domingo, 29 de novembro de 2015

Amores Wi-Fi - Temporada 6 Episódio 6: As Pessoas Mudam






Bia estava conversando com um contato do Tinder há alguns dias. Passaram do estágio inicial de informações superficiais no app para as longas conversas no whatsapp. E estava gostando.

Estava no trabalho quando chegou uma mensagem nova.

Rudinei: Oi Bia, tudo bem?

Bia odiava responder de imediato, porque sempre parecia desespero e/ou estar sempre disponível, mas também odiava joguinhos, então respondeu. Porque sim.

Bia: Oi Rudi, tudo bem, e contigo?
Rudinei: Tudo bem também :D
Rudinei: Passei só pra dar um oi mesmo, não quero atrapalhar sua tarde.
Bia: Não atrapalha nada ^^

E assim eram as conversas, cheias de afetividade, e sem pedidos estranhos, como fazer um book usando meias estampadas.

Às vezes Bia queria sair com alguém sem nenhum compromisso, trepar e ir embora. Mas muitas vezes sentia falta dessas doçuras que nem todos, habituados com a vida viertual do jeito que estão, são capazes de proporcionar.

Por isso aquele crush repentino injetou um pouco de ânimo no seu currículo Lattes afetivo. Que por sinal andava bem desatualizado. Não é fácil a vida de acadêmica do amor.

Enquanto falava com Rudinei recebeu um whatsapp de Tina, no grupinho.

Tina: Meninas, vamos almoçar essa semana?
Tina: Faz tempo que a gente não se vê. E queria conversar, a colheita das pitangas choradas vai ser grande =/
Bia: haha por mim pode ser qualquer dia
Bia: Vamos acabar com essa safra de pitangas!
Marcela: Por mim também pode ser, que tal amanhã?

E assim todas concordaram. Tina adorava esses almoços e cafés, se sentia numa vibe Sex and the City. Porém sem a parte do dinheiro e das festas cheias de glamour. Tina era do tipo que se acabava no forró e nos shows do Roupa Nova. Assim era feliz.

***



Bia chegou em casa exausta. E irritada.

Caminhando pela rua, ainda sob a claridade do horário de verão, sentia o perfume que algumas plantas exalavam, que acionava sua memória afetiva e a fazia lembrar que o Natal já estava próximo.

Odiava Natal.

Mas não queria fazer balanço do ano, não ainda. Suas listinhas teriam que esperar mais um pouco, especialmente a listinha de coisas realizadas.

Abriu o celular para ver se Rudinei havia respondido sua última mensagem.

*Visualizada*

Achou estranho, pois Rudinei sempre, SEMPRE respondia rápido. Resolveu escrever de novo.

Bia: Oi Rudinei? Rudi? Tá tudo bem?
Rudinei: Oi, tá sim, tudo bem.
Bia: Que tal marcarmos aquele almoço? Ou um café?
Rudinei. Vamos ver.
Bia: Tá ok, uma boa noite então.

E Rudinei, naquele texto visual representado apenas por um único emoji, disse:

Rudinei: ;)

Bia ficou um pouco chateada, e com raiva, e também surpresa. “Por que as pessoas mudam tanto de ideia? Se não querem mais, não é mais fácil verbalizar? ACABOU, JÉSSICA?”

***


No quarto, Marcela abriu o seu diarinho no computador, rezando para que nunca fosse hackeada.

“Oi diário, estava aqui pensando.

Houve uma época em que eu achava que, quando fosse ficar mais velha, ia ser mais fácil lidar com relações, mas parece que as pessoas pararam no tempo. Vejo tanto homem adulto agindo do mesmo modo quando estava na escola...

Eu tenho, hoje, os mesmos medos de quando era adolescente. E isso não é por falta de maturidade da minha parte. É que eu não me sinto encorajada a muitas coisas, porque não sinto confiança.

Mas a gente também muda.

Talvez aquela inocência fosse mais benéfica, porque a gente não levava tudo tão a sério. Eu cresci, vivi algumas coisas, e cometi alguns erros também. E ainda os cometo. Mas me vejo pronta. Só queria que os homens assumissem as coisas que, muitas vezes, num momento de estupidez a nossa, fazem parecer verdadeiro.

Chega de mimimi, né? Se um dia alguém falar no meu Arquivo Confidencial, que isso nunca seja descoberto.”

E colocou uma senha no arquivo. A mesma senha que, metaforicamente, já lhe fechou para muitas coisas na vida.


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