No capítulo anterior...
Rosaura ainda
estava sentada no sofá, com a revista O Cruzeiro, mas seu pensamento estava em Leandro. Sentia
uma felicidade excessiva e, de vez em quando, culpava-se por tamanha
felicidade, mas principalmente, por trair a memória do marido, o qual nem
esfriara direito em sua sepultura. Foi quando recebeu a visita do delegado
Miranda.
Capítulo 14
Assim que o
homem entrou na sala Rosaura ergueu-se, e Miranda não pôde deixar de sentir um
arrepio de desejo por sua linda e exuberante figura de mulher perfeita.
- Pois não,
delegado?
Ele,
visivelmente nervoso, não só pela beleza de Rosaura, mas também pelo que tinha
a dizer, falou:
- D. Rosaura...
a senhora sabe que tenho me empenhado, eu e meus homens, na tentativa de
descobrir quem cometeu esse horrendo atentado contra seu marido, uma figura tão
ilustre. Porém, sabe também que o assassino não deixou pistas, indícios, e que
nenhuma pessoa que interrogamos tinha um motivo concreto para cometer tal ato.
E...
- Por favor,
continue, delegado Miranda.
E ele disse,
quase distraído pelo decote de Rosaura:
- D. Rosaura,
acontece que é inútil continuar essa busca. Não o acharemos nunca, entende?
Nunca! – disse ele, fazendo um esforço enorme, pois estava humilhando-se diante
de uma deusa.
Ela, então, se
enfureceu:
- Quê? O que o
senhor está me dizendo? Vai abandonar o caso? Abandonar o barco, é? Vai? Fala!
- Por favor, a
senhora compreenda...
- Não
compreendo nada! Só sei que o senhor e seus homens são um bando de
incompetentes!
- D. Rosaura,
não ia dizer nada, mas... a senhora nunca pensou em suicídio?
Aquela ideia
lhe pareceu tão estapafúrdia que Rosaura fez um esforço sobre-humano para não
explodir em gargalhadas, afinal, quem ia se esfaquear todo e depois disparar
uma bala contra a própria cabeça? Porém, sentiu que deveria concordar com o
homem.
Falou, sem mais
uma gota de ódio no rosto:
- Ora, delegado
Miranda... talvez o senhor tenha razão...
E continuou,
evocando toda a indiferença do marido para com ela nos últimos tempos, suas
reações estranhas, talvez estivesse abalado por uma tristeza irreversível.
- Acho que é
até melhor parar com as investigações mesmo, delegado, já estava cansada de ter
minha vida achincalhada pela imprensa todos os dias. Anuncie a sua decisão,
sim? Envie uma nota especialmente para o jornal A Manhã, no Rio de Janeiro,
assim me deixam sossegada.
E falou,
parecendo mais sedutora do que nunca:
- Me desculpe
por minha explosão, sei que o senhor se empenhou muito neste caso, o senhor e
seus rapazes. Estava nervosa.
- Não tem
problema, compreendo perfeitamente. Vou já para a delegacia escrever a nota ao
jornal. Passar bem.
- Tchau,
delegado.
Nisso, Valdeli
chegava para acompanhar Miranda até a porta, quando Rosaura disse:
- Valdeli,
acompanhe o delegado e aproveite e já passe no mercado da esquina para comprar
umas verduras e frutas frescas, sim? Dessas que não temos na horta. E leve a
Júlia com você. Vão agora, está bem?
- Sim senhora.
Assim que os
três saíram Rosaura foi para seu quarto, a movimentação do dia lhe deixou
cansada, e ainda estava melecada com a gosma de Leandro. Com a porta
entreaberta retirou seus sapatos, as meias e o vestido, ficando só com a
combinação preta que tanto gostava. Soltou os cabelos, numa pose solitária de
estrela holywoodiana, em movimentos graciosos e lentos, com a certeza de quem
tem uma vida toda a sua espera. Não resistiu ao espelho, que refletia sua
belíssima imagem. E assim, sorrindo e se admirando, notou pelo espelho que
havia alguém parado na porta lhe espiando, com olhos vorazes e famintos, um
olhar de homem. Era João.
- Ahhhhhhh!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário