terça-feira, 11 de outubro de 2016

Amores Wi-Fi - Temporada 7 Episódio 20: Deixe o Rio Correr






Tina fico lá, em um estado semimorto, até que a última pessoa cantasse a última canção no karaokê. No caso foi alguma do Gypsy Kings.

Logo depois o bar entrou num clima de deserto que só nos filmes mais tristes era possível existir. Sozinha e entorpecida, Tina cochilou e, sonhando, entrou em um de seus flashbacks do tempo de escola.

Trilha do flashback de Tina: https://www.youtube.com/watch?v=cv-0mmVnxPA

Viu a si mesma no dia da sua formatura. Pareceu que havia sido ontem. Viu cada detalhe da sua roupa – uma calça bag com o jeans de aspecto marmorizado e uma blusa rosa deixando um dos ombros à mostra.

Não quis usar vestido, quis ser diferente. E sem saber bem ao certo o motivo, pediu para ser oradora da turma. E mais estranho ainda foi que concordaram.

Na hora de discursar, Tina pegou suas anotações e se dirigiu ao púlpito. Ficou uns minutos em silêncio, sob as risadinhas de deboche. Então, rasgou os seus papéis e iniciou uma fala improvisada.

“Não vou falar sobre a faculdade, não vou falar sobre os anos que passamos nessa escola, não vou falar sobre esforço, sobre mérito ou sobre a educação. Vou falar sobre amor. Vou falar também sobre anulação. É isso que acontece quando a gente deixa os outros decidirem por nós o que é certo. Certo quem sabe o que é sou apenas eu, é você e você. Vou sair daqui hoje esperando nunca mais olhar para a cara de nenhum de vocês, e nem para a minha própria. Pois, a partir de amanhã, quando me olhar no espelho, serei outra Tina (começou ali sua relação íntima com o espelho). Vou sair daqui e encher a cara, vou cantar alguma música brega e vou dançar nua, em comemoração a mim mesma. Quero deixar meu muito obrigado. Se essa escola não houvesse sido tão idiota, eu não seria eu hoje. Amor é isso. Amor próprio, antes de qualquer outro. E um dia eu terei o amor de quem eu mereço e, especialmente, de quem me merece e...”

Tina foi interrompida pelo som mecânico do DJ, igual aos ganhadores do Oscar quando são interrompidos em seus discursos que excedem o tempo regulamentado.

Saiu da escola sob olhares de questionamento, mas estava realizada.

Sabia que um dia seria a Tina que deveria ser, e estava apenas começando.

Voltou do Flashback.


Acordou com alguém balançando seu ombro, e com uma ardência que só um fluxo gástrico fora de hora é capaz de proporcionar.

Longe dali, a garçonete trazia a terceira xícara de café para Thiago.

- Obrigado, o café está ótimo. – Disse ele, num tom melancólico que comoveu a funcionária.

Ela estava saindo, mas resolveu voltar e disse.

- É curioso, mas o senhor me lembrou muito uma moça que esteve aqui há várias semanas. Ela se sentou nessa mesa ao lado, bebeu várias xícaras desse mesmo café, e ali ficou. Como se esperasse por alguém. Nunca vi alguém tão decepcionada. A mesma expressão de decepção que está no rosto do senhor agora. Com licença.

Aquelas palavras caíram como uma bomba de consequências inimagináveis sobre Thiago. Tina havia, realmente, falado a verdade. Foi apenas mais uma ação atrapalhada daquela mulher.

Não que merecesse, mas a primeira coisa que fez foi pagar os cafés e se dirigir para a casa de Tina pedir desculpas.


***



Na manhã seguinte, a primeira coisa que Marcela fez foi olhar o whatsapp para ver se Roni havia recebido sua mensagem. Ela continuava marcada como não recebida.

Marcela, enfim, entrou em pânico.

Tentou ligar para o celular e só caía na caixa postal. Pensou em ligar para a recepção do hotel, mas lembrou que ele havia dito que se hospedou em um hotel diferente, e não lembrava do nome.

Chorou por dentro. “Meu Deus aconteceu alguma coisa muito grave com esse homem!”, concluiu. Sabia apenas a região onde ele estaria. Fez, então, uma filtragem dos hotéis daquela parte da cidade e ligou um por um, implorando para os recepcionistas que dissessem se ele estava hospedado lá ou não.

Roni não estava em nenhum. Já inconsolável, ligou no último, e uma mocinha muito prestativa, diante de sua aflição, foi verificar no sistema.

- Sim, o hóspede Roni está registrado nesse hotel, vou transferir a ligação para o quarto.

Marcela respirou aliviadíssima. Iria xingar tanto Roni por mais aquela preocupação que iria gastar muitos minutos só com desaforos. Foi então que ouviu novamente a voz da mocinha da recepção.

- Senhora, a ligação retornou, ele não está no quarto. Verifiquei e a chave está conosco. Ele não voltou na noite passada.

Marcela, então, sentiu-se mais no chão do que Bolsonaro quando se jogou nos braços do povo.


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