Capitulo 18
Diante daquela
confissão, João não podia acreditar em tudo o que ouvira. Rosaura era, de fato,
uma mostra. Uma monstra capaz de tudo. E sentiu que precisava se defender, dar
um jeito naquela mulher, acabar com sua vida, pois percebeu, por meio de um
vento gelado que lhe soprou na cara, que estava diante da morte. Foi então que
aconteceu, para sua surpresa:
- Não se mexa,
seu safado! – Gritou Rosaura.
Então, Rosaura
sacou uma arma de dentro da bolsa, que estava sobre a penteadeira, e disparou
um tiro na face de João. Antes de morrer, agonizando, ele ainda teve tempo de
balbuciar:
- Vagabunda...
E nos segundos
que lhe restaram, lembrou-se dos últimos momentos de sua vida. Pensou na
criadinha, a menina que deflorara horas antes, e sentiu um amor incondicional
pela menina. Se não estivesse morrendo, talvez pudesse amar e ser amado por
ela.
Nesse momento,
Dr. Alberto entrava no quarto, e se horrorizou com a cena.
- Mas que é
isso? Que é isso? – perguntou ele, tonto, desesperado – O que você fez?
E ela falou,
ainda seminua, rouca de tanto falar, após explicar toda a história para João:
- Fiz num
ímpeto, num reflexo, mas não estou arrependida! João podia representar um grande
problema!
Subitamente
louca, disse, ainda:
- E agora,
Alberto, o que faço? O que faço? – gritou ela, jogando a arma no chão.
Foi então que,
inesperadamente, Júlia, a criadinha, a menina que fora rasgada por dentro,
entrou no quarto e viu o corpo. Ela sentiu um aperto no peito enquanto comprava
as verduras, e resolveu voltar antes de Valdeli. No quarto, chorando ao ver o
corpo de João estirado, e a cabeça feito um chafariz de sangue, gritou:
- Você matou
ele, sua vagabunda, você matou ele!
Sem dar tempo
para Rosaura responder, a criadinha pegou a arma que estava no chão e se
preparou para acabar com a vida de Rosaura. Então, soltando um grito, Dr.
Alberto jogou-se na frente do corpo da viúva, exatamente na trajetória da bala,
e o tiro acertou em cheio seu peito. Morreu na hora. A menina, assustada,
deixou a arma no chão e fugiu, desesperada. Mais desesperada ainda ficou
Rosaura, sozinha, nua, sobre um rio de sangue, sangue contaminado pela marca da
maldade. Seu corpo estava todo respingado do sangue que explodira do amante,
quem a visse acharia que estava ferida gravemente. Chorou umas lágrimas típicas
de louca, num pranto mudo, onde somente seus ombros se chacoalhavam. Então, de
repente, parou de chorar. Esfregou o rosto, que ficara manchado de sangue, e
respirou fundo. Então falou, na presença de dois mortos:
- Foda-se...
Foi ao banheiro
e tomou um banho de banheira demorado, tingindo a porcelana de vermelho. Vermelho
do sangue do amante. Lá fora o cheiro de morto abundava, num odor cítrico e apressado.
Do lado de fora da casa o mundo parecia alheio, como se aquela tarde não
tivesse existido, e a noite tingia o céu de um tom acinzentado. Ao redor da lua
um círculo vermelho, vermelho de sangue. Mas não era o dos dois defuntos.
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