eu não estou mais na vibe, desculpa.

Ele demorou a visualizar a mensagem, e esse tempo foi o suficiente para fazer Marcela se sentir a pessoa mais fria do mundo. Ele respondeu:

:P: Eu acho que você quase nunca esteve na verdade, ao menos comigo :(
Marcela: Não é verdade, a gente se divertiu muito junto.
:P: Sim, nos divertimos. Acho que tu não curtiu muito, senão teríamos continuado.
:P: Mas vamos ficar de boa, te acho uma mulher muito legal.

E assim acabou o contato. Acabaram as mordidas, as possibilidades.

Marcela chorou um pouco, porque acabou entrando em mais um clipe imaginário. A música a fez pensar sobre sua vida até então. Percebeu que tinha saudade de muitas coisas.

Trilha final: https://www.youtube.com/watch?v=pfCl_Kp6BIo 

Sentiu saudade do tempo que era uma adolescente desengonçada e parecia que o futuro era um tempo sem fim. Dos videoclipes que gravava no videocassete. De encontros que não deram certo, mas poderiam ter dado. Tinha saudades do seu pai que já havia morrido, e tinha saudades da sua mãe que estava longe.

E hoje a saudade era, especialmente, de algo que não tinha vivido.

Havia lugares que a lembravam de muitas coisas, e passou por eles na rua. O café que frequentava com Romeu, o restaurante que já tivera dates, o pub que foi com mordedor.

Pareceu estar dentro de um roteiro turístico afetivo. Se estivesse mesmo, em mãos teria um mapinha com várias marcações: momentos felizes, amorosos, tristes. Mas nem precisava, lembrava de cada um deles muito bem.

Nessa saudade inesperada havia quem ela iria se lembrar pra sempre, quem já tinha esquecido e quem queria esquecer.

“Mas de você me lembro mais”, pensou ela, referindo-se ao seu próprio medo de baixar a guarda. O medo de tropeçar, cair e ralar um braço ou o joelho. O medo que uma relativa inexperiência havia lhe imposto.

Olhou pela janela e as luzes da cidade, que estavam se preparando para a vida noturna, formaram o take final do seu clipe.

“Um dia terei um clipe menos sofrido, porque de você me lembro mais”, falou, quase em voz alta.

Dessa vez referindo-se aos momentos que se sentiu realizada, afinal de contas, esses momentos sempre podem voltar.



FIM




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