terça-feira, 11 de outubro de 2016

Amores WI-FI - Temporada 7 Episódio 21 (SEASON FINALE): A Engrenagem dos Relacionamentos






Tomada por um nervosismo descomunal, Marcela saiu ligando para suas amigas. Não porque elas pudessem ajudar, já que nem conheciam Roni, mas por uma tentativa instintiva de ter alguém para se apoiar.

Ninguém sabia como ajudar.

Pensou em mil coisas, que Roni tivesse sido assaltado e sequestrado, que havia levado um tiro nas ruelas escuras do centro, que pudesse ter caído um tombo, batido a cabeça e perdido a memória... uma série de conclusões trágicas para justificar aquele sumiço. Sentiu-se viúva sem ser casada.

- Meu Deus! Meu Deus!

Era tudo o que conseguia dizer.

Foi quando o telefone tocou. Achou que era a polícia avisando que encontraram o corpo do homem, e no celular uma conversa recente mostrava seu número, algo assim. Mas era o próprio Roni. “Mas defuntos não mandam whatsapp!”, pensou Marcela.

Roni: Oi! Você deve estar querendo me matar haha
Roni: Eu acabei indo jantar na casa de uma amiga
Roni: Fiquei sem bateria, e dormi por lá mesmo
Marcela: Você tem ideia do susto que eu passei desde ontem?
Marcela: Tem?

Nem mencionou o fato dele ter dormido na casa de uma ~amiga. No momento aquela informação era o menos importante. Marcela xingou Roni por décadas no whatsapp, onde já se viu, ficar perdendo cabelo de nervosa?

Porém ficou aliviada por estar tudo bem, que não iria precisar comparecer em um velório e explicar para a família que não conhecia muito bem o defunto, porque apenas transava com o falecido de vez em quando.

E marcou de encontrá-lo durante a tarde na Feira do Livro que estava acontecendo no centro, antes dele voltar para sua cidade. Sentiu falta de Roni.


***




Na noite anterior, Thiago saiu do café correndo num Uber para a casa de Tina. Pensou nas desculpas que iria pedir e na possível noite juntos que poderiam ter, caso ela realmente o desculpasse.

As balinhas do carro não foram suficientes para aplacar sua ansiedade, nem a água. Nem o silêncio do motorista. Nem a música boa que tocava na rádio.

Quando o carro parou na frente do prédio se jogou no interfone. Tocou. Tocou. Tocou mais uma vez, e nada. Certamente ela espiou da janela, ou desconfiou que fosse ele, e fingiu não estar em casa. Compreensível, havia sido a sua vez de estragar tudo.

Ficou olhando para os lados da calçada, igual o gif do John Travolta perdido:


E percebeu que a bateria havia acabado, não teria como chamar outro carro, e sem nenhum ponto de táxi nas proximidades, o jeito seria sair andando pra casa, ou até passar um no caminho. Seria assaltado, certamente. E seria bem feito.

Nisso um táxi parou na calçada. “Nem tudo está perdido!”, pensou. E viu Tina saindo de dentro do automóvel, como se estivesse sendo cuspida (ou vomitada) por ele.

- Tina????

Pelo seu estado achou que estivesse prestes a morrer ali mesmo, afogada pelo álcool, ou sufocada pelo cheiro dele, que era exalado de sua própria boca.

Tina não conseguiu dizer muita coisa, e o que disse, foi numa espécie de língua morta que jamais conheceria. Foi o tempo de Tina dar dois passos e cair desmaiada na frente de Thiago.

Thiago, então, juntou Tina, pegou a chave na bolsinha e a levou para dentro de casa.

Fez com que ela tomasse um banho e colocou o pijaminha de flanela. Não havia nenhuma tensão sexual naquele momento, Thiago nem mesmo se recordou de todas as vezes em que estiveram juntos. Só queria cuidar de Tina.

Ela continuou adormecida. Vomitou duas ou três vezes durante o banho e ficou serena, limpinha e protegida. Thiago sentou-se na poltroninha ao lado e ali adormeceu, mas pronto caso Tina acordasse e precisasse de ajuda.

Na manhã seguinte, Tina iria acordar e demorar para lembrar da noite no bar, e mais ainda para entender o que Thiago fazia no seu quarto, dormindo desajeitado naquela poltrona minúscula que quase parecia as poltroninhas coloridas de criança vendidas nas calçadas da cidade.

Mas teve a certeza de que, quando Thiago acordasse, ele seria seu.


***



Quando Roni chegou, Marcela desfiou novamente o seu novelo de palavrões e xingamentos. Mas falou isso tudo durante um abraço, óbvio, porque não era tão rainha do gelo quanto parecia.

Roni se desculpou mil vezes, explicou, e Marcela esqueceu o fato. Queria curtia a presença dele, mas notou que estavam mais inseridos em um clima de amizade do que outra coisa qualquer.

Caminharam pelas bancas de livros, sentaram-se no banquinho da praça para conversar, e depois resolveram beber uma cerveja num boteco das proximidades.

A conversa foi maravilhosa como sempre, regada por risadas, lembranças antigas e histórias pessoais. E apenas isso. Marcela continuou sem abraço, beijo ou qualquer outro tipo de afeto. Dois encontros em que nada aconteceu.

Enquanto ficava lentamente alterada pela bebida, ficou pensando no que aquilo poderia resultar. E o que aquilo poderia significar.

Talvez Roni nunca houvesse engolido o episódio do pseudo pedido de namoro não correspondido. Talvez ele apenas não tivesse entendido o jeito de Marcela em lidar com as coisas. Talvez ele fosse entender um dia. Talvez.

Quando a noite chegava, Roni disse que precisava embarcar de volta. Ela o acompanhou até a rodoviária.

Se despediram com uma certa ternura, afinal, Roni era importante para ela.

Foi a última vez que o viu pessoalmente.

Pouco depois, Roni passou uma longa temporada na casa da irmã, que morava no litoral, e entre palavras de saudade e cobranças, achou que seria melhor seguirem em frente como amigos, pois não queria deixar Marcela pendente numa relação a distância.

Marcela entendeu, e não guardou nenhum tipo de ressentimento. Ao menos até o momento.


***


(Volta para o tempo atual, quando iniciou a temporada)

Domingo, 12 de junho de 2016.




Marcela se ajeitou na mesa do restaurante, era apenas mais um dia dos namorados. Esperava sua companhia enquanto bebia algum drink. Estava feliz.

- Cheguei!!! Desculpa o atraso.

Era Bia, que vinha de um date. Sim, um date em pleno dia dos namorados.

- Quem foi a vítima?

- Alguém do Tinder, sem muita importância.

- Poderia ter ficado com ele se quisesse, não ia me importar de jantar sozinha, viu?

- De jeito nenhum, amigos antes dos machos. E além do mais, nem foi muito bem sucedido. Estou curtindo estar aqui. E repara, estão achando que somos um casal de lésbicas.  – falou, sorrindo.

- Lésbicas maravilhosas, quem sabe a gente tenta? Brincadeira haha.

Marcela estava feliz de verdade. Roni fora, no fim das contas, o mais próximo que teve de um relacionamento desde Romeu, ou seja, participou de um processo pessoal muito importante. Uma peça fundamental naquela engrenagem que era se relacionar.

Um brinde a si mesma.





FIM

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