sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Amores WI-FI - Temporada 4 Episódio 5: Até breve / Até nunca mais







Durante a manhã Marcela mal conseguiu se concentrar no trabalho. Só pensava no date com o moço que não sabia pronunciar o nome de forma correta.

Não estava se sentindo muito atrativa, mas foda-se, pensou, pra feia não servia de jeito nenhum. Enviou uma mensagem para o whatsapp do rapaz e combinou de encontrá-lo na frente do hotel.

Lembrou do café onde conheceu Márcio. Por um momento achou que poderia não ser um bom sinal, mas que bobagem, era só um local parecido. Além do mais, no mesmo dia o estrangeiro iria viajar para outro lugar, e depois retornar para casa. Não teria tempo de se decepcionar.

O tempo corria e Marcela ainda não havia conseguido se concentrar em alguma coisa. Chegou a ficar preocupada com uma possível desistência do rapaz.

“Meu deus estou desesperada, não preciso disso!”, pensou, mas quis dizer isso em voz alta na frente do espelho, talvez tivesse mais efeito. Porém não disse nada.

Na hora do almoço quase vomitou a comida.

Não apenas pelo nervosismo, mas porque ele estava em silêncio. Não dizia mais nem que sim nem que não. Sentiu-se aquelas personagens loucas ciumentas de novela.

*Notiticação do whatsapp*

“PUTA QUE PARIU É ELE!”. Pensou isso num misto de euforia e desespero. Sentiu um ronco no estômago, daqueles que precedem uma diarreia. Mas não teve diarreia. Porém poderia ter tido, se não respirasse fundo e se controlasse.

Pegou a bolsinha de mão e saiu. Achou que iria parecer mais descolada com uma bolsinha de mão.

Deu a volta na quadra pensando em alguma frase para dizer, e reafirmando para si mesma que precisava falar de forma pausada, sem gírias nem nada, para que ele pudesse entender com seu português fraco.

Estava tão nervosa que não conseguia enxergar a numeração das casas e prédios. Tanto que passou reto pelo hotelzinho. Quando estava voltando, avistou ele na calçada, em frente ao endereço.

“Espero que não tenha me visto passando reto”, pensou ela.
A boca de Marcela tremia de vergonha, ansiedade... porque, de perto, ele era ainda mais bonito. E sentiu-se tola por deixar que beleza se tornasse uma característica intimidadora. Mas era assim que estava se sentindo.

Ela lhe deu um abraço. Marcela disse:

- OLÁ, TU-DO BEM?

Percebeu que falou muito alto. Ele poderia não ser fluente em português, mas também não era surdo.

- Tudo bem, e você?

Sentiu-se ridícula ao perceber que ele falava português bem direitinho.

- Vamos então tomar um café? Tem um lugar muito bonito aqui perto. Já almoçou?

- Si si, já almocei.

E caminharam na direção do lugar. Enquanto caminhavam, Marcela pensou, abolindo toda a sua racionalidade: “se você morasse perto, eu namoraria com você”.


***


Enquanto isso, Bia também se preparava para um date. O seu encontro do final de semana fora antecipado para um café pós-almoço, igual ao de Marcela. Era com o jovem do Tinder.

Estava levemente atrasada. Marcaram num lugar que lembrava a série Friends.

Ela chegou, ele já estava sentado no sofá.

Aqueles rituais: abraço, reclamação do calor, um “que bom que você veio”, etc. O menino era mesmo uma graça, vestia uma camisa listrada em tons de azul. Bia observava tudo atenta, serviria para um relatório mental a ser feito mais tarde.

Enquanto a conversa fluía pediu um expressinho, apesar do calor. O outro olho espiava o relógio, não podia perder a hora de voltar para o trabalho.


***


Do outro lado da cidade Marcela bebericava o café. Também com calor. E ainda envergonhada.

Ele era um doce de rapaz. Contou que morava em Roma, que a família era dona de um pequeno hotel. Estava viajando pela América do Sul há algumas semanas, e que depois do Brasil, retornaria para casa.

Ele perguntou se já havia viajado para outros países, e Marcela respondeu que não, mas que iria nas suas próximas férias.

Provavelmente não.

Sentiu-se diminuída, uma sensação parecida quando Ícaro perguntou quais eram os seus sonhos. Um era príncipe passageiro, o outro príncipe relâmpago, mas ambos pareciam de fato ter asas.

“Queria ter asas também”.

Sentiu vontade de beijá-lo. De segurar a sua mão. De fazer alguma coisa com ele. Mas não queria ser indelicada, invasiva, ou melhor dizendo: DESESPERADA.

Evitou olhar o relógio o quanto pôde, mas precisava voltar ao trabalho. E sabia que ele também precisava voltar para o hotel. Logo mais iria embarcar para outro destino.

Pagaram o café e ela o acompanhou no caminho de volta para o hotel.


***


Bia também se despedia do garoto. Fora uma longa conversa, que revelou muitas coisas em comum.

Ele a acompanhou até o ponto de táxi, cheio de gentilezas.

Ficaram se olhando, mas ela queria mesmo era beijar o garoto.


***


Marcela e o moço italiano chegaram na frente do hotel. Ela o abraçou, desejou boa viagem, e pediu que se cuidasse. Na volta, olhos cruzados.


***


Antes de Bia entrar no taxi ganhou um beijo. Rápido, mas um ótimo beijo. Se estivesse em um filme, levantaria a perninha pra trás.

Entrou no táxi e o viu se afastando.

“Até breve”.


***


Marcela deu um beijo rápido no italiano. Ele correspondeu. E foi um beijo lindo. A rua, cheia de árvores, construiu um cenário irreal demais, porém delicioso.

Despediu-se e disse, mentalmente:



“Até nunca mais”.  

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