Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=qoeDFJMgTcc
Os dias passavam e Marcela seguia na vida
de desempregada. Até fazia uns trabalhos esporádicos como freelancer, mas não
era o suficiente para cobrir as contas. Logo, logo estaria com o nome mais
negativo que a barriga das blogueiras fitness.
Tinha medo que a sua carteira de trabalho
ficasse igual sua vida amorosa. Depois de Romeu, não teve nenhuma experiência
efetiva. Se no amor as pessoas tivessem um documento que registrasse as
experiências, discriminando as atitudes, o início e o término, as faltas
cabíveis, entre outros aspectos, a sua estaria prestes a ficar corroída pela
ação natural do tempo.
“Que empresa vai querer me contratar depois
de tanto tempo de lacunas vazias?”, pensou. O que servia para os dois casos.
Não soube dizer o que seria mais difícil.
Mas se lhe perguntassem o que gostaria primeiro, preferia o trabalho. Não era
bem verdade que havia macho para toda hora, como disse Cristina Rocha, mas
também não era tão burocrático. E tão escasso.
“Mas analisando bem, os dois mercados estão
em crise. Não há trabalho, nãop há homem. Estamos em uma crise generalizada”,
pensou. Diante disso, soltou, sem querer, um Fora Temer enquanto caminhava na
rua. Ninguém deu bola.
Isso a fez pensar no caso de Roni. Havia
tanto em comum, e ao mesmo tempo a distância parecia maior que a geográfica.
Nas vezes seguintes que se viram depois
daquela conversa, Roni havia perdido toda a atmosfera amorosa que lhe cabia no
dia que o conheceu. Como se a recusa de Marcela houvesse rompido as camadas
mais profundas e quebrado as possibilidades.
Queria apenas que Roni entendesse que
precisava apenas de tempo. Afinal, mesmo tendo resolvido muitas coisas, Marcela
ainda era uma medrosa. Mas havia se permitido mais do que achou que poderia.
“Em outros tempos eu já tinha mandado Roni
pastar”, falou a si mesma.
E foi assim, reflexiva, caminhando na rua,
como se fosse uma personagem de Shonda Rimes, que pegou o telefone e enviou uma
mensagem para Roni.
E, baixinho, pronunciou: “IT’S HANDLED”.
Se a vida no amor não lhe permitia ser
contratada, iria ser empreendedora do seu próprio campo afetivo. Sobre aquela
Marcela, apenas um recado: “Te deixei e você não faz mais falta”.
***
Trilha desta cena: https://www.youtube.com/watch?v=wnHRN8BiZUI
Bia não havia se dado conta, mas,
afetivamente, estava mais desempregada do que Marcela. Carteira de trabalho não
registra freelancer, que era a sua única ocupação nesse setor.
“De
que adianta ser tão qualificada se o mercado procura apenas serviço temporário?”,
refletiu.
*notificação do Tinder*
Um novo match, uma nova conversa vazia, um
novo fracasso em marcar encontro. Esse poderia ser o seu currículo recente.
Era esse o prognóstico.
“Mas tão bonitinhos os boys”, pensou, vendo
as novas combinações. Se não podia ser
contradada, iria ter que continuar se virando com os serviços temporários. Que
ao menos valessem a pena.
Nisso viu que um dos moços era um ex-colega
de faculdade. Estava diferente, mais charmoso, atraente. Porém usando apenas
camiseta e cueca na foto principal.
-_-
Mesmo assim, movida por uma carência
súbita, resolveu puxar assunto. E tudo o que recebeu em troca foi um papo sobre
a temperatura.
Não estava sendo nada fácil acertar o
caminho.
***
Trilha final: https://www.youtube.com/watch?v=PnxcFetC1j8
Enquanto isso, Tina havia, intuitivamente,
jogado fora a sua carteira profissional do coração. Achou que passado o período
de experiência seria contratada, mas foi apenas descartada. Em parte por erros
seus, em parte pela falta de visão alheia.
Mas rasgar a carteira de trabalho afetiva
não inibia o sofrimento de perder uma vaga.
Por isso achou que comer sorvete pudesse
ajudar. Mas não resolveu. Nem dançar nua pelo quarto ajudou.
“Que minhas amigas feministas maravilhosas
me perdoem, mas vou sofrer por amor sim”, pensou.
E pensando nisso deu por terminado o seu
dia. Mais um dia. Menos um dia.
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