domingo, 6 de dezembro de 2015

Amores WI-Fi - Temporada 6 Episódio 20 (SEASON FINALE): Um Dia o Jogo Vai Virar








Aquele NÃO ficou reverberando por muito tempo dentro de Tina.

Thiago largou o não como uma bomba e saiu de perto, infiltrando-se entre amigos que começavam a puxar o “parabéns pra você”.

Tina foi atrás, mas teve a passagem trancada por alguém que trazia a torta repleta de velinhas. Ficou à espreita, como um animal aguardando o momento de atacar a presa.

Thiago estava visivelmente desconcertado por sua presença, mas não deixou de cumprir o protocolo de sua festa. Alguém começou a cantar o parabéns pra você da Xuxa, e Tina riu. Amava Xuxa.

Até que surgiu a clássica orientação:

“Faça um pedido!”

Tina desejou que Thiago olhasse pra ela antes de apagar as velas, num sinal claro de que o pedido fosse ela própria. Amargou o próprio egocentrismo quando ele apenas apagou, burocraticamente.

Tina não ia desistir tão facilmente.

Esperou o povo felicitar o aniversariante e foi novamente falar com ele em particular.

- Thiago, Thiago pelo amor de Deus me escuta!

- Mas o que você quer afinal? Nem foi convidada!

Aquilo sim foi um tiro. Sentiu-se dilacerada. Chacinada. Trucidada. Mas era verdade, estava ali como penetra, uma intrusa.

- Eu sei, mas eu preciso te falar tanta coisa...

- Tina, por favor, vá embora!

- Eu não posso! Eu perdi o último trem, não tenho dinheiro pra táxi e nem Uber, e mesmo se tivesse ficaria com medo de ser agredida, e não tem ônibus nessa hora, eu não tenho como ir embora. Por favor, deixa eu ficar!

Falou, chorosa.

- Tá bom, fica, mas não me incomode!

- Thiago, me ouve! Eu só queria dizer que...

- O quê, criatura?

Nesse meio tempo chegou a mãe de Thiago, aquela que certa vez Tina ofendeu pelo interfone achando ser uma vagabunda qualquer.

“Pronto, tô ferrada”, pensou.

Tina recebeu um olhar tão gelado que supôs ter sido apontada em fotos ou algo assim por Thiago, pra ter sido reconhecida.

Mas não se intimidou com a rainha do gelo.

Permaneceu no seu canto, à espreita, entre uma coxinha e outra, para poder falar novamente com Thiago.

- Será que você vai me deixar falar?

- Se eu deixar você me esquece?

- Não posso prometer isso.


- Fala, Tina.

- Eu... eu só queria dizer que preenchi a minha cota de coisas erradas quando pensei em voltar pra Rafael. Preciso ser sincera, a gente saiu umas duas vezes depois que conversamos pela última vez.

Enquanto falava, sentia o aperto no peito de Thiago.

- Mas sabe que, por alguma razão, eu fiz a coisa certa. Porque precisava saber que estava errada, e só passando por isso pra me dar conta. Afinal, foi quando senti sua falta é que percebi que precisava ficar com você. Eu sinto mesmo a sua falta...

Thiago não falava nada, estava lívido, como só o desespero é capaz de proporcionar. Ele então bebeu o restante da cerveja que havia em seu copo e disse:

- Eu preciso dar atenção aos convidados, me dá licença.

Tina fico ali, parada. E sentiu que, por mais que estivesse se esforçando para sair de dentro de um cenário de filme da Sessão da Tarde, mais se sentia dentro de um. Porém, o seu se aproximava de um inédito fim sem felicidade, diferente do que estava acostumada a ver nas suas tardes de desocupada.

Enquanto Thiago conversava com os amigos, Tina teve certeza que era ele o homem da sua vida. Se é que essa denominação é correta. Corrigiu-se: o homem que realmente queria, pelo tempo que fosse.

Chorou baixinho enquanto segurava um copo de caiporoska de morango. O seu destino, ao que tudo indicava, parecia ser ficar sozinha.

A PERSPECTIVA DE THIAGO


“Meu Deus eu tô maluco, só pode. Estou com vontade de abraçar a mulher que está lá, do outro lado da sala, toda borrada, deslocada, atrapalhada, a mulher que me deixou como segunda opção. Por que estou sentindo isso? Meu Deus me ajuda a não pegar Tina pelo braço, e colocá-la de novo dentro da minha vida. Tina como você está linda... Eu sempre adorei Alice Cooper! Tina eu queria te beijar, mas ia colocar no lixo o tempo de trabalho que tive pra assimilar a rejeição, sua idiota. Idiota sou eu. Mas quem não é? Deixa eu ser idiota? Vou beber mais um pouco de cerveja, me deixa! Jesus me ajuda! Eu não posso fazer isso comigo, eu não posso. E não vou fazer!”

