terça-feira, 11 de outubro de 2016

Amores Wi-Fi - Temporada 7 Episódio 6: Se Você Não Amar a Si Mesma...






Marcela estava ainda mais bêbada quando começou a tocar Sissy That Walk. Fez coreografia e tudo, enquanto seu amigo Paulo gravava tudo para postar no snapchat. “Que noite”, pensava, enquanto não perdia de vez a lucidez.

Estava curtindo especialmente porque não pensou que iriam ficar, não teve planejamento, preparação ou expectativa. Apenas aconteceu. Roni estava sendo atencioso com ela, e por esse e outros motivos aquele dia havia valido muito a pena.

Entre uns goles de bebida, beijos na boca e danças de Drag Queen, Marcela foi ao banheiro, que estava lotado. Na volta, os primeiros sinais da bebedeira chegaram, e pediu para irem tomar um pouco de ar.

Quando chegou La fora percebeu que iria vomitar. Na frente de Roni. Foi o tempo de ir até a calçada e colocar a vergonha pra fora em forma de bebida e ácido gástrico. Roni limpou seu cabelo, e depois a beijou. Era o mínimo, já que Marcela havia feito o mesmo, ainda que sem saber.

Ficaram um tempo sentados na porta de uma loja fechada, enquanto Marcela se desculpava pelo ato.

- Não tem nada que se desculpar, disse ele.

Encostou a cabeça no seu ombro por uns instantes, e achou que seria melhor ir para casa. Antes de pegarem o taxi se desculpou mais uma vez, e agradeceu pela noite. Na manhã seguinte Roni voltaria para sua cidade, mas continuariam se falando.

Marcela ainda não sabia disso também, mas Roni desempenharia um importante papel na sua vida.


***




Tina sentiu-se diminuída, frustrada. Sentia que a única responsável por tudo que dava errado era ela mesma. E era duro reconhecer isso. Era como passar um atestado de incapaz. Talvez nunca fosse ficar preparada para se relacionar.

Talvez fosse melhor ser aquela pessoa que finge ser de boa com o estado afetivo vegetativo, sem confessar para ninguém que havia todo um rancor por dentro, um sentimento de incapacidade em explicar os motivos de nada nunca dar certo.

Talvez seria o caso de se convencer de que iria ficar sozinha, me quem sabe até descobrir que não havia problema em ser sozinha. Relação não era atestado de felicidade, mesmo. Só não queria ficar na seca. Mas também queria ganhar carinho, e as casualidades não comportavam esse requerimento.

Naquela noite se viu obrigada a reavaliar suas aspirações. E uma delas era admirar mais ela mesma. Do contrário, ninguém iria. Com erros e tudo.

Colocou uma música qualquer pra tocar e tentar esquecer do fracasso, pois estava sem coragem de falar com Thiago. Enquanto dançava pelo quarto, sentiu que um novo fhashback dos tempos de escola se aproximavam.

Trilha para o fhashback de Tina: https://www.youtube.com/watch?v=7Bc2O_EviAg

Estava na escola, numa época pré Rafael. Vestia uma calça bag e uma blusa qualquer de banda. Viu que um dos garotos mais cobiçados do momento estava se aproximando, ea último dia de aula, e após o sinal tocar teria um mini baile de despedida.

Logicamente Tina não cogitou falar com o garoto, mas não disfarçou o olhar de admiração. As meninas loiras e bonitas viram, e uma delas disse:

- Olhe pra você, acha que tem chance? O Cadu gosta de menina que se valoriza, que tenha confiança, que lave os cabelos com Colorama, entende?

Tina não disse nada, e por muito tempo achou que precisava ser igual às outras, e que só assim iria se valorizar.

Tina voltou do flashback. Enfurecida, revirou umas caixas no armário e encontrou a mesma camiseta da banda que usava naquele dia. Guardou como um lembrete, um símbolo do que nunca mais fazer. Era uma camiseta dos Ramones.

Num acesso de raiva, vestiu a camiseta e se achou maravilhosa. Mesmo com o cheiro de naftalina.

Quando a campainha tocou, nem pensou que atrás da porta estaria Thiago, com o objetivo de esclarecer o bolo que levou e colocar um fim naquela história ultrapassada. Nem imaginou que pudesse ser ele.


E daquele jeito, vestida com uma camiseta carcomida dos Ramones, com cheiro de naftalina, que se dirigiu para abrir a porta. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário