quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Médico e a Mulher Infeliz: Capítulo 18




Capitulo 18

Diante daquela confissão, João não podia acreditar em tudo o que ouvira. Rosaura era, de fato, uma mostra. Uma monstra capaz de tudo. E sentiu que precisava se defender, dar um jeito naquela mulher, acabar com sua vida, pois percebeu, por meio de um vento gelado que lhe soprou na cara, que estava diante da morte. Foi então que aconteceu, para sua surpresa:
- Não se mexa, seu safado! – Gritou Rosaura.
Então, Rosaura sacou uma arma de dentro da bolsa, que estava sobre a penteadeira, e disparou um tiro na face de João. Antes de morrer, agonizando, ele ainda teve tempo de balbuciar:
- Vagabunda...
E nos segundos que lhe restaram, lembrou-se dos últimos momentos de sua vida. Pensou na criadinha, a menina que deflorara horas antes, e sentiu um amor incondicional pela menina. Se não estivesse morrendo, talvez pudesse amar e ser amado por ela.
Nesse momento, Dr. Alberto entrava no quarto, e se horrorizou com a cena.
- Mas que é isso? Que é isso? – perguntou ele, tonto, desesperado – O que você fez?
E ela falou, ainda seminua, rouca de tanto falar, após explicar toda a história para João:
- Fiz num ímpeto, num reflexo, mas não estou arrependida! João podia representar um grande problema!
Subitamente louca, disse, ainda:
- E agora, Alberto, o que faço? O que faço? – gritou ela, jogando a arma no chão.
Foi então que, inesperadamente, Júlia, a criadinha, a menina que fora rasgada por dentro, entrou no quarto e viu o corpo. Ela sentiu um aperto no peito enquanto comprava as verduras, e resolveu voltar antes de Valdeli. No quarto, chorando ao ver o corpo de João estirado, e a cabeça feito um chafariz de sangue, gritou:
- Você matou ele, sua vagabunda, você matou ele!
Sem dar tempo para Rosaura responder, a criadinha pegou a arma que estava no chão e se preparou para acabar com a vida de Rosaura. Então, soltando um grito, Dr. Alberto jogou-se na frente do corpo da viúva, exatamente na trajetória da bala, e o tiro acertou em cheio seu peito. Morreu na hora. A menina, assustada, deixou a arma no chão e fugiu, desesperada. Mais desesperada ainda ficou Rosaura, sozinha, nua, sobre um rio de sangue, sangue contaminado pela marca da maldade. Seu corpo estava todo respingado do sangue que explodira do amante, quem a visse acharia que estava ferida gravemente. Chorou umas lágrimas típicas de louca, num pranto mudo, onde somente seus ombros se chacoalhavam. Então, de repente, parou de chorar. Esfregou o rosto, que ficara manchado de sangue, e respirou fundo. Então falou, na presença de dois mortos:
- Foda-se...
Foi ao banheiro e tomou um banho de banheira demorado, tingindo a porcelana de vermelho. Vermelho do sangue do amante. Lá fora o cheiro de morto abundava, num odor cítrico e apressado. Do lado de fora da casa o mundo parecia alheio, como se aquela tarde não tivesse existido, e a noite tingia o céu de um tom acinzentado. Ao redor da lua um círculo vermelho, vermelho de sangue. Mas não era o dos dois defuntos.

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