terça-feira, 11 de outubro de 2016

Amores Wi-Fi - Temporada 7 Episódio 7: Somente o Sol






Tina abriu a porta e teve a nítida sensação de que havia mijado nas calças. Thiago estava parado, com sua roupa de domingo, especialmente vestida para o encontro fracassado. Não soube o que dizer. Vestida do jeito que estava, claramente não havia saído de casa.

- Por que você não foi?

Um tiro único, certeiro. À queima roupa.

Em uma fração de segundos pensou em mil coisas pra dizer, mas achou que, por mais inverossímil que fosse, seria melhor falar a verdade.

- Thiago de Deus eu fui! Fui para o endereço errado! Te esperei por horas no café errado! E meu sinal caiu lá dentro, eu não sei como, e bebi tantos cafés sozinha que...

- Isso não faz o menor sentido.

A frieza foi tanta que Tina sentiu o sopro gelado do ártico. Antes que a conversa prosseguisse, sentiu que havia decretado o fim de qualquer possibilidade. Teve um flashforward da sua vida depois daquele momento: Iria fechar a porta, chorar, prometer a si mesma que não ia ligar mais para homem nenhum, iria secar o rosto e, por fim, dançar nua na frente do espelho. E iria aguardar a poeira baixar para começar tudo de novo com outro homem, porque, infelizmente, a vida está calçada em ciclos. Bons ou não.

- Eu fui mesmo, por favor você pode ir lá e perguntar para a balconista sobre a moça que ficou sozinha a noite toda bebendo café passado no coador!

- Eu nem sei por que marquei de te ver. Depois desse descaso, que claramente é uma vingancinha barata pelo ocorrido no meu aniversário, vejo que nada faz sentido.

- Thi...

- Sabe o que mais? Eu não estou apaixonado. Então não se esqueça, é apenas uma fase tola pela qual estou passando.  

Tina já havia escutado aquilo em algum lugar, mas não se importou com a fonte. Estava arrasada por dentro, mais deteriorada que sua camiseta do Ramones. Chacinada. Trucidada. Aniquilada.

Thiago foi embora e Tina ficou parada na porta por quase 10 minutos. A mesma sensação de quando está sonhando, quer correr e não consegue. Queria correr para bem longe dali. Run Tina, Run.


***



Marcela chegou em casa sem o mínimo raciocínio e cambaleando. Mas tinha guardado, de forma impressionantemente nítida, as lembranças de Roni naquela noite.

Mesmo o episódio do vômito havia entrado para o caderninho mental de lembranças afetivas. Iria querer muito mais momentos como aquele.

No caminho par ao quarto espiou na porta de Bia e viu que ela dormiucom o notebook no colo. Na página aberta do Facebook, o perfil de Eduardo, o velho Eduardo. Era aniversário do ex quase pretendente da amiga, e viu que ela havia começado uma mensagem de felicitações na inbox. Não queria ler, mas leu mesmo assim:

“Oi Eduardo, tudo bem? Esses dias lembrei de você, não sei ao certo o motivo. E ontem te vi de passagem na rua, mas você não me viu. E hoje o Facebook me lembrou que é seu aniversário. Sendo assim, queria desejar parabéns, e quem sabe a gente possa...”

A mensagem terminou ali. Provavelmente Bia pensou em mil coisas para escrever, tanto que adormeceu. E para o bem da amiga, deletou a mensagem e fechou o computador.


***




Tina ficou pensando nas palavras finais de Thiago. Não soube afirmar se eram verdadeiras, mas para ela, o significado era bem diferente.

Para Tina, havia somente o sol, ele e ela. Só queria mergulhar nos beijos de Thiago.


Sim, estava pensando na música da Deborah Blando. E se guiando pelas letras das canções, como muitas vezes fazia, resolveu que iria mergulhar sim. E de cabeça. 

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