Previously, on Amores WIFI:
Dizem
que quando amigas desiludidas se encontram equivale a um rito de bruxaria. O
caldeirão na brasa é substituído por alguma bebida, onde elas depositam mágoas
no lugar de ingredientes para feitiços mirabolantes.
Tina
dormiu chorando. Naquele momento ela não soube, mas Thiago também.
Mas
às vezes, os estúdios de cinema resolvem fazer uma sequência de um filme
promissor. Era essa a esperança de Tina.
Escolheram
uma mesa e foram se servir. Apesar da fome Marcela não conseguiu comer muito,
estava nervosa. “Meu Deus Henrique tem voz de locutor de rádio”, pensava ela,
já totalmente envolvida. A única coisa que a tirou de seu estado de alucinação
foi mordedor. Enquanto ela aparentemente se derretia por Henrique, o seu ex
caso entrou no restaurante.
Bia
havia bebido tanto café, mas tanto, que tremia como se tivesse Parkinson. Deu
graças a Deus que ele sugeriu irem embora.
-
Vamos beber uma cerveja?
- To
to-po.
Henrique
finalmente beijou Marcela. Enquanto era abraçada com toda a ternura do mundo,
Marcela pensava, extasiada: “Meu Deus do céu, eu acho que perdi o movimento das
pernas!”.
Trilha inicial: https://www.youtube.com/watch?v=ocDlOD1Hw9k
Domingo, 12 de junho de 2016.
Marcela saiu de casa no final da tarde.
Estava mais escuro do que o normal, e a falta de movimento nas ruas por conta
do frio terrível criava um clima alusivo às locações de The Walking Dead. Mas não se importou. Era dia dos namorados.
Chamou um Uber, e foi mastigando balas até
chegar no restaurante.
- Mesa para dois? – perguntou a
recepcionista, assim que chegou.
- Sim, por favor.
Acomodou-se, tirou o casaco e pediu uma
bebida enquanto esperava. Estava feliz.
Mas antes de aprofundar a narrativa neste
dia dos namorados, é necessário voltar alguns meses para retomar os fatos que
permearam a vida de Marcela, Bia e Tina.
Janeiro
de 2016
O ano não havia começado bem para Marcela,
era como se estivesse presa em um inferno astral permanente. Ou dentro de um
episódio de Caverna do Dragão.
Após ter perdido o emprego no final do ano,
achou que uns dias na praia com Bia seriam suficientes para se divertir e
esquecer dos problemas por um tempo. Mas estava enganada.
- Bia você não vai acreditar mulher, perdi
a carteira!
Entrou ela eufórica no quarto da pousada.
- Não tenho dinheiro, não tenho documentos,
não tenho peguetes, não tenho sorte!
Falou enquanto chorava umas lágrimas de
criança quando não ganha o brinquedo desejado.
- Calma mulher, eu vou te ajudar!
Aquele feriadão de ano novo virou, então,
uma grande bosta. Precisou depender da amiga até pra comprar uma garrafa de
água. Foi na delegacia, fez o BO e esperou a volta pra casa. Tudo o que queria
era que as coisas entrassem nos eixos. “Ao menos estarei com o cabelo novo no
meu RG”, pensou, se consolando. Só queria que março chegasse, pois, dizem, é
quando o ano realmente começa.
Chegou em casa e correu para ligar o
computador, pois não tinha dinheiro para colocar recarga no celular e usar o
3G. Havia muitas notificações acumuladas, a maioria bobagem, e também alguns
memes engraçados. Havia, também, uma mensagem privada de um amigo no Twitter.
Ele dizia que em alguns dias estaria na sua
cidade, e a convidou para tomarem um drink e falar mal dos conhecidos.
Respondeu que sim, mas seria só uma cerveja barata por conta das circunstâncias
de pobreza.
- Quê? Não seja assim, eu te empresto
dinheiro, imagina se o boy te chama pro motel e ele perde a carteira?
Falou Bia, rindo alto.
- De jeito nenhum, já to devendo a vida.
- Foda-se. Não vá perder a oportunidade!
- Além do mais somos só amigos, nunca nem
flertamos!
- Vai que, né?
Marcela acabou concordando, não pela ideia
do motel, mas pela distração mesmo.
Enquanto isso, já com o ano virado, Bia
lembrou que ficara com um encontro em aberto com o moço Andrey. Segundo ele, a
partir de janeiro seria mais tranquilo. E assim esperou.
Bia: Olarrrrr
Bia: Já virou o ano, vamos sair?
Pouco se importou se pareceu desespero.
Andrey: oioi
Andrey: Vamos sim!! Só marcar!!
Obviamente nada ficou decidido, mas
precisava dar um pontapé inicial no ano afetivo.
***
Trilha desta cena: https://www.youtube.com/watch?v=_W2jONIjrM0
Tina ainda esperava a sequencia do seu filme
de amor com Thiago. Mas desde o dia em que precisou dormir na casa dele,
naquela festa de aniversário, não tiveram mais nenhum tipo de contato.
Tentava ouvir músicas divertidas para
pensar em outras coisas, mas mesmo as músicas alegres retratavam o seu
desespero interior. Mas resolveu que ficar quieta no seu canto era a melhor
coisa a ser feita, já h avia feito demais.
“Inclusive me desculpei, tentei reparar meu
erro, fiz de tudo. Agora quero ser desejada”, disse ela para o seu bom e velho
espelho. Que, como sempre, nada falou.
Naquele janeiro escaldante resolveu sair
para a rua, e se arrependeu cinco minutos depois. E foi assim, toda suada, com
maquiagem derretida e ofegante, que avistou Thiago do outro lado da rua.
Não havia nem uma árvore para se esconder.
Ficou imóvel na calçada, derretendo feito uma estátua de cera no deserto. Tanto
nervosismo foi em vão, porque ele não a viu. Desistiu de comprar sorvete e
voltou para casa, “abandonada por você”.
Mas Thiago a viu. Quando Tina se virou para
retomar o caminho, ele se virou e a observou enquanto secava o suor do decote e
da testa. Achou fofo. Thiago sentiu-se triste, pois saudade é um estado que
entorpece a vida de qualquer pessoa. E o orgulho, a pior represa.
Quando Tina chegou em casa colocou seu
telefone para carregar. Assim que o aparelho ligou, recebeu uma notificação no
whatsapp.
Thiago: Oi, tudo bem? Acabei de te ver na
rua.
Sim, o orgulho era a pior represa, mas nem
sempre intransponível.
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