Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=zp5FrYn2Kbs
Marcela chegou em casa e ainda não havia
recebido mensagem de Roni avisando que já estava no hotel.
“Aquela peste deve ter caído no sono mais
uma vez”, pensou.
Mesmo assim perguntou pelo whatsapp.
Marcela: Oiee
Marcela: Chegou bem?
Marcela: Avisa assim que puder, criatura.
Ficou olhando o aplicativo processar a
mensagem. Segundos intermináveis com aquele ícone girando como se fosse uma
roleta de cassino. Tanta espera para, ao final, aparecer o ícone de mensagem
não recebida. Como se Roni estivesse com o celular desligado ou sem bateria.
“Deve ter sido isso mesmo, não vou me
preocupar, não vou me preocupar”, repetiu, tantas e tantas vezes que até passou
a acreditar.
Foi até a cozinha Enquanto isso escutou na
sala o som de uma notificação.
- É o meeeeu!
Gritou Bia.
Mensagem de Snapchat. Há muito tempo que
não recebia snap.
Abriu o aplicativo afoita para saber se era
nude de alguém interessante, ou aquela gente sem noção que posta o mesmo snap
na história e no privado. OU aquele tipo de gente que manda snap da festa. Ou
aquele tipo de gente que faz snap como se fosse youtuber, e o pior, como se
alguém se importasse com o tanto de coisa estúpida que fala.
Depois de muito tempo processando o snap
abriu, era de um ex peguete com quem se envolveu por um tempo até que razoável.
Abriu o snap, e na foto, estava ele, o ex
peguete e a atual namorada, ambos de roupa íntima na frente do espelho.
- Por que caralho esse homem me mandou snap
no privado? Aquele tipo de snap? Por que eu preciso ver ele com a outra?
Esbravejou sozinha. Marcela havia entrado
no banheiro.
Aquele “vrá” havia lhe deixado a lição de
estar zerada, em mais uma temporada sozinha, que todo mundo a sua volta havia
abandonado a busca por alguém em aplicativos. E que ela, somente ela, ainda
tentava compreender as coisas e passar pelas próprias barreiras.
***
Trilha final: https://www.youtube.com/watch?v=3Y0MJMQujw0
Thiago entrou no café, e havia meia dúzia
de pessoas espalhadas pelas mesas. Na certa alguém em fim de date, ou pessoas
se preparando para irem a outros lugares, encontrar outras pessoas e fazer
coisas mais divertidas.
Estava mesmo sentindo-se no fundo do poço.
Na TV da Samara. Em cima do telhado com medo do ataque dos vermes malditos.
Talvez estivesse sendo mesmo cabeça dura
com Tina. Talvez pudesse deixar o bolo para lá, e tantos outros erros que Tina
havia cometido, e enfim se acertar.
Mas não era tão fácil.
A garçonete se aproximou.
- Deseja pedir alguma coisa, ou quer um
cardápio?
- Não, pode me trazer o café passado direto
na xícara, por favor.
- Pois não.
Longe dali, em um bar qualquer, Tina bebia
o quinto shot de Tequila e arrancava o microfone do karaokê das mãos de uma
mulher para cantar Eliana de Lima.
- Essa música é MINHA!
Gritou, com a dicção prejudicada pelo
álcool.
“Agora estou sozinha precisando de vocêêê e
você não está por perto pra me ajudaaaaar”, cantava, secando as lágrimas e
sujando a roupa com rímel, que não era a prova d’água.
Terminou de cantar, e estava tão sofrida,
tão cagada, que ninguém ousou aplaudir aquela manifestação de sofrimento.
Tina pegou mais uma dose e foi sentar na
mesa no fundo do bar, e escutar alguém cantando Evidências, apenas para sofrer
mais um pouquinho.
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