No capítulo
anterior...
Ofendida com a
observação, a criadinha segurou João pela nuca e o beijou como uma vagabunda. O
homem ficou sem ar. Alucinado, ele a levou ao quartinho e jogou-a na cama,
arredou a combinação da criadinha para a lateral e, sem tirá-la, deflorou-a sem
piedade alguma.
João saía do quarto
da menina quando ouviu um barulho vindo da sala de visitas. Devagar
aproximou-se, colado à parede, em busca do ruído estranho. Foi então que viu,
descendo as escadas, Leandro, o jovem médico. Rosaura vinha logo atrás,
nervosa, na certa com medo de ser descoberta. Levou o rapaz até a porta, olhou
para os lados e deu-lhe um beijo na boca, na boca, na boca! Um beijo de
amantes, de prostituta, de mulher que não presta. “Eu sabia, sabia!”, pensou
João, hirto de ódio, babando com o fato de não ser ele o homem que Rosaura
levava até a porta, às escondidas.
Mesmo tendo
sido tão fiel ao patrão, de guardar enorme estima por Dr. Abílio, o fato era
que João sempre, sempre fora completamente louco por Rosaura. Desde que ele a
vira pela primeira vez, ainda uma moça, no começo do namoro com Dr. Abílio.
Muitas horas de sua vida gastou saciando-se sozinho em seu quartinho,
imaginando estar com Rosaura, tocando suas pernas, beijando sua boca e lambendo
o seu sexo. Imaginava a cena em cada detalhe: seu corpo sendo jogado na parede,
depois na cama, onde bebia o seu suco da luxúria. Rosaura iria gritar “Me come,
desgraçado, me come!”. Às vezes, tinha fantasias onde pegava a patroa à força,
e lhe arrebentava contra a sua vontade. “É o que eu vou fazer, ah se vou, vou
mesmo!”, pensou ele, enquanto a mulher fechava a porta. Então, como se nada
tivesse acontecido, Rosaura sentou-se no sofá, pegou a revista O Cruzeiro e
permaneceu ali por toda a tarde, inocente como ele sabia que não era, bancando
uma frívola e fútil dama da sociedade, ela, uma desgraçada, a mulher que tirou
a vida do marido, agora João tinha certeza. Diante do sangue frio da mulher, só
uma coisa pôde lhe correr a mente:
- Vagabunda...
Voltou para a
cozinha transtornado. Valdeli, a cozinheira, que voltava da horta, arregalou
seus olhos, assustadíssima, nunca o vira com aquela expressão que precede a
desgraça estampada nos olhos.
Ela perguntou:
- Misericórdia,
o que te aconteceu, homem?
E ele, babando, como um bicho raivoso:
- Me deixa mulher, me deixa! – disse, retirando-se.
Nisso, a criadinha saía do quarto, já
recomposta, com uma expressão totalmente diferente em seus olhos e corpo, o que
fez Valdeli perceber na hora que ela já era uma mulher.
- Mas o que tu
foi fazer, menina? Não sabe que perdeu o seu bem mais precioso? Com quem
trepou? Que homem há de se casar contigo agora?
Com o rosto
lívido pela felicidade, respondeu:
- O mesmo homem
que me fez mulher, ora essa! Quem mais poderia ser, heim Val? Que tipo de
mulher acha que eu sou?
E saiu,
cantarolando e rebolando o quadril, dona de si. Então, um vento correu os
pensamentos de Valdeli, e só um homem lhe pareceu capaz de deflorar a menina:
- João...
Seus
pensamentos foram interrompidos quando a campainha tocou. Como a deflorada
estava na rua, Valdeli largou o avental e foi atender a porta. Era o delgado
Miranda. Até mesmo Valdeli sempre achara aquele homem um incapaz, um
atrapalhado, afinal, não conseguira um mínimo indício que pudesse levar ao
culpado.
Ele disse, com
um eterno e abobalhado ar de tristeza:
- D. Rosaura
Albuquerque se encontra?
- Sim senhor,
mas espere aqui no hall que vou ver se ela pode atender.
Rosaura ainda
estava sentada no sofá, com a revista O Cruzeiro, mas seu pensamento estava em Leandro. Sentia
uma felicidade excessiva e, de vez em quando, culpava-se por tamanha
felicidade, mas principalmente, por trair a memória do marido, o qual nem
esfriara direito em sua sepultura. Foi interrompida por uma voz longínqua, que
se fazia mais forte:
- D. Rosaura...
D.
Rosaura... D. Rosaura!
- Quê?
- Estava
chamando a senhora há horas... É que o delegado está aí, e quer falar com a
senhora.
Pensou um
pouco, largou a revista, ajeitou-s no sofá e disse:
- Está bem,
mande-o entrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário