quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Médico e a Mulher Infeliz: Capítulo 14




No capítulo anterior...
Rosaura ainda estava sentada no sofá, com a revista O Cruzeiro, mas seu pensamento estava em Leandro. Sentia uma felicidade excessiva e, de vez em quando, culpava-se por tamanha felicidade, mas principalmente, por trair a memória do marido, o qual nem esfriara direito em sua sepultura. Foi quando recebeu a visita do delegado Miranda.


Capítulo 14


Assim que o homem entrou na sala Rosaura ergueu-se, e Miranda não pôde deixar de sentir um arrepio de desejo por sua linda e exuberante figura de mulher perfeita.
- Pois não, delegado?
Ele, visivelmente nervoso, não só pela beleza de Rosaura, mas também pelo que tinha a dizer, falou:
- D. Rosaura... a senhora sabe que tenho me empenhado, eu e meus homens, na tentativa de descobrir quem cometeu esse horrendo atentado contra seu marido, uma figura tão ilustre. Porém, sabe também que o assassino não deixou pistas, indícios, e que nenhuma pessoa que interrogamos tinha um motivo concreto para cometer tal ato. E...
- Por favor, continue, delegado Miranda.
E ele disse, quase distraído pelo decote de Rosaura:
- D. Rosaura, acontece que é inútil continuar essa busca. Não o acharemos nunca, entende? Nunca! – disse ele, fazendo um esforço enorme, pois estava humilhando-se diante de uma deusa.
Ela, então, se enfureceu:
- Quê? O que o senhor está me dizendo? Vai abandonar o caso? Abandonar o barco, é? Vai? Fala!
- Por favor, a senhora compreenda...
- Não compreendo nada! Só sei que o senhor e seus homens são um bando de incompetentes!
- D. Rosaura, não ia dizer nada, mas... a senhora nunca pensou em suicídio?
Aquela ideia lhe pareceu tão estapafúrdia que Rosaura fez um esforço sobre-humano para não explodir em gargalhadas, afinal, quem ia se esfaquear todo e depois disparar uma bala contra a própria cabeça? Porém, sentiu que deveria concordar com o homem.
Falou, sem mais uma gota de ódio no rosto:
- Ora, delegado Miranda... talvez o senhor tenha razão...
E continuou, evocando toda a indiferença do marido para com ela nos últimos tempos, suas reações estranhas, talvez estivesse abalado por uma tristeza irreversível.
- Acho que é até melhor parar com as investigações mesmo, delegado, já estava cansada de ter minha vida achincalhada pela imprensa todos os dias. Anuncie a sua decisão, sim? Envie uma nota especialmente para o jornal A Manhã, no Rio de Janeiro, assim me deixam sossegada.
E falou, parecendo mais sedutora do que nunca:
- Me desculpe por minha explosão, sei que o senhor se empenhou muito neste caso, o senhor e seus rapazes. Estava nervosa.
- Não tem problema, compreendo perfeitamente. Vou já para a delegacia escrever a nota ao jornal. Passar bem.
- Tchau, delegado.
Nisso, Valdeli chegava para acompanhar Miranda até a porta, quando Rosaura disse:
- Valdeli, acompanhe o delegado e aproveite e já passe no mercado da esquina para comprar umas verduras e frutas frescas, sim? Dessas que não temos na horta. E leve a Júlia com você. Vão agora, está bem?
- Sim senhora.
Assim que os três saíram Rosaura foi para seu quarto, a movimentação do dia lhe deixou cansada, e ainda estava melecada com a gosma de Leandro. Com a porta entreaberta retirou seus sapatos, as meias e o vestido, ficando só com a combinação preta que tanto gostava. Soltou os cabelos, numa pose solitária de estrela holywoodiana, em movimentos graciosos e lentos, com a certeza de quem tem uma vida toda a sua espera. Não resistiu ao espelho, que refletia sua belíssima imagem. E assim, sorrindo e se admirando, notou pelo espelho que havia alguém parado na porta lhe espiando, com olhos vorazes e famintos, um olhar de homem. Era João.
- Ahhhhhhh!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário