Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=AR8D2yqgQ1U
Tinha desistiu do táxi e foi caminhando.
Sentiu-se estúpida e idiota por criar expectativa. Mas também achou injusto ser
castigada, e Thiago não tinha mais idade para esse tipo de situação, pensou.
“E se aconteceu algo?”, mas no furor da
raiva só tinha a certeza única e intransferível: foi sacaneada. Mais uma vez. E
não seria a última.
Quando chegou em casa percebeu que estava
sem sinal. “Talvez ele tenha tentado ligar”, aí olhou no espelho e ele disse:
“Pateta idiota”. Claro que ele não ligou.
Sim, ele ligou.
Assim que o sinal voltou e o sinal de wifi
conectou, recebeu mensagens no whats, no Facebook, no Twitter, no snapchat, SMS
e ligações, todas de Thiago. Começou a abrir as mensagens e o desespero de
Thiago foi como um tiro na sua testa.
Só entendeu realmente o ocorrido quando leu
o seguinte: “Eu te esperei por horas no café, nunca pensei que fosse ser
otário, fui otário”.
“Mas como assim se eu estava lá?”. E num
lampejo de lucidez, conferiu o endereço. Sim, Tina havia ido par ao café
errado. Claro que o espelho ficou calado. O pavor causado pela vergonha foi tão
grande que nem conseguiu pensar. “Thiago nunca vai acreditar que eu errei o
endereço!”, se lamentava.
Imaginou o homem esperando por ela,
bebericando vários cafés, suando frio, pois ele transpirava muito nas mãos
quando estava nervoso, e levando um bolo marta rocha inteirinho.
“Meu Deus, eu caguei minha vida mais uma
vez!”.
***
Trilha desta cena: https://www.youtube.com/watch?v=HCm6gRHINqA
Enquanto isso, Marcela se encaminhava para
o bar encontrar o amigo do interior. Se preparou para chegar antes, odiava
chegar nos lugares e ficar procurando as pessoas nas mesas lotadas, feito uma
idiota.
Escolheu uma das poucas mesas vagas no
mezanino e aguardou. Adorava conhecer pessoas que só tinha amizade virtual. Na
verdade, era um tipo de relacionamento cada vez mais comum. Havia feito
excelentes amizades por meio de redes sociais.
Não demorou muito e Roni chegou. Marcela
estava tão distraída que nem reparou que Roni vestia uma calça jeans acetinada,
um de seus pavores. Só saberia disso meses depois durante uma conversa
qualquer.
Levantou e abraçou Roni, que se mostrou
educado e divertido, tal como imaginava. Logo pediram caipirinhas para brindar.
Marcela escolheu de rum com abacaxi, sua favorita.
Os dois conversaram por horas sobre suas
vidas pessoais, sobre projetos e, claramente, sobre as pessoas que conviviam
nas redes sociais. Era a hora de falar mal, julgar quem não gostavam, elogiar
quem tinham apreço.
Já no terceiro drink Marcela começou a
ficar tonta, havia comido pouco antes de sair de casa. E esse efeito de álcool
ajudou a liberar a percepção de que o havia achado lindo. Enquanto Roni estava
ausente, havia ido ao banheiro, mandou DM no twitter para um amigo em comum: “Aff
achei ele um gato mas não conta nada para ele!”. O amigo respondeu: “Vocês se
peguem!”.
Ele voltou do banheiro e, a partir dali,
Marcela teria um misto de lembranças embaralhadas. Mas lembra-se muito bem que
o beijou ainda no bar. O beijou muito. Ainda não sabia, mas em outra conversa
posterior, iria descobrir que o beijou após ele ter vomitado no banheiro.
Entre um beijo e outro recordou que um
amigo havia enviado convite para uma festa ali perto, uma dessas festas com
drag queens. Convidou Roni e ele topou.
Nesse momento Marcela estava completamente
bêbada. Caminharam até a outra rua e pegaram um táxi, porque não tinham certeza
do endereço. Em determinado momento pensou que estava se divertindo muito.
Muito mais do que esperava. E soltou um risinho de canto de boca.
Quando chegaram cumprimentou uns conhecidos
na porta, e lá dentro encontrou Paulo, o amigo do convite, que usava uma camisa
estampada lembrando as obras de Mondrian.
Enquanto beijava Roni mais um pouco, pensou
que a ideia de Bia, de ter uma grana disponível para o motel, não seria má
ideia. Mas se controlou. Se contentou com o inesperado de estar com Roni, que
levou para aquele dia, e para o momento turbulento de sua vida, um pouquinho
mais de leveza.
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