Tina estava em casa. Parada
na frente do espelho virava-se de lado, como se sua barriga tivesse crescido.
Quando soube do resultado do exame de farmácia ficou apavorada, mas depois, até
um pouco feliz. Rafael também.
Só que o resultado estava
errado.
Sentiu-se aliviada, pois
ainda era maluca demais para ter uma criança. “O que eu ia ensinar para esse
bebê? A dançar pelado enquanto pensa nos problemas da vida?”
Porém, no fundo, a ideia não
lhe soava tão má. Mas bola pra frente.
Rafael, no entanto, andava
esquisito. Tina percebeu que ele havia curtido a ideia de ser pai muito mais do
que ela de ser mãe. O clima ruim havia afetado até sua vida sexual, desde que
contou para ele.
“Estou louca com isso!”,
lamentava para si mesma, todos os dias.
*Notificação do whatsapp*
Era uma mensagem de Bia no
grupinho.
Bia: Oi Tina! Marcela me
contou sobre o exame.
Bia: Sinto muito :(
Tina: Obrigado querida! Mas
tudo bem.
Tina: No fundo foi melhor ter
sido engano, eu acho.
Tina: Não sei se a hora seria
a melhor.
Tina: Porém Rafael está
abalado, não sei o que faço, nem transar ele tem demonstrado vontade.
Marcela: Eita! Dá um tempo
pra ele, vai passar.
Tina: Assim espero. Bom
gente, vou fazer umas coisas, porque marquei de almoçar com ele mais tarde.
Bia: Bjos, se cuide!
Marcela: =*
Bia imaginou Tina sendo mãe.
Certamente faria um álbum de fotos constrangedoras no primeiro aninho e
marcaria todas as amigas, como fazia nas festas.
Mas mesmo louca, achava que
Tina seria uma mãe das boas. Só não sabia explicar como. Enquanto isso, olhou
novamente a mensagem do menino no Tinder.
“Meu deus, mas é tão jovem”,
falou pra si mesma, olhando aquela foto no perfil.
Mas foda-se.
E enquanto o ônibus não
avançava naquela avenida congestionada, Bia escreveu:
“Olá, tudo bem, e com você?
Obrigado pelo elogio.”
*Enviar*
Pronto.
Sentiu-se errando o jogo e
tendo que voltar diversas casas no tabuleiro, mas tudo bem, melhor assim. Uma
hora qualquer iria avançar algumas casas.
***
Marcela também andava votando
algumas casas no seu jogo de tabuleiro.
Marcela também voltou a usar
o Tinder.
Se achava um pouco ridícula
às vezes, talvez um pouco velha demais para essas coisas. Na verdade, vinha
pensando muito sobre envelhecer. Marcela não estava em crise de idade, mas
repensando as coisas que tinha feito e o que ainda queria fazer.
Tinha sim um pouco de medo
dos impactos na sua pele, no seu organismo. De não poder dançar como gostava ou
de correr pra fugir de algum assalto. Queria mesmo é envelhecer tendo a
inteligência e sabedoria adquirida com os anos, mas com a mesma disposição de
quando era jovem. Só que não era possível. Mas tinha mais medo de não conseguir
fazer ao menos 50% do que tinha vontade.
“E não fiz muita coisa
ainda”, pensou.
Por isso, despiu-se de seus
conceitos e abriu o Tinder.
E entre tantos corações não
correspondidos e alguns X, veio um match. E ao que tudo indicava, um turista
estrangeiro.
***
Naquele dia, Bia e Marcela
jogaram os dados que tinham. O erro poderia ser certo, mas no fundo, elas
também contavam com um pouco de sorte.
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