Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=z_t7zOKQd-M
O verão estava quase no fim. Naquele dia de
clima indeciso, Marcela combinou de encontrar Roni. O que fariam ainda era
incerto, pois ele não sabia se iria dormir na sua cidade ou se iria ficar na
cidade vizinha, onde tinha parentes.
“Sem problemas, pelo menos a gente vai se
ver”, pensou Marcela.
Estava com amigas na rua, a Carolina e a
Gia, com sua cachorrinha, a Preta, quando chegou Roni. Abraços burocráticos,
afinal, Roni não era muito de demonstrações de afeto em público.
Roni estava com o cabelo platinado. Marcela
não costumava curtir, mas achou bem em Roni. Ou é porque estava muito afim
dele. Foram todos bater perna pelo bairro, ate que Preta ficou cansada e Gia
achou melhor levá-la para casa. Carolina foi também, então Marcela e Roni
resolveram comer alguma coisa.
Pediram tanta comida, mas tanta comida, que
Marcela passou mal em silêncio. Não quis dizer que havia comido demais. Conversaram
sobre muitas coisas, sobre música, sobre filmes, sobre pessoas que conheciam de
redes sociais. Parecia mais um primeiro encontro.
Marcela começou a se sentir incomodada,
queria ser tocada, queria um abraço. Queria ser beijada. Talvez para que a
vissem trocando afeto, é bem verdade, estava cansada de ser sempre a sozinha
dos grupinhos. Mas, de verdade, queria estar com Roni.
Mas Roni seguia com sua intimidade pouco
avançada.
De vez em quando Marcela pensava se ele esteve
realmente afim de estar com ela alguma vez. Se, talvez, o episódio do pedido
recusado não invalidou o que ele, aparentemente, vinha demonstrando sentir por
ela.
Eram muitos questionamentos, mas nenhuma
conclusão.
Quando anoiteceu, Marcela resolveu ir
embora. Diante do clima estranho, e de ter saído de casa sem suas coisas
pessoais para passar a noite, não foi para o hotel com Roni. Pegaram um taxi
juntos até a estação de trem mais próxima, que ficava perto do hotel. Eles
desceram juntos, e Roni faria o resto do percurso a pé.
- Mas essa região é muito perigosa Roni, vá
com o táxi, não vai fazer quase diferença nenhuma.
- Imagina, vou num instantinho, logo chego.
Aquela despedida quase de amigos deixou
Marcela incomodada.
- Você não vai me dar um beijo?
- Aqui?
- E o que tem?
Meio rindo, meio obrigado, Roni lhe deu um
beijo. Teria sido mais excitante ganhar um selinho da Hebe.
- Nos vemos amanhã? – perguntou ele.
- Com certeza. E me avise assim que chegar
no hotel, tá?
E se despediram. Enquanto se encaminhava
para a bilheteria viu Roni se distanciando, um quase amigo.
***
Trilha final: https://www.youtube.com/watch?v=oh2LWWORoiM
Enquanto isso Tina resolveu colocar um
ponto final na novela Avenida Thiago. Nunca mais passaria por aquela avenida.
Já estava conformada. Estava enterrada viva igual Nina, atolada no lixão igual
Mãe Lucinda, sentindo-se otária igual Tufão.
Pegou sua bolsinha transversal e saiu.
Resolveu chegar na casa de Thiago de surpresa, para não dar espaço para
desculpas inventadas.
Pegou o metrô, calculando quando tempo
teria para falar, para poder pegar o último metrô para voltar. Não teria muito
tempo. “Melhor assim, porque aí eu falo tudo de vez com medo de ficar presa na
rua”, pensou.
Longe dali, Thiago se preparava para sair
de casa. Escolhia um livro para levar, iria espairecer a cabeça em um desses
cafés que fecham bem tarde.
Se olhou no espelho, num ritual de
perguntas sem respostas, sem saber que aquela era uma prática antiga de Tina.
Queria saber o que fazer, quando, no fundo, sabia que era apenas questão de
engolir o seu orgulho inútil.
Se tivesse amigos astrólogos creditariam
justificariam a prática do orgulho ao signo.
Parou na calçada e abriu o aplicativo do
Uber. Em pouco tempo o carro chegou, e foi comendo balas a viagem toda.
Foi nesse instante que Tina dobrou a
esquina. Tocou o interfone. Lembrou da vez que foi caminhando toda aquela
distância a pé, e acabou chamando a mãe de Thiago de vagabunda. Águas passadas.
Tocou. Tocou de novo. Tocou mais uma vez.
Ficou mais no vácuo do que mensagem lida no whatsapp. Desistiu e foi embora,
foi beber em algum bar. Talvez aquela ausência fosse um sinal claro de que o
ponto final já havia sido dado.
E sem a possibilidade de ser corrigido.
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