Aos poucos a música ia perdendo a graça, a comida e a bebida desaparecia da mesa e as pessoas se despediam para voltar pra casa. A mãe de Thiago havia ido embora muito antes, se negou a ficar muito tempo na presença da mulher que a chamou de vagabunda.

Em pouco tempo estavam apenas os dois no mesmo ambiente. Ainda faltava muito tempo para amanhecer e Tina poder pegar o primeiro metrô, por isso iria dormir ali.

Diante daquela bagunça, o jeito seria dormirem no mesmo quarto. E assim Tina dormiu na casa de Thiago. Precisou se acomodar em um colchão ao lado da cama do ex, onde, em muitas noites (e alguns dias), haviam feito sexo.

Tina dormiu chorando. Naquele momento ela não soube, mas Thiago também.

Mas às vezes, os estúdios de cinema resolvem fazer uma sequência de um filme promissor. Era essa a esperança de Tina.

***


Bia e Marcela estavam planejando a ceia de Natal, que estava cada vez mais próxima.

Novamente passariam sozinhas, por conta das circunstâncias. Mas dessa vez sem assistir ao especial antigo da Xuxa.

Natal era isso mesmo, uma aura de aperto no peito que pairava no ar mesmo sem motivo. Um desejo de estar perto de quem está longe. E mesmo estando entre muitas pessoas, sentir-se sozinho.

Esse sentimento acabava obrigando as pessoas a repensar a vida, e nos fatos que ocorreram durante o ano. Bia pensava nas suas últimas relações. Bom, nem chegaram a ser relações de fato. Melhor dizendo: nos homens que conheceu.

E concluiu que o ano havia sido generoso com ela. Conheceu homens interessantes, e muitos homens descartáveis. E essa foi a melhor parte. Tinha, agora, um Lattes amoroso mais atualizado do que nunca.

Cada desastre forneceu informações valiosas. Era assim que começava a enxergar os desamores, e não como uma simples perda de tempo.

*Notificação do whatsapp*

Era uma mensagem de Andrey, o rapaz que havia ficado na festa dias antes.

Andrey: Oi Bia, tudo bom? Depois daquela festa eu fiquei pensando, e concluí que deveria ter aceitado antes aquele seu convite para tomar um café, quando nos conhecemos.
Andrey: Bom, então é isso, se ainda quiser, eu vou gostar muito de te encontrar.

Parece que o jogo às vezes vira.

Seria uma história interessante? Ou apenas mais um desamor passageiro? Bia não podia dizer, apenas viver.

Bia: Oi Andrey! Sim, você realmente deveria ter aceitado antes.
Bia: Mas como dizem, antes tarde do que nunca.
Bia: Eu vou adorar sair para tomar um café com você.
Bia: :D

Marcela foi para o quarto e ligou o seu computador. Era o momento de escrever mais um texto em seu diarinho virtual.


“Querido diário,

Sei que estive ausente. Mas foi por um bom motivo, estava acompanhando Henrique pela cidade. Tenho a impressão de que as ruas foram pequenas para nós dois <3 o:p="">

Nesses dias eu aprendi que não devo ter vergonha de fazer o que tenho vontade. Aprendi que a expectativa pode ser uma coisa boa, gostosa, e aprendi que uma história, mesmo a mais curtinha, é tão importante quanto uma longa.

Esse ano foi muito importante pra mim, porque eu senti, pela primeira vez em muito tempo, que minhas feridas já não são mais visíveis, e nem coçam como tatuagem quando cicatriza.

Me sinto tão feliz por isso! Apenas por esse motivo já posso guardar todo o meu ano anterior numa caixinha bem no fundo do armário. Não, ele não vai ocupar seu lugar, porque você está no computador, esqueceu?

Pensando bem, não tem por que esconder nada. O que passou, passou, e não poderá ser apagado.

Queria te contar que vai ser muito bom poder viver uma história sem medo quando chegar a hora certa. Sem me importar com a porta que vai bater na minha cara ou com a queda do cavalo.

Lembro que algumas vezes chorei assistindo filmes tristes, e aproveitava a deixa para chorar as minhas mágoas retidas. Quero dizer que isso também vai mudar, e vou chorar sempre que eu quiser. A ordem do próximo ano vai ser essa: extravasar.

Não sei como estarei em alguns meses ou anos e resolver reler esse texto. Não sei se estarei de fato mudada, se estarei de volta como a Marcela medrosa, ou se estarei em um relacionamento.

Só sei que, tudo o que eu tiver pra contar de bom nesse dia, vai ser resultado de merecimento. Eu prometo.

Um feliz ano novo pra você, diário, que a gente continue junto por muitos momentos. Na verdade dizem que desejar feliz ano novo é errado, afinal, é apenas um conjunto de dias que se desdobram dos anteriores. Mas mesmo assim, tudo de bom. Pra nós.

Um beijo,

Marcela.”





FIM

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