Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=M4d20Tyzlv0
Marcela estava ainda mais bêbada quando
começou a tocar Sissy That Walk. Fez coreografia e tudo, enquanto seu amigo
Paulo gravava tudo para postar no snapchat. “Que noite”, pensava, enquanto não
perdia de vez a lucidez.
Estava curtindo especialmente porque não
pensou que iriam ficar, não teve planejamento, preparação ou expectativa. Apenas
aconteceu. Roni estava sendo atencioso com ela, e por esse e outros motivos
aquele dia havia valido muito a pena.
Entre uns goles de bebida, beijos na boca e
danças de Drag Queen, Marcela foi ao banheiro, que estava lotado. Na volta, os
primeiros sinais da bebedeira chegaram, e pediu para irem tomar um pouco de ar.
Quando chegou La fora percebeu que iria
vomitar. Na frente de Roni. Foi o tempo de ir até a calçada e colocar a
vergonha pra fora em forma de bebida e ácido gástrico. Roni limpou seu cabelo,
e depois a beijou. Era o mínimo, já que Marcela havia feito o mesmo, ainda que
sem saber.
Ficaram um tempo sentados na porta de uma
loja fechada, enquanto Marcela se desculpava pelo ato.
- Não tem nada que se desculpar, disse ele.
Encostou a cabeça no seu ombro por uns
instantes, e achou que seria melhor ir para casa. Antes de pegarem o taxi se
desculpou mais uma vez, e agradeceu pela noite. Na manhã seguinte Roni voltaria
para sua cidade, mas continuariam se falando.
Marcela ainda não sabia disso também, mas
Roni desempenharia um importante papel na sua vida.
***
Trilha desta cena: https://www.youtube.com/watch?v=YrPXfLGNnBI
Tina sentiu-se diminuída, frustrada. Sentia
que a única responsável por tudo que dava errado era ela mesma. E era duro reconhecer
isso. Era como passar um atestado de incapaz. Talvez nunca fosse ficar
preparada para se relacionar.
Talvez fosse melhor ser aquela pessoa que
finge ser de boa com o estado afetivo vegetativo, sem confessar para ninguém
que havia todo um rancor por dentro, um sentimento de incapacidade em explicar
os motivos de nada nunca dar certo.
Talvez seria o caso de se convencer de que iria
ficar sozinha, me quem sabe até descobrir que não havia problema em ser
sozinha. Relação não era atestado de felicidade, mesmo. Só não queria ficar na
seca. Mas também queria ganhar carinho, e as casualidades não comportavam esse
requerimento.
Naquela noite se viu obrigada a reavaliar
suas aspirações. E uma delas era admirar mais ela mesma. Do contrário, ninguém
iria. Com erros e tudo.
Colocou uma música qualquer pra tocar e
tentar esquecer do fracasso, pois estava sem coragem de falar com Thiago. Enquanto
dançava pelo quarto, sentiu que um novo fhashback dos tempos de escola se
aproximavam.
Trilha para o fhashback de Tina: https://www.youtube.com/watch?v=7Bc2O_EviAg
Estava na escola, numa época pré Rafael.
Vestia uma calça bag e uma blusa qualquer de banda. Viu que um dos garotos mais
cobiçados do momento estava se aproximando, ea último dia de aula, e após o
sinal tocar teria um mini baile de despedida.
Logicamente Tina não cogitou falar com o
garoto, mas não disfarçou o olhar de admiração. As meninas loiras e bonitas
viram, e uma delas disse:
- Olhe pra você, acha que tem chance? O
Cadu gosta de menina que se valoriza, que tenha confiança, que lave os cabelos
com Colorama, entende?
Tina não disse nada, e por muito tempo
achou que precisava ser igual às outras, e que só assim iria se valorizar.
Tina voltou do flashback. Enfurecida,
revirou umas caixas no armário e encontrou a mesma camiseta da banda que usava
naquele dia. Guardou como um lembrete, um símbolo do que nunca mais fazer. Era
uma camiseta dos Ramones.
Num acesso de raiva, vestiu a camiseta e se
achou maravilhosa. Mesmo com o cheiro de naftalina.
Quando a campainha tocou, nem pensou que
atrás da porta estaria Thiago, com o objetivo de esclarecer o bolo que levou e
colocar um fim naquela história ultrapassada. Nem imaginou que pudesse ser ele.
E daquele jeito, vestida com uma camiseta
carcomida dos Ramones, com cheiro de naftalina, que se dirigiu para abrir a
porta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário