terça-feira, 11 de outubro de 2016

Amores Wi-Fi - Temporada 7 Episódio 17: Carteira de Trabalho do Coração






Os dias passavam e Marcela seguia na vida de desempregada. Até fazia uns trabalhos esporádicos como freelancer, mas não era o suficiente para cobrir as contas. Logo, logo estaria com o nome mais negativo que a barriga das blogueiras fitness.

Tinha medo que a sua carteira de trabalho ficasse igual sua vida amorosa. Depois de Romeu, não teve nenhuma experiência efetiva. Se no amor as pessoas tivessem um documento que registrasse as experiências, discriminando as atitudes, o início e o término, as faltas cabíveis, entre outros aspectos, a sua estaria prestes a ficar corroída pela ação natural do tempo.

“Que empresa vai querer me contratar depois de tanto tempo de lacunas vazias?”, pensou. O que servia para os dois casos.

Não soube dizer o que seria mais difícil. Mas se lhe perguntassem o que gostaria primeiro, preferia o trabalho. Não era bem verdade que havia macho para toda hora, como disse Cristina Rocha, mas também não era tão burocrático. E tão escasso.

“Mas analisando bem, os dois mercados estão em crise. Não há trabalho, nãop há homem. Estamos em uma crise generalizada”, pensou. Diante disso, soltou, sem querer, um Fora Temer enquanto caminhava na rua. Ninguém deu bola.

Isso a fez pensar no caso de Roni. Havia tanto em comum, e ao mesmo tempo a distância parecia maior que a geográfica.

Nas vezes seguintes que se viram depois daquela conversa, Roni havia perdido toda a atmosfera amorosa que lhe cabia no dia que o conheceu. Como se a recusa de Marcela houvesse rompido as camadas mais profundas e quebrado as possibilidades.

Queria apenas que Roni entendesse que precisava apenas de tempo. Afinal, mesmo tendo resolvido muitas coisas, Marcela ainda era uma medrosa. Mas havia se permitido mais do que achou que poderia.

“Em outros tempos eu já tinha mandado Roni pastar”, falou a si mesma.

E foi assim, reflexiva, caminhando na rua, como se fosse uma personagem de Shonda Rimes, que pegou o telefone e enviou uma mensagem para Roni.

E, baixinho, pronunciou: “IT’S HANDLED”.

Se a vida no amor não lhe permitia ser contratada, iria ser empreendedora do seu próprio campo afetivo. Sobre aquela Marcela, apenas um recado: “Te deixei e você não faz mais falta”.


***




Bia não havia se dado conta, mas, afetivamente, estava mais desempregada do que Marcela. Carteira de trabalho não registra freelancer, que era a sua única ocupação nesse setor.

 “De que adianta ser tão qualificada se o mercado procura apenas serviço temporário?”, refletiu.

*notificação do Tinder*

Um novo match, uma nova conversa vazia, um novo fracasso em marcar encontro. Esse poderia ser o seu currículo recente.

Era esse o prognóstico.

“Mas tão bonitinhos os boys”, pensou, vendo as novas combinações. Se não podia  ser contradada, iria ter que continuar se virando com os serviços temporários. Que ao menos valessem a pena.

Nisso viu que um dos moços era um ex-colega de faculdade. Estava diferente, mais charmoso, atraente. Porém usando apenas camiseta e cueca na foto principal.

-_-

Mesmo assim, movida por uma carência súbita, resolveu puxar assunto. E tudo o que recebeu em troca foi um papo sobre a temperatura.

Não estava sendo nada fácil acertar o caminho.


***





Enquanto isso, Tina havia, intuitivamente, jogado fora a sua carteira profissional do coração. Achou que passado o período de experiência seria contratada, mas foi apenas descartada. Em parte por erros seus, em parte pela falta de visão alheia.

Mas rasgar a carteira de trabalho afetiva não inibia o sofrimento de perder uma vaga.

Por isso achou que comer sorvete pudesse ajudar. Mas não resolveu. Nem dançar nua pelo quarto ajudou.

“Que minhas amigas feministas maravilhosas me perdoem, mas vou sofrer por amor sim”, pensou.


E pensando nisso deu por terminado o seu dia. Mais um dia. Menos um dia. 

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