quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Médico e a Mulher Infeliz: Capítulo 9




Nos capítulos anteriores...
Então Rodolfo viu, sobre a maca, Nina cavalgando sobre o colo de Dr. Abílio, sem a parte de cima de sua combinação, com a saia arreganhada e amontoada no seu tronco.
***
Sem poder resistir, Rosaura deixou-se beijar, como se fosse uma cadela no cio que não pode negar o sexo ao cachorro desesperado e tomado por seu instinto...


Capítulo 9

Nesse momento, Dr. Alberto, que estivera sumido por alguns instantes, entrou na capela. Estava perturbado, nervoso. De repente, chorou algumas lágrimas, silenciosas, mas podia vê-las escorrendo face abaixo. Rosaura sentiu pena do homem, eram muito amigos. Foi confortá-lo:
- Alberto, acalme-se... eu sei que é difícil, mas precisa ser forte... Ele era seu amigo, eu sei... Vamos nos conformar...
Dr. Alberto não dizia nada, ao contrário, chorava mais e mais. As pessoas já estavam olhando, atraídos pelo som que agora emitia o seu pranto. Então, ele foi para a rua, precisava vomitar. Nina, que estava ao lado do caixão, observou Dr. Alberto saindo em silêncio. Séria, emergiu-se em pensamentos.

Naquela tarde, ela estava arquivando umas fichas quando o Dr. Abílio chamou-a em sua sala. Fazia pouco tempo que Rosaura tinha lhe entregado a pasta preta. Ela foi, desconcertada, pois não tinha acabado de fazer um serviço qualquer. Mas não era por isso que ele havia chamado-a.
- Pois não? – falou ela, sem jeito.
Sem muitas palavras, Dr. Abílio agarrou-a pelas nádegas e tratou de arrancar sua blusa e a parte de cima de sua combinação. A calcinha foi apenas afastada para o lado, enquanto que a saia ficara amontoada no tronco da mulher. Transaram por cerca de dez minutos, sobre a maca.

Nina voltou à si, quando uns parentes do falecido se aproximaram para ver o corpo. De repente, sentiu um tremor que percorreu toda a sua espinha dorsal, algo parecido com o sentimento de culpa, e precisou pegar um pouco de ar.
Enquanto isso, Rosaura se consumia numa tentativa desesperada de tentar imaginar quem poderia ter feito uma coisa daquelas. Olhava todas as pessoas à sua volta, o assassino poderia estar entre eles. Diante dessa possibilidade, Rosaura quase desfaleceu de pavor. Hirta de medo, começou a olhar um por um todos os presentes. A capela estava cheia, e o calor quase insuportável por causa dos círios que ardiam. Viu Dr. Alberto, mas esse era amicíssimo de Dr. Abílio, não, não. Viu, também, a Dra. Elisabeth, essa quase nem conhecia, mas sua figura apática não lhe despertou desconfiança alguma. Tinha muitos parentes que nem conhecia, amigos, a maioria anônimos para ela. Seria difícil tentar reconhecer um insensível assassino naquela multidão. Percorrendo as pessoas deu de cara com João, com o seu olhar frio e inquisidor. Sentiu uma sensação ruim, pesada, quase palpável. O motorista lhe observava como um louco, um mostro, alguém que a repudiava de todas as maneiras, alguém que podia cometer os atos mais vis contra sua pessoa. Então, um pensamento lhe ocorreu: “Será que... será que João deu cabo da vida de meu marido?”, mas logo desfez a ideia, aquele homem era fiel demais ao seu patrão. E retomou o seu posto de viúva ao lado do caixão.

