terça-feira, 11 de outubro de 2016

Amores Wi-Fi - Temporada 7 Episódio 18: Apenas Bons Amigos?





O verão estava quase no fim. Naquele dia de clima indeciso, Marcela combinou de encontrar Roni. O que fariam ainda era incerto, pois ele não sabia se iria dormir na sua cidade ou se iria ficar na cidade vizinha, onde tinha parentes.

“Sem problemas, pelo menos a gente vai se ver”, pensou Marcela.

Estava com amigas na rua, a Carolina e a Gia, com sua cachorrinha, a Preta, quando chegou Roni. Abraços burocráticos, afinal, Roni não era muito de demonstrações de afeto em público.

Roni estava com o cabelo platinado. Marcela não costumava curtir, mas achou bem em Roni. Ou é porque estava muito afim dele. Foram todos bater perna pelo bairro, ate que Preta ficou cansada e Gia achou melhor levá-la para casa. Carolina foi também, então Marcela e Roni resolveram comer alguma coisa.

Pediram tanta comida, mas tanta comida, que Marcela passou mal em silêncio. Não quis dizer que havia comido demais. Conversaram sobre muitas coisas, sobre música, sobre filmes, sobre pessoas que conheciam de redes sociais. Parecia mais um primeiro encontro.

Marcela começou a se sentir incomodada, queria ser tocada, queria um abraço. Queria ser beijada. Talvez para que a vissem trocando afeto, é bem verdade, estava cansada de ser sempre a sozinha dos grupinhos. Mas, de verdade, queria estar com Roni.

Mas Roni seguia com sua intimidade pouco avançada.

De vez em quando Marcela pensava se ele esteve realmente afim de estar com ela alguma vez. Se, talvez, o episódio do pedido recusado não invalidou o que ele, aparentemente, vinha demonstrando sentir por ela.

Eram muitos questionamentos, mas nenhuma conclusão.

Quando anoiteceu, Marcela resolveu ir embora. Diante do clima estranho, e de ter saído de casa sem suas coisas pessoais para passar a noite, não foi para o hotel com Roni. Pegaram um taxi juntos até a estação de trem mais próxima, que ficava perto do hotel. Eles desceram juntos, e Roni faria o resto do percurso a pé.

- Mas essa região é muito perigosa Roni, vá com o táxi, não vai fazer quase diferença nenhuma.

- Imagina, vou num instantinho, logo chego.

Aquela despedida quase de amigos deixou Marcela incomodada.

- Você não vai me dar um beijo?

- Aqui?

- E o que tem?

Meio rindo, meio obrigado, Roni lhe deu um beijo. Teria sido mais excitante ganhar um selinho da Hebe.

- Nos vemos amanhã? – perguntou ele.

- Com certeza. E me avise assim que chegar no hotel, tá?

E se despediram. Enquanto se encaminhava para a bilheteria viu Roni se distanciando, um quase amigo.


***



Enquanto isso Tina resolveu colocar um ponto final na novela Avenida Thiago. Nunca mais passaria por aquela avenida. Já estava conformada. Estava enterrada viva igual Nina, atolada no lixão igual Mãe Lucinda, sentindo-se otária igual Tufão.

Pegou sua bolsinha transversal e saiu. Resolveu chegar na casa de Thiago de surpresa, para não dar espaço para desculpas inventadas.

Pegou o metrô, calculando quando tempo teria para falar, para poder pegar o último metrô para voltar. Não teria muito tempo. “Melhor assim, porque aí eu falo tudo de vez com medo de ficar presa na rua”, pensou.

Longe dali, Thiago se preparava para sair de casa. Escolhia um livro para levar, iria espairecer a cabeça em um desses cafés que fecham bem tarde.

Se olhou no espelho, num ritual de perguntas sem respostas, sem saber que aquela era uma prática antiga de Tina. Queria saber o que fazer, quando, no fundo, sabia que era apenas questão de engolir o seu orgulho inútil.

Se tivesse amigos astrólogos creditariam justificariam a prática do orgulho ao signo.

Parou na calçada e abriu o aplicativo do Uber. Em pouco tempo o carro chegou, e foi comendo balas a viagem toda.

Foi nesse instante que Tina dobrou a esquina. Tocou o interfone. Lembrou da vez que foi caminhando toda aquela distância a pé, e acabou chamando a mãe de Thiago de vagabunda. Águas passadas.

Tocou. Tocou de novo. Tocou mais uma vez. Ficou mais no vácuo do que mensagem lida no whatsapp. Desistiu e foi embora, foi beber em algum bar. Talvez aquela ausência fosse um sinal claro de que o ponto final já havia sido dado.


E sem a possibilidade de ser corrigido. 

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