domingo, 29 de novembro de 2015

Amores Wi-Fi - Temporada 6 Episódio 5: Jason sem Facão







Marcela perdeu as contas de quantas vezes desviou de escadas na rua ou sofreu calada quando um gato preto cruzou o seu caminho. Tentava ser madura o suficiente para não acreditar em superstição, mas era mais forte do que ela.

E quando acordou na sexta-feira 13 teve certeza de que não seria um bom dia.

Pensou em ligar para o trabalho e dizer que estava doente. “Mas se ficar em casa, o prédio pode desabar, por exemplo”, pensou, justificando que, quando o azar quer, encontra um jeito. Encontraria ela até no inferno.

Assim, saiu da cama devagar, tomou banho usando chinelos de borracha para não escorregar, usou talheres de plástico no café da manhã para evitar se cortar, aboliu o uso do secador para não levar choque, calçou sapatilhas em vez de salto para não cair na rua.

No mais, era rezar para um meteoro não cair na sua cabeça ou uma pomba cagar na sua roupa.

Mesmo com medo de se expor para a má sorte, Marcela resolveu sair naquela noite. Aceitou um convite no Facebook para ir numa festa que já conhecia. Mas teria que ir sozinha.

- Eu não vou Marcela, o Leon costuma frequentar esse lugar.

- Como você sabe? Ah, você o stalkeou, esqueci. Mas foda-se, vai se esconder?

- Tô envergonhada, só isso.

Não seria a primeira vez que sairia sozinha. Pegou sua bolsa e saiu. Na rua, caminhava ora olhando pro céu, ora para a calçada.

Na direção oposta, Bia sentou em uma poltrona vaga do ônibus e pegou o celular. Já havia perdido a conta de quantas vezes reativou o Tinder. “O que posso fazer?”, falava para si mesma, avaliando as últimas experiências amorosas que teve.

E assim abriu o aplicativo para responder uma mensagem recebida durante a madrugada.

Era um rapaz bem bonito, respondeu ao seu oi. Ele se chamava Pedro.

Pedro: Tudo bem com você?
Bia: Tudo certo, e com você?
Pedro. Tudo ótimo. Tc de onde? Procura o que no aplicativo?

Bia odiava essas perguntas de origem das salas de bate-papo do UOL. Mas foi adiante.

Bia: Sou daqui mesmo, e não perdi nada pra procurar rssssssssssssss
Pedro: Hahaha ok. Bom, te achei gata
Pedro: Vi que vc tem uma foto com meias coloridas, acho tão fofo
Bia: Ah obrigada! Tenho várias, amo meia estampada
Pedro: Que legal! Pode mandar foto usando elas? Morro de tesão em enfiar a cara em pés com meias e tirar elas com os dentes.
Bia: Olha não vou fazer book de pé só porque você quer!
Pedro: Ok.

Bia podia ter dito mais coisas, mas ficou tão estupefata...  Não era a primeira vez que um homem manifestava interesse nos seus pés. “Com tanta coisa melhor pra querer colocar a cara”, pensou ela, rindo sozinha.


***



Tina estava evitando as ligações de Thiago desde o dia anterior. Ele bem poderia ter entrado no seu apartamento, afinal tem as chaves, mas deve ter entendido que havia algum problema maior.

Depois da vigésima terceira ligação, achou que seria de bom tom procurá-lo.

Lavou a cara, pegou sua bolsinha e saiu correndo pela rua. Se tivesse o cabelo vermelho poderia se chamar Lola.

Quando chegou no prédio estava toda descaracterizada. Tocou o interfone e pediu pra subir. Thiago nem respondeu, Tina apenas ouviu o click que libera a porta.

Quando entrou no apartamento foi logo dizendo:

- Eu esbarrei com meu ex e não soube o que fazer. Só queria correr, pra bem longe. A verdade é que não sei o que sinto por ele.

Disse Tina, como um tiro.

- Pois nem precisa, Tina. Se você tem dúvida não posso te ajudar. Melhor você se resolver sozinha.

E abriu a porta, enquanto devolvia a chave da sua casa.

Pegar aquela chave de volta era como andar pra trás na sua trajetória afetiva. Sabia que estava perdendo muita coisa, porém sentiu-se bem em ser honesta. Foi seu único consolo.

Quando chegou na rua parou na primeira lanchonete e comprou sorvete. Nada melhor do que sofrer com a barriga cheia de porcaria.

Sua missão seria, dali pra frente, tomar a decisão menos pior.


***


Status do dia: nenhum incidente. Nada de café derramado na mesa ou chiclete grudado no cabelo dentro do ônibus. Marcela estava no lucro, e por isso se animou com a festa.

Tomou um banho demorado, depois colocou um vestido, uma blusa amarrada na cintura, as botas e o cabelo solto de prancha. E o seu perfume favorito, porque queria arrasar.

- Tem certeza que não quer ir, Bia?

- Não, tô de boa. Não quero dar sorte para o meu azar.

Marcela bateu três vezes na madeira e saiu. A noite era sua.


Marcela chegou meio sem jeito, fazendo dancinhas toscas com as mãos para disfarçar o fato de estar sozinha. Passou pela multidão da pista e foi direto para o bar comprar uma bebida.

Enquanto isso tentava ensaiar uns passos de dança, como essa moça: https://rsfd.files.wordpress.com/2009/10/gif-nicole.gif?w=468

Sem sucesso, sentou num banquinho de frente para o balcão e ficou ali, bebericando e olhando os boys.

Um tempo depois, Marcela olhou por cima de seu ombro direito, de um jeito sensual, e se deparou com um homem parado lhe olhando. Deduziu que ele tivesse mais de 50 anos, mas era bem bonitão. Ele sentou-se do seu lado.

Em uma conversa despretensiosa Marcela descobriu que ele era médico psiquiatra. O nome? Jason.

“Meu Deus é muita coincidência nessa sexta-feira 13”, pensou. Pouco depois estavam se beijando. Além de bonitão, educado e bem sucedido, beijava bem. “Dia de sorte!! Chupa essa azar!”, pensava ela, enquanto dançava loucamente. Jason dançava mexendo só os ombrinhos, talvez por vergonha de Marcela. Mesmo assim ele falou:

- Quer esperar o horário de ir embora lá em casa?

- OK, vamos.

Marcela foi, tentando camuflar um pouquinho de medo que sentiu por dormir na casa de um estranho. Ao chegar lá se beijaram mais e mais... já estava sem medo e sem pudores. Já na cama, seminua, vestindo apenas a calcinha nova e o sutiã de bojo, viu Jason se despir. E antes de iniciar os procedimentos de fato, ele falou:

- Preciso te dizer algo que não disse antes.

Marcela pensou em tudo: ele ser mulher operada, um ladrão que quisesse roubar sua bolsinha, que talvez tivesse problema com ex, mas não era nada disso.

- Marcela, eu sou hipertenso. Por causa do meu medicamento, tenho efeitos colaterais e eu... sabe... não funciono.

- Ah, tudo bem. – disse Marcela, disfarçando a tristeza. Deu-lhe um beijinho de boa noite, virou para o lado e dormiu até as 11h.


“Parabéns sexta-feira 13, você nunca perde a jogada.”

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