Metido em seu eterno terno preto de chofer, João, em pé desde que chegara, só tinha olhos para a patroa. Não lhe saía da cabeça que era ela a culpada pela morte do próprio marido. Não sabia como, mas só podia ser ela. “Talvez ele tenha pego a mulher no flagra com o frangote e, temendo a humilhação, ela o matara”, supôs ele, enquanto ela conversava com o Dr. Alberto, que estava aos prantos. “Como pode ser tão falsa!”, resmungava para si. João trabalhava com a família de Dr. Abílio há muitos anos, desde que era apenas um rapaz. Tinha quinze anos quando viu Dr. Abílio nascer. Servira seus pais até pouco tempo, e depois servira Dr. Abílio e a esposa. Sempre achou estranho o fato de nunca terem filhos, afinal, os filhos perpetuam a família e unem os casais, pensava. “Vai ver a vagabunda é mesmo seca por dentro”, concluiu. O fato é que, até o dia em que foi colocada no carro, amparada pelo jovem médico, João não tinha certeza do que, até então, não queria acreditar ser possível: Rosaura era, de fato, uma grandessíssima vagabunda. Traiu o marido. Uma mulher não devia fazer isso, não devia, nunca, nunca. Mas ela fez, e agora chorava com a cara mais deslavada. Mas só quando chegou, pois nem lágrima derramava mais.
- Vagabunda...
Mas não podia negar o quanto Rosaura era bonita. Linda, até, com suas incomparáveis pernas. “Ah, Rosaura, Rosaura...” gemeu ele, e uma espécie de força cresceu dentro de si, um arrepio quente, um calor, mas não o calor da capela, era um outro calor. Aquela energia se convertia, lentamente, no mais puro e forte tesão animal. Olhando Rosaura, toda vagabunda, sob o flerte de Leandro, sua vontade era de ultrapassar as pessoas que choravam e conversavam e segurá-la pelos braços e deitá-la ali mesmo, na frente de todo mundo, diante do caixão, e arrombar suas entranhas genitais sem a menor pena, a seco, com toda a sua força cavalar. João, quase não suportando mais, tocou o próprio sexo, fato que passou desapercebido pelo montante de pessoas, mais preocupadas em comentar o assassinato e falar sobre o calor do que prestar atenção no motorista. Tocou, mexeu, roçou, até chegar ao clímax de um ato solitário, desesperado e sem volta. Suspirava, suspirava, suspirava, suando, cansado. Olhou para frente e a criadinha da casa o olhava com enormes olhos arregalados de estupefação, a única que percebeu o seu ato. João não deu a mínima, pois, na sua cabeça, havia a imagem de uma única mulher, e de seus lábios, um som baixinho dizia:
- Vagabunda...
A noite se desfez, cedendo lugar ao domingo como se véus de noiva caíssem do céu. O corpo já fedia, e ninguém entendia como o processo de decomposição podia ter começado tão rápido. O cortejo seguiu pelas ruelas de túmulos, passando por covas recém cobertas, coveiros sinistros e cachorros vira-latas penetras. Rosaura estava exausta, cansada mentalmente, e exasperada com a possibilidade de estar perto de um assassino. “Meu Deus, assim acabo louca!”, pensou, mas o que mais lhe incomodou foi o olhar de João, ainda assustador, maléfico, inquisidor. Sentiu-se uma bruxa perseguida, condenada, preste a ser enforcada. Os pais de Dr. Abílio choravam compulsivamente, e ela continuava sem lágrimas, porém com o rosto lívido. Deveriam estar comentando sobre sua passividade diante do último ato, o adeus final, a despedida. Mas ela não pensava em nada disso, pensava em Leandro. O rapaz ficara a noite inteira na capela, suando em bicas dentro de seu traje escuro, contemplando-a, desejando-a, e ela, mesmo que fosse um ato profano, desejando-o também. Dali para diante, teria três grandes problemas: o seu amor por Leandro, a identidade não descoberta do assassino e o olhar desconfiado de João, o motorista. Então, Rosaura percebeu que estava sozinha. Enquanto o caixão era acomodado na sepultura, e as últimas pás de terra selavam o destino do marido, e depois o cimento lacrando a tampa para todo o sempre, Rosaura, enfim, caiu num pranto silencioso, que lhe fazia arquear os ombros. Era o que os fofoqueiros precisavam para encará-la como uma viúva normal, pois não derramara uma lágrima por toda a noite. Então, foi amparada pelos sogros até a saída, enquanto um vento frio varria os túmulos e causava uma sensação mórbida em cada um dos presentes naquela despedida da vida.

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