segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Médico e a Mulher Infeliz: Capítulo 16




No capítulo anterior...

João sentiu uma emoção tão grande, que um arrepio de felicidade lhe estremeceu o corpo inteiro, chegando às suas mãos, vacilando na firmeza com que agarrara a mulher segundos antes. Estava tão feliz por ter em seus braços a mulher que amou e desejou que um sentimento quase infantil lhe assaltou os sentidos.

Capítulo 16
- Quer saber de uma coisa, João? Você sempre teve razão, quando desconfiava de mim. Eu fui sim a responsável, fui, fui eu! E não me arrependo de nada!

Eis o que aconteceu:

Desde que se casou com Dr. Abílio, um casamento que fora, na verdade, por conveniência, Rosaura era infeliz. Não amava o marido o suficiente para superar a sua falta de ternura. Dr. Abílio era rude, grosseiro, lhe destratava sem motivos, na frente de quem quer que fosse. Sentia-se a pior das criaturas, mesmo sendo tão rica. Então, no dia em que o marido resolveu abrir uma nova clínica, chamou para um jantar o seu sócio, Dr.Alberto. Rosaura ficou encantada com o homem, e não muito tempo depois, já era sua amante. Com ele sentia-se mulher de verdade. Num dos encontros habituais em horários alternados, Dr. Alberto falou:
- O seu marido tem muito dinheiro, não é? Muito poder...
Ela disse, tonta com a pergunta:
- Si-sim, tem... muito, Abílio é milionário.
- E ele te trata muito mal, não é? Como você merece não trata, não mesmo. E eu não queria te dizer mas, às vezes, ele sai com outras mulheres. Sai mesmo. Morenas, louras, ruivas, chinesas, todo o tipo.
E ela, revoltada:
- Quê? Não, impossível! Aquele canalha, canalha!!
- E se você se vingasse disso? Eu posso te ajudar.
Então, propôs o seu audacioso plano. Para conseguir extorquir primeiramente dinheiro de Dr. Abílio, que era o seu único objetivo, Dr. Alberto propôs criar um flagrante de adultério para chantageá-lo.
- Mas... como?
Dr. Alberto explicou. Eles iriam contratar uma mulher, uma jovem e bela mulher, para trabalhar na clínica. Ela teria a missão de seduzir Dr. Abílio. Iriam, a seguir, contratar um detetive para fotografar o casal em ação. Assim, numa tarde qualquer, pouco antes da morte de Dr. Abílio, Nina, a mulher contratada, o convenceu a fazer um passeio no final da tarde, de carro.
- Mas Nina... por que isso agora? Um passeio? Sabe que a gente não pode se expôr!
- Ah, Abilinho, vamos... queria tanto, tanto!
- Tudo bem.
E se foram a passear pelas ruas de Porto Alegre. Pouco depois estacionaram às margens do Rio Guaíba, para ver o pôr-do-sol. A tarde estava linda. Contra a vontade de Dr. Abílio, Nina o beijava, beijava fervorosamente, deixando-o quase sem ar. Enquanto isso, do outro lado da rua, de dentro de um automóvel escuro, estava Eriberto Duarte, detetive particular, contratado por Dr. Alberto para armar o flagrante. Ele passou muito tempo só fotografando os dois, e àquelas fotos, juntou outras provas, essas forjadas, e montou o chamado dossiê da traição, organizado dentro de uma pasta preta. Um dia antes do crime, Nina estava com a pasta na clínica. Naquele dia estava indisposta, sentindo-se enjoada (mais tarde descobriria estar grávida do açougueiro), e precisou ir ao banheiro vomitar, repentinamente. Nesse intervalo de tempo, Dr. Abílio, que fora pedir para Nina datilografar uma carta, viu a pasta sobre a mesa. Por uma fortíssima intuição, pegou a pasta e a abriu, horrorizando-se com o conteúdo. “Meu Deus... mas como?”. Dr Abílio, em nenhum momento, desconfiou que se tratava de armação. Achou que alguém deveria ter enviado, como uma ameaça, então pegou a pasta e foi para casa, deixando para trás sua agenda de clientes. Nina, que saía do banheiro no momento, nem tivera tempo de deter Dr. Abílio. Ficou horrorizada. Foi para a sala do Dr. Alberto e falou, desesperada:
- Ele pegou a pasta! Ele pegou a pasta! Estraguei tudo, tudo!
A moça ficou tão fora de si que Dr. Alberto teve que esbofetear sua cara três vezes para que voltasse ao normal. Depois, falou:
- Nina, preste atenção, ouça: você vai dar um jeito. Amanhã fale com ele. Se ele extraviar ou esconder, estamos perdidos, pois ele nunca mais sairá com você em público, e não teremos mais o flagrante.
Quando Dr Abílio chegou em casa estava estranho, mal falou com a esposa. Era sexta-feira. Foi para seu escritório e chorou de tristeza. Pensou em destruir a pasta, mas talvez pudesse descobrir alguma pista sobre quem a deixara no consultório. Ele iria levá-la para o trabalho no dia seguinte, mas, por precaução a lacrou, caso a esposa mexesse no material.

Continua...

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