sexta-feira, 3 de julho de 2015

Interconexões no Elevador





- Sobe? Qual seu andar?
- Terceiro, obrigado.
- Não por isso.
*subindo*
- Tenha uma boa tarde.
- Obrigado, boa tarde.

***

- Oi, como vai?
- Vou bem!
- Hora de ir embora.
- Pois é!
- Claro que choveria justo na hora de sair.
- Sim!!
- Mas amanhã vai fazer sol.
- Verdade. A moça do tempo falou.
- Boa noite, até amanhã!
- Até!

***

- Aqui não é o térreo, é o terceiro andar.
- Ai que coisa, parou, abriu e achei que já tinha chegado!
- Haha pois é! Acontece.

***

- Esse cachorro morde?
- Não não, é manso.
- Queria ter um, mas passo muito tempo fora.
- Ah sim. Tem que ter alguém que cuide nesse período, então.
- Pois é. Um bom dia!
- Bom dia.

***

- Desce?
- Sim.
- ...
- ...

***

- Amiga, quanto tempo, que saudade!
- Moro no andar de cima, sabe onde me achar.
- Grossa.

***

*CLUNC*
- Meu deus, que foi isso?
- O elevador parou.
- Isso eu sei, mas o que aconteceu?
- Como vou saber?
- Ai não posso com isso, tenho claustrofobia.
- Não vomita, tenho nojo.
- Não vou. Tô ficando sem ar, ajuda!
- Ajudar como?
- Não sei, faz algo!
- SOCORRO!
- Se for pra gritar eu grito.
- Mas você tá sem ar!
- Ainda não fiquei!
- Calma. Vou usar o interfone. Está mudo.
- Vô morre...
- Não vai.
- Como você sabe?
- Li todos os horóscopos hoje, e não tinha morte pra ninguém.
- Não acredito nessas coisas.
- Vai que né?
- Tá ficando tudo escuro. Vou desmaiar, me segura.
- É que a luz apagou.
- ...
*CLUNC*
- Voltou! Levanta, você não vai morrer.
- Parece que não, graças a Deus.
- Quer sair um dia desses?
- Topo.

***

Entrou no elevador, levantou a camiseta e fez várias selfies para postar no Instagram. Pela câmera de segurança, alguém se masturbava.

***

A jovem entrou no elevador. A senhora que lá estava falou horrores, de doença e da vida. A jovem nada respondeu porque estava com fones de ouvido. Na verdade o aparelho estava desligado, mas fingiu estar ligado pra não precisar conversar.
- Tenha um bom dia! - disse a senhora quando a moça saiu. Que nada respondeu.
A senhora entrou no apartamento, sentou no sofá e morreu.

Tudo o que queria era que alguém lhe desejasse bom dia. Morreu com a sensação de que teria um péssimo dia.


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Ricardo Rodrigues
3/7/2015

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